14 maio, 2011

Esquerda, volver!

querido blog:
nunca ficou muito claro para mim se devemos voltar para esquerda ou nos voltarmos para a esquerda. da mesma forma, no outro dia, falei que gostaria de escrever um livro chamado de "Atrás do Comunismo", não falei? neste caso, seria atrás, no sentido de ver que strange animal era aquele que vicejou na Alemanha até 1989. e também no sentido de que cheguei, em boa hora, já depois da hora da morte dele. tesconjuro, autoritarismo, Stassi, ces choses.

de outra parte, andei promovendo seminários entre amigos para decidirmos se sou de esquerda ou de direita. até agora, os resultados são inconclusivos, mas haverá mais sessões no futuro próximo e diferido. tenho dito que sou igualitarista. claro que no espectro político, isto me torna mais próximo dos chamados partidos de esquerda, ainda que ache absurdo um número absurdo de iniciativas lá deles que considero da mais escorreita cepa do reacionarismo.

pois bem, vez que outra tenho lido textos de Denis Rosenfeld (pessoa que tenho a impressão de conhecer superficialmente) e não me agradam. mas li toda sua entrevista às Páginas Amarelas da Veja de 11/maio/2011. e posto apenas hoje, pois a diabinha da revista sumira entre outros papéis patéticos como ela, a endiabrada linha editorial. pois bem. não vou comentar tintim por tintim. mas não posso deixar de entusiasmar-me com o final lá dele:

Veja: O senhor foi de esquerda e trabalhou para o PT. Como se define hoje politicamente?

D.R.: Sou liberal, mas aceito práticas da social-democracia em situações de miséria extrema. Tanto é que sou a favor do programa Bolsa Família, desde que se crie igualdade de oportunidades para que todos os brasileiros possam prover seu próprio sustento. Não vejo problema nenhum em ser chamado de direitista. Se direita no Brasil significa a defesa da liberdade pessoal, do estado e dodireito de propriedade, sou de direita, sim, com muito orgulho.

Dudu: não entendi bem este troço de "do estado". acho que deve ser erro editorial de Veja. eu, que sou de esquerda, acho que esse negócio de "estado produtor" e não "estado provedor" para bens de mérito e mesmo pilhas de bens públicos deve ser revisto. devemos -achava que Marx é que dissera- substituir o governo dos homens pela administração das coisas. penso que tudo, tudo, tudinho, inclusive, diagnósticos médicos, sentenças judiciais e o que mais seja poderão ser administrados por meio de softwares num futuro remoto. principalmente quando nos livrarmos desta urucubaca de viver num planeta.

voltando a Denis Rosenfeld. mais uma pergunta:

Veja: Existe um ponto de equilíbrio, uma medida certa para delimitar a intervenção do estado na vida do cidadão?
D.R.: Imagine que estamos dentro de um jogo. Cabe ao governo respeitar as regras, sem inventar novas condições à medida que o jogo avança. O estado deve preservar as regras e deixar as pessoas jogarem. Deve agir como um juiz. Nâo cabe ao estado tirar de uns para dar aos outros, por exemplo. A desigualdade faz parte do processo de organização social. O estado deve dar as mesmas condições para todos sobressaírem e, assim, conquistarem o seu espaço.

Dudu: pensei (li, claro, antes da última) que há tanto problema com esta resposta que daria para escrever um livro, talvez aquele do "Atrás do Comunismo". para começar deixo claro que meu medo não é a administração das coisas, mas os governantes patrimonialistas (isto é, praticamente todos) brasileiros. claro que essa macacada vive mudando as regras do jogo para manter-se encastelada no poder, ganhando rios de dinheiros. tecnicamente isto não é "governo", mas "destrambelho". de outra parte, é claro que deve existir algum tipo de organização social que permita que as porosidades institucionais sejam corrigidas à medida que o jogo (o planeta) avança. por exemplo, é necessário fazer-se algo mais sensato para equiparar o direito dos meninos de rua ao dos animais. andei ouvindo que um cão é sócio do Sport Club Internacional.

sigo: para o estado agir como um juíz, torna-se vital a existência do estado. isto tem implicações a primeira é que se pensamos no estado, ele pode vir a existir, a ser criado. para tanto, dadas as limitações termodinâmicas conhecidas, para prover bens de mérito e públicos (Denis não fala nos primeiros, mas fala em "juiz", justiça) faz-se necessário despender recursos. pois bem, aí começa o problema da frase "A desigualdade faz parte do processo de organização social". claro que não faz, a menos que queiramos, a menos que nosso partido, nossa coalizão partidária, assim o queiram. por exemplo, com um orçamento (lei de meios) universal, podemos ter o gasto universal, isto é, o povo (democracia direta, de preferência) estabelecerá os bens de mérito e públicos que serão acessíveis a todos. ou seja, sabemos que o gasto público pode ser regressivo (isto é, beneficiar mais os mais pobres). parece que é isto o que D.R. e Dudu queremos. e os recursos? Dudu pensa que devemos cobrar impostos progressivos. em resumo: claro que o Brasil faz o contrário: gasto progressivo (beneficia mais os ricos) e impostos regressivos (prejudica mais os pobres).

em resumo: no outro dia li que Agostinho Neto teria dito: a direita me chama de esquerdista, a esquerda me chama de direitista. devo estar certo. de minha parte entendo que Denis está certo ao querer um juiz e a bolsa família. que mais posso querer?
DdAB
p.s.: a imagem veio daqui: abcz. e pareceu-me absolutamente linda. se a guria está puxando com a esquerda, é um bom sinal. e se está mandando a direita (aquele bicho louco) volver à esquerda, também é outro bom sinal.
p.s.s.: decidi colocar a imagem abaixo abaixo. simplesmente não acreditei a que sítios fui levado pelo clique dado no Sul21. só bebendo!
os autores são os "tradutores da Vila Vudu". não os conhecia. mas estranho mesmo é ver o site que selecionei como sendo "de esquerda" abrigarem aquele comentário. aí tem os seguintes:
em outras palavras, não resisti e entrei na conversa. depois do meu, veio outro comentário  (que não transcreverei) que me fez pensar que esses tradutores são mesmo é traidores...

Nenhum comentário: