16 março, 2012

Efeito Excel: prova insofismável

querido diário:
no dia 5/set/2010, expus formalmente algumas ideias que me levaram a lançar o conceito de "Efeito Excel" que nada mais significa que alguns setores que desaparecem das contas nacionais não foram extintos (cartolas, carruagens são os exemplos tradicionais dos velhos livros-texto). o que lhes ocorreu é que o crescimento relativo dos demais empanou sua visualização num sistema que usa a matemática do ponto flexível. ou seja, as cifras são números reais truncados a certa altura. tenho argumentado que a participação da agropecuária no PIB de Porto Alegre é nula. hoje quero elaborar no que significa esta nulidade.

o fato óbvio é que, se o PIB da cidade é de R$ 1000 e o da agropecuária é de $ 1, então sua participação percentual é 100 x 1/1000 = 0, ou seja, desprezando o décimo resultante do cálculo, chegamos a isto: mesmo havendo agropecuária, ela não aparece nas estatísticas. aliás, é isto que o IBGE recomenda para muitos casos: escrever "..." quando a escala do fenômeno foge à unidade de medida adequada. claro que, se quiséssemos ver uma casa decimal, faríamos o exercício com o PIB de $ 1 da agropecuária, por contra o totalzão de R$ 10.000 e teríamos 0 do mesmo jeito. o fato é que Porto Alegre tem mesmo 0.

mas também é fato que muitas famílias apropriam-se do produto do setor agropecuário, muitas delas vivendo existências dignas. cheguei: no caderno "Campo & Lavoura" da ZH de hoje, a capa anuncia uma reportagem: "O cultivo agrícola dentro da cidade; em 6 mil hectares, 250 produtores abastecem a Capital com frutas e verduras." como a designo muitas vezes por Zero Herra, já vou chamando a atenção para o fato de que não é "na cidade", mas no "município". por definição decente (a indecente, parece é que 'cidade' é a fração do município em que a calçada tem meio-fio').

a cidade de Porto Alegre tem pouco menos de 500km^2 (eu sempre pedia que os alunos decorassem umas cifras deste tipo, o valor do PIB do Brasil, a renda per capita da Suíça, essas coisas). pois bem. diz ZH que há 165km^2 de áreas verdes. isto significa que haverá áreas de águas internas e áreas de ocupação estritamente urbana (ruas, casas, praças). dizque desta vasta área verde, há seis km quadrados (seis mil hectares, lá na linguagem deles) devotados à produção de hortaliças e fruticultura. haverá ainda produção de mel, cavalos, leite e outros produtos, ocupando parte desses 165km^2.

eles, jornal, falam em 250 famílias, uma gotinha dágua na população de milhões de pessoas. não surpreende que não participe do PIB em percentagem de uma casa decimal. é mais evidência em favor da lei da centralização do capital (na sociedade capitalista, tudo vai concentrar ao ponto de o filme Rollerball tornar-se realidade, onde quatro ou cinco empresas dominam toda a produção). é a prova insofismável
.a. da lei que acabo de referir e, mais importante ainda,
.b. da existência do Efeito Excel.
DdAB
p.s.: deixando claro que "comércio com a China não é livre comércio", deixo claro que sou a favor do livre comércio e entendo que, quando este ocorrer, ou seja, acabar-se a besteira do estado nacional, haverá tal progresso econômico que todo o PIB vai concentrar-se nos serviços. seguiremos comendo bifes bovinos (quem o faz?), mas estes não constarão do PIB calculado com uma casa decimal...

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