14 agosto, 2012

Sistema econômico e ciência econômica

Querido diário:
Esta postagem baseia-se em uma folha (com um queimadinho de brasa de cigarro no canto inferior esquerdo) que tem -bem vividos- 25 ou 30 anos. Tenho a impressão que 100 milhões de brasileiros não viveram tanto. A folha não tem título mas provavelmente reflete aulas que ministrei numa disciplina efemeramente criada (mas parece fênix) sobre metodologia econômica. Claro que foi atrevimento meu ministrá-la, mas maior ainda foi dos alunos em receber as aulas com galhardia e até divertimento. Então digamos que se tratava de uma aula com o título de "A dualidade básica do termo 'economia': sistema e ciência". Claro que este título é de hoje e não de antanho. E foi a profa. Joice Zagna Valent que ajudou-me a preparar esta postagem, decifrando certos fragmentos do alfabeto que me falharam aos olhos. E o que farei é colocar três partes do arquivo escaneado e traduzi-las do melhor jeito que posso.
Por alguma intrigante razão, lá em cima diz: Do not scrap this sheet of paper (Ela possui no canto inferior esquerdo um queimadinho). Depois, há uma elipse oblonga interceptando um retângulo alargado. Na elipse, lê-se 'paradigmas' e 'que é' [um paradigma]. No retângulo, vê-se a palavra 'ciência'. Da interseção entre a elipse e o lado menor do retângulo, sai uma seta que leva 'teoria', outra que leva a 'modelo' e uma terceira a 'estrutura'. Na vertical, saímos de 'ciência' e 'paradigmas' e passamos a uma espécie de quadrado com 'doutrina' e outro com 'política'. Da 'teoria', além da seta que remete a 'modelo', há uma inclinada chegando às 'linguagens discursiva, gráfica e matemática', na linha do que andei aprendendo com o livro de matemática de Alpha Chiang.

Este conjunto de blocos (que bem dariam uma espinha de peixe) agrupa-se por meio de uma chave que leva ao retângulo 'economia', ou seja, a dualidade que poderia ter dado título à aula. Segue-se a uma seta uma elipse com 'definição de economia', cultivando um pouco mais a confusão, pois falarei em segundos, num retângulo de lados hachurados  em 'duas escolas', ou 'paradigmas', tornando-se cristalino que estamos falando da ciência econômica, ou até de duas ciências econômicas. Na primeira, lê-se 'funcionar o capitalismo', que remete ao 'paradigma alocativo' e 'ciência econômica'. No outro, escrevi três palavras, descontente que ia ficando com a primeira e mesmo com a segunda, e que não consigo decifrar. A terceira é 'superar o capitalismo' e leva a 'paradigma conflitivo' e 'economia política'. Claro que as influências são de Oskar Lange (publicados neste blog nos dias 20,  21, 22, 23, 27, 28 e 29) e Stephen T. Worland (aqui).

De natureza praticamente independente, segue-se outro bloco na mesma folha.
O centro de gravidade desta figura é a elipse com 'Sistema econômico & Modo de produção'. Duas elipses que se interceptam encontram-se disjuntas deste centro gravitacional. Na primeira, lê-se 'necessidades humanas', ao passo que na segunda, temos 'escassez' e uma notinha muito pessoal que poderá merecer outra/s postagem/ns: 'maximalistas, tempo, imortalidade'. Ligando estas duas elipses interrelacionadas com a do tal centro de gravidade, há outra também hachurada em que lemos: 'questões fundamentais da economia'. E, a seguir, uma elipse com uma reflexão, meio apagadinha, que será vista mais plenamente adiante. Na figura acima, ainda vemos um círculo em que estão escritos: 'questões que os filósofos econômicos queriam responder. Robinson & Eatwell, p.2'. Vejamos:
Texto à esquerda: por que funciona e prospera o capitalismo? pois ele usa como elemento endógeno de seu funcionamento (concorrência) a exigência de substituição de trabalho vivo por trabalho morto, o que fecha com o hedonismo'. E as questões de R&W:
.a. de onde vem a riqueza?
.b. existe algum princípio de valor subjacente aos preços que lhes explicam as variações erráticas?
.c. qual o papel do dinheiro numa economia?
.d. quais os contornos da justiça social?
.e. haverá sempre demanda efetiva para menter todos os recursose empregados?

Claro que muita água passou por debaixo da ponte desde então. Inclusive a internet, que viabilizou esta postagem.

DdAB
P. S.: A imagem bem lá de cima veio do Google Images e parece-me ser de 'fé pública'. Mas entra aqui como trocadilho da empresa (sistema econômico) e da teoria do valor (ciência econômica).

P. S. S.: Não podemos deixar de ler a postagem do Bípede Pensante sobre o extraordinariamente estonteante livro a que se chega clicando aqui.

4 comentários:

Bípede_Pensante disse...

Depois de ler isso tudo aqui, chego eu à estonteante conclusão de que vc nem precisava da minha ajuda para fazer o estonteante livro. Coisa de louco, hein...

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

oi, B.P.:
lógico que não! lógico que eu não poderia mexer no quadrado lógico. lógico que eu não sabia que a ciência não é indutiva nem dedutiva. lógico que eu não sabia quase nada. sinto-me hoje intelectualmente revigorado com a beleza do livro.
DdAB

Unknown disse...

Fico muito feliz com minha pequena contribuição nessa postagem. Na época em que essa aula foi feita, eu ainda era um bebezinho,nem imaginava que na minha jornada fosse encontrar uma pessoa prodigiosa como o Duilio. Joice

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

E agora, um ano e tanto depois deste doce e amável comentário da segunda professora, que digo? Digo que Lou Reed é que estava certo em apregoar: I love women!
DdAB