07 março, 2012

Popper e os Mistérios da Indução (... e mais um)

querido diário:
há cerca de um ano, estava eu a reler o livro "Busca Inacabada; autobiografia intelectual", Lisboa: Esfera do Caos, de Karl Popper ("Unended quest", em inglês). reler? sim, pois o li numa edição brasileira, mas amei o título em inglês, pois não parece haver nada mais popperiano do que buscas inconclusas. é um belo livro de autobiografia intelectual, escrito em 1969. portanto 1994-1969= 25 anos antes de seu passamento, aos 92 anos de idade (tudo com matemática rala).

a famosa nota 243, da p.212 desta edição lisboeta tem uma sentença interessante para a reflexão de véspera do Dia Internacional da Mulher, e que transcrevo verbatim:

O que afirmo é que uma teoria bem-corroborada (que foi criticamente discutida e comparada com as suas competidoras, e que "sobreviveu" até agora) é racionalmente preferível a uma teoria menos bem-corroborada; e que (na falta de propormos uma nova teoria competidora) nada se nos oferece de melhor do que aceitá-la e agir sobre ela, embora saibamos muito bem que nos pode deixar em maus lençóis em alguns casos futuros.

até aí está tudo ipsis litteris. o que não citei e que vem antes e me deixou atônito é que ele fala que "[...] o problema da indução de Hume é um dos dois problemas fundamentais da teoria do conhecimento." claro que já fui indagando: e qual é o outro? e não pude responder. deixei por isto mesmo, pois li "Los Conceptos Elementales del Materialismo Histórico" e tampouco sei quais são.

mas, além do aprofundamento esotérico da sentença popperiana, temos pelo menos uma definição na linha do que sugeri em abcz. também temos -segundo aspecto- um elogio da escala ordinal de mensuração quando usadas para o grau de corroboração de teorias científicas. a teoria geocêntrica da natureza do universo é, por exemplo, melhor corroborada do que a teoria do crescimento do pão nos fogões a gás por osmose elíptica. esta última, que criei agora, precisa de muitas definições de termos antes de poder chegar a testes de corroboração. logo, a primeira é melhor, sob o ponto de vista, pois foi precisamente o que observei hoje: o sol nasceu ao lado esquerdo deste teclado, encontra-se agora sobre e ele, e passeia para um ocaso em seu lado direito. nota bene: não falei em teorias "rivais", como o faremos -Popper & myself- em seguida.

definição: corroborar uma teoria consiste em avaliá-la criticamente e compará-la com suas competidoras.

corolário: a teoria que sobrevive a esta avaliação crítica e comparação com as competidoras é preferível a outra que não alcançou estes dois estágios.
DdAB

2 comentários:

Bípede_Pensante disse...

Querido Professor,

que bela postagem em comemoração antecipada (?) ao dia internacional da mulher. Eu lembrei de outro dos problemas fundamentais da teoria do conhecimento, que foi explicitado pelo próprio Hume - aquele sabidão... É o da separação entre fatos e valores: do "ser" não pode advir o "dever ser", or something like that...

Feliz 08/03/2012 pra vc!

Brena.

P. S. E o Gil de fundo musical combinou maravilhosamente com o Popper e o Hume.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

oi, BP:
eu sabia: belas mulheres estão atentas ao belo dia.

e também eu sabia: a vigilância epistemológica não iria deixar passar sem registrar do segundo problema fundamental: o que é versus o que deve ser. houvesse uma ciência criada, digamos, pelas árvores ou pelas pedras, esta questão seria irrelevante, não é?

e quando os computadores com seus programas de inteligência artificial começaram a fazer ciência, será que algum dr. Silvana não vai encaçapar linhas de programa com proposições do tipo "deve ser"?
DdAB