18 dezembro, 2011

O Portão Lá de Casa

querido diário:
primeiro, no filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", diz-se: "o terreiro lá de casa não se varre com vassoura, varre com ponta de sabre e bala de metralhadora." acho (afinal, não sou psicanalista) que era isto o que me ia pela cabeça ao selecionar o título da postagem acima. e que diabos de portão é este? é o portão que abre as portas do conhecimento, que abre, diria Aldous Huxley, as portas da percepção. abre as portas do conhecimento e do saber, da alegria de conhecer e do alto baixo astral que é ver a inguenorâncea vencer.

pois bem, não que eu seja um sábio, mas garanto que existem três e apenas três métodos que geram o conhecimento seguro. dois deles não me são caros, próximos, o outro é o método indutivo, tão próximo a David Hume, que o esculachou. o método indutivo, com efeito, já deixou muita gente louca, como Weber e Nietszche, para não falar em Hume himself. no livro de Ferguson e em outros milhares de livros, diz-se que indução é gerar conhecimento novo a partir de traços colhidos em instâncias particulares da vida fora da mente ("do particular ao geral"). por contraste, o método dedutivo ruma do geral ao particular. o método dedutivo, dizem alguns, não é mais do que o elogio do deja vu, ou seja, nada há de novo em dizermos que Sócrates é mortal, se soubermos que todos os homens são mortais de qualquer jeito. por contraste ao contraste, ir do particular ao geral despertou o ódio de Karl Popper, que parece que toma o sentido literal de tudo muito literalmente.

tenho dito que respondo à crítica de Hume dizendo que muitos métodos é o método (como ensinaram-me as profas. Bianchi e Fernandez. elas talvez não concordem que eu concorde com elas neste quadrante. seja como for, acabo de dar uma demonstração para o cachorro que eu levara a passear sobre a validade da indução. disse-lhe, em latim, claro, que, assim que eu apertasse um botão de uma caixinha preta que eu retinha em mãos, o portão iniciaria a abrir-se e teríamos tempo de ingressar edifício a dentro, safe and dry, expressão que provavelmente seria usada pelos usuários do portão da imagem de hoje.

se Popper achava que eu iria degolar meu cachorro, dando-lhe uma pista fria sobre o comportamento de eventos futuros com base nas regularidades empíricas do passado, muito ter-se-ia engadado: o portão funcionou direitinho. e assim seguirá funcionando pelo resto da eternidade, com a probabilidade de 1% de falha, garantida pelos fornecedores e avalizada pelo prefeito da cidade, que deu "habite-se" para a firma lá deles, os fornecedores. os fornecedores, por sinal, garentem que, em caso de falha do alarme ou do portão, socorrem-nos antes que o cão perca o fôlego...
DdAB
este portão, que não é meu, não, veio daqui.

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