07 junho, 2011

Valor das Mercadorias: ah, la Valuer, Toujeurs Valeurs

querido diário:
por falar em valor, quem falou? valor das mercadorias? no outro dia, dei-me conta -disse?- que não podemos conceber a palavra mercadoria, no singular. e este foi o grande erro de Marx: intitular o primeiro capítulo do primeiro livro de O Capital como "A Mercadoria". como é isto? qualquer bem ou serviço, para alçar-se ao plano das mercadorias, deve ser trocado por outro bem ou serviço. um sisteminha de equilíbrio geral. equilíbrio? claro, pois apenas quem se torna mercadoria são os bens ou serviços que dão -lá no dizer dele, Marx- o salto mortal, ou seja, são vendidas, ou seja, o valor planejado ex ante torna-se valor realizado ex post. tudo muito de acordo com a doutrinação que recebi, nestes, sem exagero, últimos quase 50 anos, de Marx a Marshall. de Quesnay a Leontief. de Cantillon a Keynes. de Keynes a Friedman e Bowles.

pois neste clima é que recuperei um papelzinho, daqueles. chamei-o de "O texto abaixo é um resumo feito por mim do livro de Lapidus & Ostrovitianov, um clássico da economia política para beginners. Os trechos entre parênteses são de minha (Duilio) autoria." o fato concreto é que o texto abaixo não foi encontrado, pois os dizeres acima dizem respeito ao que está escrito acima do texto abaixo, que tem no caput as seguintes referências bibliográficas:

LAPIDUS & OSTROVITIANOV Manual de economia política. HARNECKER, M. O capital; conceitos fundamentais. São Paulo: Global, 1978, p.85-132.
MARX, K. O capital; crítica da economia política. Livro 1 Volume 1 Capítulo 1.

O que explica o preço das mercadorias? É a flutuação em torno da oferta e demanda, ou é alguma outra coisa? Se fosse apenas isto, em um mercado em que houvesse -digamos- um excedente de oferta de 20 automóveis, e em outro um excedente de 20 batatas, o preço deveria ser o mesmo. (Trinta anos depois, este exemplo parece-me razoavelmente imbecil).

Nos modelos que já estudamos (eram os infelizes alunos de meu curso de Micro I, da Unisinos, material deixado no xerox na pasta 558A; ano: 1976 ou 1979 ou outro ano da era cristã) referentes à Teoria Elementar do Preço, vimos que as forças da oferta e procura interagem e determinam os preços aos quais os bens e serviços são transacionados. Esta era uma situação de curto prazo. Será que podemos usar o mesmo tipo de instrumental para explicar os preços de longo prazo?

Ao observarmos o mundo real, numa sociedade em que não haja inflação, vemos que somente as curvas de oferta e procura não servem para explicar os preços, pois estes tendem a ser razoavelmente estáveis. Por isso, são chamados de preços normais, justos ou naturais. E há dois tipos de explicações para esse fenômeno. O primeiro repousa na teoria do valor-utilidade, que estudaremos no capítulo seguinte, a Teoria do Consumidor, e que, basicamente, explica o preço como sendo uma medida do valor de uma mercadoria, e o valor como sendo explicado pela utilidade que o indivíduo desfruta ao consumir um bem ou serviço. (Trinta anos depois, eu diria: este troço não está muito errado, mas tampouco está muito certo - TAD).

A outra teoria é chamada de Teoria do Valor-Trabalho, que veremos neste capítulo. Estas duas teorias, para não serem circulares, devem explicar os preços de longo prazo, associando-os ao valor e devem explicar o valor sem assiciá-lo aos preços. Isto é, devem explicá-lo com base em uma característica externa e independente das variações  dos preços. Ambas, efetivamente, o fazem. A teoria do valor utilidade explica o valor como sendo um elemento subjetivo vinculado à satisfação obtida com o consumo. Já a teoria do valor trabalho o faz lançando mão de um elemento objetivo da atividade produtiva (TAD).

Além de explicar os preços naturais, a teoria do valor-trabalho também tem objetivos -por assim dizer- macroeconômicos que se relacionam ao uso que é dado pela sociedade aos valores gerados num período. Vincula-se, assim, a teoria do valor com o processo de acumulação de capital. Levar adiante o estudo da economia, sob este ponto de vista, implica estudar como e porquê o processo de acumulação de capital causa as crises e depressões. E, finalmente, como estas crises e depressões são superadas pela necessidade da criação de mercados externos (daí surgir o imperialismo) e de canalizar improdutivamente alguma fração do excedente econônico) (daí surgir a corrida armamentista). (TAD).
finis Africae

um tanto chavonesco, não é mesmo? principalemente aquela fuga macroeconômica não seria reescrita desta forma. principalmente o que me deixa lamentando é que não dei a devida ênfase à grande simetria paralela entre a relação que todos (economia marxista e moderna teoria econômica) atribuem aos aumentos da produtividade do trabalho como rebaixadores dos preços das mercadorias. também falaria mais em "quantidades monetárias" e na equação quantitativa da moeda, para mostrar que o valor distribuído na sociedade proporcionalmente ao poder de barganha dos negociadores resulta do estoque de moeda. ou seja, não estaria explicando os preços relativos das mercadorias nesta parte, mas apenas o nível absoluto de preços e a forma se dará o ajuste da velocidade de circulação, do nível geral de preços além do ano base e do índice do quantum do valor da produção. complicações que poderiam pintar em um livro destinado a avaliar o grau de eficiência com que a sociedade usa seus recursos.

chove em Porto Alegre; se é Forno Alegre no verão, só pode ser Mofo Alegre no inverno.
DdAB

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