17 junho, 2011

O Privilégio de Não Ver Desigualdade

querido blog:
a primeira má notícia que vi no jornal Zero Hora de hoje (e há pilhas de outras) ainda estava sobre o capacho da porta de entrada. espichei o olho para ver se era mesmo um exemplar de jornal ou um menino de rua e vi uma chamadinha na contra-capa do primeiro caderno: "Quero meus privilégios". pensei que fosse o dr. Paloce. olhei, intrigado, mais: "Colunistas de ZH [...] Nâo é errado ter dinheiro ou vantagens, quando se trabalha para isso. Página 2." li o jornal, li o artigo, li o Aurelião:

1.Vantagem que se concede a alguém com exclusão de outrem e contra o direito comum.
2.
Permissão especial.
3.
Prerrogativa, imunidade.
4.
Dom, condão.


então pensei: Dave não leu o Aurelião. ou ficou na quarta acepção, ele que tem um dão ou um condão. e pensei no conceito de sociedade justa. Rawls, como sempre refiro, uma referência, portanto. mas também o conceito de David Harvey:

1. Desigualdade intrínseca: todos têm direito ao resultado do esforço produtivo, independentemente da contribuição
2. Critério de avaliação dos bens e serviços: valorização em termos de oferta e demanda
3. Necessidade: todos têm direito a igual benefício
4. Direitos herdados: reivindicações relativas à propriedade herdada devem ser relativizadas, pois, por exemplo, o nascimento em uma família abastada pode ser atribuído apenas à sorte
5. Mérito: a remuneração associa‑se ao mérito; por exemplo, estivador e cirurgião querem maior recompensa do que ascensorista e açougueiro
6. Contribuição ao bem comum: quem mais beneficia aos outros pode clamar por mais recompensa
7. Contribuição produtiva efetiva: quem gera mais resultado ganha mais do que quem gera menos
8. Esforços e sacrifícios: quanto maior o esforço, maior a recompensa. 



parece que o Dave tampouco leu o Rawls, not to speak to Harvey. uma americanada, exceto o Harvey, Dave, também, que é brit. (ou Brit, para quem sabe-se lá se sabe inglês).


quer dizer, um carinha que clama pela manutenção de seus privilégios só pode estar brincando de jornalista, economista, pedicure, o que seja. nem menino de rua tem direito de lutar por privilégios, se é que deseja mesmo promover a sociedade justa.


o Coimbra faz um elogio dos lobbies. não leu a macacada da teoria da escolha pública. não sabe o que são sinecuristas, o que são "ganhos improdutivos", rent seeking. diz David: "Mas, no Brasil, ter privilégio ou ser rico é vergonhoso." só que diz isto criticando os críticos dos privilégios, milhares deles, inclusive o de não pagarem um imposto de renda condigno com a sociedade justa rawlsiana.


para não alongar-me, eu que não me abreviei, termino dizendo que já faz milhares de anos que sabemos que:


.a. os preços relativos determinam a distribuição da renda
.b. a distribuição da renda determina os preços relativos.


e finalmente


.c. qualquer lucro extraordinário é sinal de ineficiência alocativa e, como tal, deveria pagar imposto de renda (não esses miseráveis 27,5% criados pelo sr. José Sarney).
DdAB
imagem: aqui. ali você verá o pai de Maureen Maggi dizendo ser um privilégio ser pai dela. tampouco leu o Aurelião, o Rawls, o David Harvey, essa macacada toda. o privilégio da Maureen é da segunda definição do Aurelião. e eu leio Zero Hora porque quero. ou melhor, queria ler um jornal que não existe, esquerdista.

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