14 março, 2012

Falar no Diabo... Industrialização nos Sovietes

querido blog:
claro que não desejo que este título coloque-me no clube da galera que odiou os sovietes. eu não sei que dia passei a achar furado o experimento soviético, mas é certo que foi muito, muito depois de 1917. na linha evolucionária que me circunscreve, eu diria que houve um dia entre a ascenção e a queda em que esta última foi decretada. o stalinismo? o próprio leninismo? o que não nego é que o povo tinha o direito de revoltar-se ou apenas de engrossar as fileiras das linhas revoltosas. como hoje na Síria. acabo de ler que os governantes sírios encheram a fronteira do país com minas. parece Angola! parece que o governo mundial precisa instalar-se com urgência.

ok, ok. não era bem negócios africanos, asiáticos ou europeus que me chamariam a atenção hoje. mas, seja como for, vi uma entrevista do ministro da fazenda e estou com ele. não pode guerra cambial. comerciar com a China não é livre-comércio.

parece que, por aqui, foi só eu dar uma saída (passei a segunda-feira em Brasília) que o jornal se aproveitou de minha ausência e deu um golpe importante nas "reformas democráticas que conduzam ao socialismo". talvez nem tenha sido o jornal e talvez nem tenha sido na segunda-feira. ocorre que ontem, ao olhar esse exemplar, vi a manchete:

Do game ao frigorífico. Novo plano industrial do RS vai apoiar 22 setores. Pacote que será revelado dia 29 busca atrair pequenas e médias empresas inovadoras, reativar áreas tradicionais e seduzir investidores com alívio de impostos.

Gelei. Um jornal que vem do futuro, como a Carta Capital, que leio aos sábados ou domingos e ela existirá apenas na quarta-feira seguinte. tomei-me de paciência e fui olhar a matéria oferecida nas páginas 4-5.

não deu outra. é o planejamento governamental do governo Tarso Genro e de meu ex-colega de UFRGS, o prof. Mauro Knijnik, sempre tido naquelas paragens como um dos rapazes do grupo antagonista àquele do qual o prof. myself fazia parte. nem falemos em direita x esquerda.

pois o plano segue indicando os setores:

.1. indústria oceânica e polo naval
.2. reciclagem e despoluição
.3. carne bovina
.4. carne suína
.5. automotivo e implementos rodoviários
.6. máquinas e implementos agrícolas
.7. madeira, celulose e móveis
.8. energia eólica
.9. avicultura
10. leite e derivados
11. equipamentos para indústria de petróleo e gás
12. petroquímica, produtos de borracha e material plástico
13. biocombustíveis, etanol e biodiesel
14. semicondutores
15. saúde avançada e medicamentos
16. indústria da criatividade: audiovisual, moda, design, games, editoras
17. grãos (arroz)
18. grãos (soja e milho)
19. vitivinicultura
20. software
21. eletroeletrônica, automação e comunicações
22. calçados e artefatos.

eu, que tenho defendido o investimento em serviços, não posso deixar de sinalizar, com alegria, por exemplo, a indústria número 16. mas também ocorre-me que seria melhor gastar em educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, serviços judiciários, essas coisas manjadíssimas que tanto ferem o senso fisiocrático da rapaziada. explico de outro modo: o desperdício de recursos é o estado dar dinheiro para os produtores de, por exemplo, eletrônica, automação e comunicações e não para alunos, velhinhos, doentes, presidiários, e por aí vai. se gastassem, por exemplo, em cursos de formação de empresários (planos de negócios) para estes últimos (descontados os desvios para o sendeiro do mal), haveria, de qualquer modo, demanda por eletrônica, automação e comunicações. talvez não na escala desejada pelos dirigentes, mas eles ganhariam de quebra um povo mais empreendedor. no caso das crianças e velhinhos e doentes, mais ágeis na matemática, mais ágeis no salto da poça dágua e mais ágeis na recuperação. o parece faltar aos neo-fisiocratas é o conceito de demanda derivada, ou melhor, eles acham que os linkages da indústria são superiores aos linkages dos serviços. quero dizer ainda, se aumenta a demanda, digamos, por notebooks para as salas de aula, a demanda derivada se espraiará sobre a indústria de computadores. o reverso é que não é verdadeiro, como o provam os últimos 80 anos. pode produzir aço à vontade e ter-se-á a mesma plêiade de analfabetos, pois não se gastou em educação!

além do mais, que podemos dizer de um governo que talvez esteja criando "empregos" que ainda virão a destruir os empregos de outras plagas domésticas. se o inimigo fosse apenas o externo, ainda poderíamos declarar-lhes guerra. mas declarar guerra ao emprego de outras comunas do mesmo país é completo atropelo às leis do bom-senso. só posso dizer às autoridades: "bom-sense-se!"

para contrariar, mesmo não sendo exaustivo, pensei, por exemplo, e ao contrário, em:

Hotéis e similares
Outros tipos de alojamento não especificados anteriormente
Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas
Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas
Serviços ambulantes de alimentação
Serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada
Serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada

Educação infantil - creche
Educação infantil - pré-escola
Ensino fundamental
Ensino médio
Educação superior - graduação
Educação superior - graduação e pós-graduação
Educação superior - pós-graduação e extensão
Educação profissional de nível técnico
Educação profissional de nível tecnológico
Atividades de apoio à educação
Ensino de esportes
Ensino de arte e cultura
Ensino de idiomas
Atividades de ensino não especificadas anteriormente

Atividades de atendimento hospitalar
Atividades de atendimento hospitalar
Serviços móveis de atendimento a urgências
Serviços de remoção de pacientes, exceto os serviços móveis de atendimento a urgências
Atividades de atenção ambulatorial executadas por médicos e odontólogos
Atividades de atenção ambulatorial executadas por médicos e odontólogos
Atividades de serviços de complementação diagnóstica e terapêutica
Atividades de serviços de complementação diagnóstica e terapêutica
Atividades de profissionais da área de saúde, exceto médicos e odontólogos
Atividades de apoio à gestão de saúde
Atividades de atenção à saúde humana não especificadas anteriormente
Atividades de assistência a idosos, deficientes físicos, imunodeprimidos e convalescentes prestadas em residências coletivas e particulares
Atividades de assistência a idosos, deficientes físicos, imunodeprimidos e convalescentes prestadas em residências coletivas e particulares
Atividades de fornecimento de infra-estrutura de apoio e assistência a paciente no domicílio
Atividades de assistência psicossocial e à saúde a portadores de distúrbios psíquicos, deficiência mental e dependência química
Atividades de assistência psicossocial e à saúde a portadores de distúrbios psíquicos, deficiência mental e dependência química
Atividades de assistência psicossocial e à saúde a portadores de distúrbios psíquicos, deficiência mental e dependência química
Atividades de assistência social prestadas em residências coletivas e particulares
Atividades de assistência social prestadas em residências coletivas e particulares
Serviços de assistência social sem alojamento

Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares
Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares
Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares
Criação artística
Criação artística
Gestão de espaços para artes cênicas, espetáculos e outras atividades artísticas
Atividades de bibliotecas e arquivos
Atividades de museus e de exploração, restauração artística e conservação de lugares e prédios históricos e atrações similares
Atividades de jardins botânicos, zoológicos, parques nacionais, reservas ecológicas e áreas de proteção ambiental
Atividades de exploração de jogos de azar e apostas
Atividades de exploração de jogos de azar e apostas
Gestão de instalações de esportes
Clubes sociais, esportivos e similares
Atividades de condicionamento físico
Atividades esportivas não especificadas anteriormente
Atividades esportivas não especificadas anteriormente
Parques de diversão e parques temáticos
Atividades de recreação e lazer não especificadas anteriormente
Atividades de recreação e lazer não especificadas anteriormente


DdAB
linda imagem trágica: aqui. aliás nem sei de onde é essa fábrica. espero que ela não coma criancinhas.
p.s.: talvez nunca saibamos se o melhor foi mesmo o estado promover aquela industrialização precoce a partir dos anos 1930s ou se teria sido melhor para este desenvolvimento de gente e dinheiro que se tivesse começado a gastar em educação, saúde, essas tolices dos neo-heterodoxos... ainda em Brasília sugeri que é preferível comprar um milhão de computadores para a escola do que incentivar a indústria a produzi-los. claro que, se as encomendas forem para as empresas nacionais, o incentivo chegará onde os neo-desenvolvimentistas desejam. ainda assim, o que tem a ver, em termos de linkages, o morador do Chuí com o da barra do Oiapoque? parece que o governo precisaria de fortes requebros para garantir ao primeiro a primazia na produção de computadores e ao segundo não infernizar as crianças com escolas...

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