28 abril, 2012

Retransportização: montando a agenda


Querido diário:

Bem sabemos que existe um fetiche de natureza fisiocrática no Brasil aclamando o apoio governamental à indústria instalada dentro das fronteiras nacionais. "Dentro das fronteiras nacionais" quer dizer que aqui dentro tem pilhas de empresas estrangeiras e estas cada vez mais são saudadas por diferentes atores como sendo o que se dizia antigamente 'a salvação da lavoura'. Não se via que a lavoura, para ser salva mesmo, precisa de gente: tratoristas, laboratoristas, transportistas e tudo o mais.

É tão descalibrada esta peroração a favor da industrialização que não se ouve uma condenação importante ao mito de que haverá problemas seríssimos na previdência social, se a população tiver a ousadia de envelhecer, se a galera da meia-idade recusar-se a morrer com brevidade. O modelo alternativo consiste em cultivar políticas governamentais voltadas à produção de bens públicos e bens de mérito. Neste caso, inserem-se os serviços de educação e saúde. E também os de transportes.

Andei falando em retransportização (aqui), um neologismo bastante maneiro destinado a mostrar que a indústria pode ver a reboque da expansão na demanda final. De sua parte, esta deve ser orientada pelas necessidades da população, por contraste ao pensamento convencional e outro tanto heterodoxo (não confundir com o neo-heterodoxo). Teleologia: elevação do consumo per capita, alisando-o ao longo do tempo e reduzindo seu desvio padrão. Etiologia: políticas públicas endereçadas à produção de capital humano e social. Etologia: tínhamos que estudar o comportamento animalesco dos rapazes que querem indústria, por acharem que é nela que repousam os sistemas nacionais de inovação.

É evidente que, na retransportização, dever-se-á avaliar adequadamente a diferença entre o custo social e o custo privado na oferta de viagens (passageiros e cargas) ferroviárias. Não condeno, ao contrário, a tributação pesada sobre o transporte rodoviário! Além disto, deve-se calcular com precisão o preço do atual sistema de transportes nacional no que diz respeito às vidas humanas dos tripulantes dos veículos e dos transeuntes de todas as idades.

Estamos no primeiro dia de um feriadão. Vejamos o que dirão os jornais da próxima quarta-feira.

DdAB
Imagem daqui. Se bem entendi, trata-se de um trem fabricado no município de Barbalha.

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