15 junho, 2011

Nem toda Droga é uma Droga


querido diário:


pela imagem acima, a primeira figura "como funciona el cerebro" humano não parece ser uma droga: quanto mais educação, mais informação melhor. um charuto pode ser apenas um charuto (Freud? onde?) e um cachimbo pode não ser apenas um cachimbo (Magritte). uma seringa pode salvar vidas ou destruí-las. um cigarro pode matar nosso amigo ou nosso inimigo. produzir bombas eleva o PIB e produzir hospitais para cuidar de feridos também (Samuelson). o consumo de droga desperta paixões não apenas naqueles que o fazem. o consumo de drogas por terceiros desperta paixões tanto nos terceiros (a pessoa de quem se fala) quanto na pessoa que fala (como é o caso) quanto na com quem se fala (pode-se falar a si mesmo...).

por que o consumo de drogas desperta paixões em mim? basicamente porque entendo que o comércio de drogas ilegais destruiu o sistema judiciário brasileiro. como tal, já aproveitou e destruiu qualquer perspectiva de construção da sociedade justa (Rawls) no Brasil. não sou pessimista sobre a necessidades da injustiça. e, se falo em destruição de perspectivas, é que não vejo, na atual conjuntura (Stanislaw), sinais de que estejamos acabando com

.a. a corrupção
.b. a Voz do Brasil
.c. o serviço militar obrigatório,

essas três e milhares de outras coisas que nos aproximariam das sociedades democráticas, para não falar nas reformas tributária, política, e outras menos concorridas (educação, previdência social, praticamente todas a serem contempladas na tributária, pois falaríamos da lei do orçamento, de corte universal e redistributivo).

a verdade verídica é que (como não estou postando em "Vida Pessoal") posso confessar: já usei morfina em plena madrugada dentro de uma repartição pública em Porto Alegre: o Hospital de Pronto Socorro Municipal. eu já alcançara a maioridade. o cálculo, com certo trocadilho de lugar comum, não saíra de sua primeira infância ao abandonar meu rim direito, uma dor desgraçada. recomendo cálculos? não! recomendo morfina? sim! recomendo maconha? não. recomendo morfina? não.

pois não é que a morfina vem a ser simultaneamente bem de mérito e de demérito? e a cocaína? passou de mérito a demérito, já foi usada com anestésico, 50 anos antes da descoberta da pólvora, ou melhor, antes da apropriação pela indústria da tarefa de sedare dolorem. como se organizaria uma sociedade em que as drogas fossem legalizadas, no sentido da morfina? nos tempos que correm, há um pedagógico exemplo de bem de demérito comercializado livremente: o cigarro. mas sua embalagem diz que ele, cigarro, faz mal à saúde. e o leitinho das crianças, cuja embalagem também diz que passa a fazer mal à saúde a partir de certa data? e a falta de leitinho das crianças cujos pais não têm dinheirinho para contratar os serviços das vaquinhas?

e se as drogas fossem distribuídas gratuitamente para consumo local, em consumption rooms, se o termo anglo-saxônico ajuda a dar caráter científico à iniciativa? e se um viciado fosse buscar no local da distribuição e enrustisse no bolso do casaco para revender a neguinhos não identificados? e se o médico revendesse no mercado negro? estas hipóteses escabeladas certamente são ofuscadas pela realidade escabeladíssima: a garotinha de 13 anos que assassinou, em Erexim (ou era Erechim?) a velhinha de 93anos.

claro que médicos e enfermeiros e assistentes sociais sérios podem, com a maior desenvoltura, definir, pela ficha médica do paciente, ficha penal, anamnese registrada, separar joio do trigo, ou a morfina má da morfina boa, se assim posso expressar-me. a menina de 13 anos viciadinha apartada do malvado traficante de (13+93)/2=53 anos. a história de vida do solicitande da droga na sala de consumo, a quantidade consumida (crescente, decrescente, constante), tudo isto pode servir como indicador de problemas ou tratamentos bem-sucedidos, tudo isto pode ajudar a pacificar a sociedade. transferir o problema da polícia para a saúde, por considerar a dimensão econômica: os incentivos associados às transações ilegais são de tal monta que arrasaram o sistema judiciário. tá na hora de acabar com a Voz do Brasil, tá na hora de acabar com a corrupção, tá na hora de implementar a verdadeira lei do orçamento, tá na hora de reformar o próprio sistema judiciário!

tá na cara que tá na hora da criação de mais controle por parte da sociedade sobre a vida societária. e a liberdade? definindo liberdade por negação: ninguém é livre para poder suicidar-se, ninguém é livre para morrer de fome. ninguém é livre para levar um tiro na nuca!

abaixo a ditadura! e, se não é ditadura, abaixo o escabelamento generalizado das instituições brasileiras contemporâneas!
DdAB
ops: a imagem veio d(aqui). e hoje os juízes, que nem sempre jogam bola-fora, autorizaram a Marcha da Maconha. parece que não autorizaram o consumo, mas apenas o direito de alguém defender algo diferente de tiros na nuca, trabalho escravo, roubo das burras públicas.

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