18 março, 2012

Os Gansos, a Anistia e as Prioridades

querido diário:
domingo é dia de tratamento de temas leves, para quem tenta escrever em seu blog diariamente. há muitos que não postam durante o week-end, descansando, preparando-se para a lida da vida que inicia depois da meia-noite, horas depois. fora os que trabalham durante o fim-de-semana, como garçons e plantonistas.

nesta linha das fragilidades do dia feriado, vou falar sobre as novas arremetidas que alguns segmentos da sociedade brasileira têm feito, na tentativa de capitular nomes específicos de militares específicos envolvidos com os maus-tratos infligidos pela ditadura militar a seus desafetos. um destes casos, se bem entendi, foi protagonizado pelo cantor Wilson Simonal que, desiludido com o método de escrituração usado por seu contador, solicitou ajuda de um amigo militar, a fim de enquadrá-lo. ou seja, o militar enquadrar o contador. não vi o filme, que deve ser hagiográfico.

pois havia o coronel Curió. consta que a OAB invocou a seguinte frase de um dos ministros do supremo: "[...] o crime de sequestro tem caráter permanente, já que a vítima não apareceu." claro que o ministro inocentaria o goleiro Bruno, cuja noiva não apareceu. mas parece que o delegado de polícia do caso do goal-keeper não caiu nesta: não interessa a presença do cadáver para dar parte da morte. parece óbvio. li na insuspeita revista X-9 que um carinha (felizmente, nos EUA) matou um/a desafeto/a e fez picadinho do corpo, vendendo-o como ração para cães. neste caso, neguinho estaria inocente, já que a cachorrada teria limpado a evidência. claro que o ministro do supremo não estava em seu melhor dia. ou foi apenas um erro de datilografia.

mas tem uma frase interessante retirada da p.9 do jornal ZH que estou citando livremente. diz a ONU: "[... são considerados crimes contra a humanidade assassinatos, extermínios e todos atos desumanos cometidos contra a população civil por autoridades estatais." claro que comecei a pensar na Síria contemorânea, que colocou minas explosivas na fronteira para impedir os descontentes sem voice de exit, para falar a língua de Albert Hirshmann. esta visão é comovente: funcionário público não pode praticar atos desumanos. por isto é que os políticos deveriam fenecer na cadeia, no xilindró, no local de se ver o Sol nascer quadrado.

agora, vamos às amenidades dominicais: uma coisa é praticar um crime contra a humanidade. e outra bem diferente é os revanchistas quererem tumultuar a ordem institucional acuando toda a milicada, colocando-a na defensiva, oferecendo -com isto- excelentes oportunidades de desestabilização do governo. isto é, de alertar os gansos. parece que acreditam excessivamente na perenidade da conquista da democracia no Brasil. a questão é decidir, por exemplo, se é melhor dar atenção a esta questão de punir os réprobos ou salvar os indigentes, no caso, por exemplo, os meninos de rua. ou punir a galera que roubou as merendas das crianças de Sapucaia do Sul. lógico que não sou favorável à tortura: por isto mesmo é que acho que os governantes (incluindo organizações como a OAB) deveriam preocupar-se em começar fazendo justiça para as novas gerações, oferecendo-lhes possibilidades de praticarem a mobilidade social.
DdAB
imagem: abcz. não sei se quem escreveu isto é sensível (ou não) à tragédia desses meninos. parece-me que sim. parece-me a poesia vestida tanto de alegria quanto de tristeza. é triste saber que a casa deles não tem cortinado encobrindo céu de anil, mas há possibilidades de retorno, pois deixa-se claro que eles poderiam organizar-se e apagar a própria lua.

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