31 julho, 2012

Divertida ou Delirante

Querido Diário:

Em plena cobertura das Olimpíadas/2012 no Reino Unido, estupefato, li a seguinte nota na p.50 de Zero Hora de hoje:

190 Milhões de Secadores
Os argentinos, você sabe, levam o hóquei a sério. E se eles levam esse esporte a sério, derrota dos hermanos é motivo de alegria para nós, brasileiros. Foi o que aconteceu ontem. Na estreia da seleção masculina, a Argentina perdeu para os donos da casa por 4 a 1. Deus salve a Rainha.

Pensei que fosse mentira. Pensei ter feito milhares de erros de transcrição: os argentinos, você sabe, levam o hóquei a sério, o Brasil, destacado líder mundial na má distribuição da renda, não leva, aliás leva pouca coisa a sério, em matéria de esporte, em matéria de educação e em matéria de respeito aos direitos e à liberdade. Mas também pensei: os argentinos? todos? os 190 milhões, quase a totalidade dos brasileiros? É exemplo de piada? Mau jornalismo? Zero Herra na axiologia, na ética?

Poderia ser piada, não é? De fato, na p.54 li algo mais divertido, sob o esclarecedor título de 'piada do dia':

O sujeito sai do boteco já bem embalado e, por engano, entra na igrega bem na hora da missa. Fica no fundo, quieto, ouvindo o sermão. Em dado momento, o padre convoca:
-Quem quiser ir para o céu levanta a mão.
Todos os presentes levamtam a mão. Alguns, pelas dúvidas, levantam as duas. O bebum fica imóvel.
-E tu, meu bom fiel? Nâo queres também ir para o céu? - indaga o reverendo.
-Querer, eu quero, seu vigário. Mas só quando eu morrer. Nâo levantei a mão porque pensei que a excursão era para hoje.

A primeira diatribe bem assestada sobre o futebol que vi foi escrita por Umberto Eco e publicada em seu livro maravilhosamente maravilhoso "Viagem na Irrealidade Cotidiana". E quando confunde-se uma piada com uma peroração etnocentrista chegou o momento de persignarmo-nos, como brasileiros. Amo a Argentina, amo o Reino Unido, amo o Brasil, amo a cachaça e amo o bêbado.
DdAB
Imagem: aqui.

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