04 fevereiro, 2012

Racionalidade da Política

querido blog:
eu, que -mais do que qualquer outro marcador- uso o "economia política", hoje escolho secundá-lo com o "Besteirol", o que daria, a rigor, na mesma coisa, com talvez diferenças maiúsculas. que digo? contradições no primeiro parágrafo? é brincadeira, é besteirol.

o que não é besteirol foi a entrevista que li ontem do sr. Milton Cypel, diretor do DAER (órgão das estradas de rodagem gaúchas). dias atrás, descobriram umas fraudes praticadas num posto de pedágio e a atribuíram a um engenheiro seu subordinado, que seria o responsável pela praça. o funcionário foi reciclado dos pedágios a outra posição importante, ganhando uma função gratificada. lá vai:

Zero Hora - O senhor acha correto alçar um servidor que responde por improbidade administrativa a um cargo de superintendente na sua diretoria no DAER?
Milton Cypel - Está havendo um linchamento de vários técnicos do DAER. Posso dizer que ele é competente e honesto. O problema é que ele comeu mosca. Não viu. Ou viu e ficou com medo de denunciar.

tem mais coisa, mais divertida, alusão ao roubo do dinheiro portado em cuecas e o olhar distante de Lula. e que se começarem a justiçar (no sentido mais trivial) algumas pessoas, terão que fazer o mesmo com todas. evocou-me o popular: "Se alguém gritar 'pega ladrão!', não fica um meu irmão". mas eu deixo por isto mesmo. a racionalidade do sr. Milton Cypel é um elogio à retórica e nâo à lógica.

caso se tratasse de lógica, deveríamos concluir que um indivíduo que é "competente e honesto" não come mosca. terá escolhido, por longos processos de seleção natural, alimentação menos nauseabunda. por seu turno, preservada a imagem retórica, quem come mosca num assunto de R$ 400 mil reais não pode ser declarado competente. ainda mais: se viu a trampa e tomou-se de medo para fazer a denúncia, não pode -honestamente- ser tachado de honesto.

em outras palavras, quem deveria estar em primeiro lugar na fila da porta das demissões seria o sr. Milton Cypel. aqui tem uma encrenca. não estamos falando de CCs, pacotes monetários destinados aos amigos e parentes dos políticos. mas de pacotes idem destinados a funcionários de carreira.

em ambos os casos, ambos os casos devem ser tratados racionalmente. explico-me: casos de falta de competência ou de honestidade devem ser saudados pelos CCs com demissão e remessa a novos treiramentos e cursos de ética. no caso dos funcionários públicos concursados, esse que deveriam ser a gema e o esteio da competência e honestidade, a primeira atiitude deve ser-lhe cortar-lhes a mão, ou melhor, cortar a familiaridade que a mão tem com a burra.
DdAB
imagem: aqui.

2 comentários:

Anônimo disse...

Reforço aqui o que venho dizendo ha tempos. Acho estranho as pessoas afirmarem que politicos e servidores sao corruptos como se fizessem parte de uma raça diferente. Eles sao assim porque as pessoas sao assim. Alguns servidores e politicos nao sao eticos e honestos porque a sociedade nao eh. Como exigir probidade de quem estar no poder se os cidadaos nao respeitam a faixa de pedestre, o cinto de segurança e outras tantas regras? A investidura em cargos publicos nao provoca magica no carater de ninguem, nao os tornam melhores e nem piores. Evidentemente que ao receber remuneraçao oriunda de recurso publico torna a pessoa responsabilizada em maior grau pelo seus erros. Uma olhada diaria no DOU mostra que nao ha impunidade como parece alertar muitos, ha quando quem esta sendo alvo eh quem tem muito poder ou aval da parcela da sociedade do samba. Abraços.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é, Daniel:
tento simplificar tudo dizendo que a estrutura de incentivos em favor da honestidade é fraca. mas não consigo deixar de criticar os estamentos dos juízes e a morosidade do poder judiciário (aqui começam os (des)incentivos, o baixo preço do crime e a falta de fiscalização geral da sociedade. mais estranho ainda: a julgar por mim, as faixas de segurança existem no Hemisfério Norte (lá eu as obedeço tanto na condição de motorista quanto de pedestre) e menos no Hemisfério Sul (se bem que Porto Alegre, baseada em Brasília, o que já era feito em Ijuí há mais de uma década) começou a campanha de respeitar o pedestre. obviamente se não houver multa para o infrator, poucos obedecerão!
por fim, nunca falei em funcionário corrupto, mas em político corrupto e sempre odiei os Cargos em Comissão, pois eles destróem a administrção pública, incentivam o nepotismo, todas estas mazelas.
DdAB