31 maio, 2011

Maniqueísmo Feminino e Igualitarismo Econômico

querido diário:
hoje é um dia festivo, outonal e nublado. festivo porque (marcador Vida Pessoal), voltarei a andar de bicicleta no fim-da-tarde, o que ocorre às 18h00, neste paralelo ao equador. outonal porque é outono mesmo... nublado porque há nuvens obnubilando a ascensão reta dos raios do sol, ou vice-versa. sobre o maniqueísmo: nem Madre Tereza era tão santa nem Madonna era tão boa cantora...

conclui-se que a discussão não deve ser se mais oferta monetária causa inflação, mas que medidas fiscais (gastos ou tributos) e monetárias (juros, encaixes no banco central, empréstimos compulsórios) avalizam ou anulam determinadas polítidas que mexem com o lado real. mexer com o lado real é mexer tanto com o valor adicionado quanto com a matriz de relações interindustriais e a matriz de relações interinstitucionais.

os velhos professores (eu mesmo) costumavam ensinar os alunos (eu mesmo) que existe um fluxo circular da renda, fazendo-a mover-se entre as famílias e as empresas. eu abjurei há tempos esta tolice, substituindo-a pela visão associada à matriz de contabilidade social, em que aparecem o mercado de bens (produtores e instituições), o mercado de fatores (locatários dos serviços dos fatores e produtores) e o mercado de arranjos institucionais (instituições e locatários dos fatores de produção). mais ainda, este mercado, que gera a distribuição funcional da renda (ou seja, o valor adicionado quando mensurado pela ótica do produto) vê a transformação da renda remetida pelas instituições engordada pelas transferências interinstitucionais para gerar algo que deve ser chamado de relações institucionais duplamente resolvidas.

ou seja, por analogia à resolução da demanda final em insumos intermediários gera o valor da produção resolvido. o valor da produção resolvido gera o produto interno bruto resolvido. o produto interno bruto resolvido gera a renda interna bruta resolvida. esta gera as relações institucionais duplamente resolvida. as simple as that.

pois bem, de posse destes conceitos, torna-se fácil entendermos que a única maneira realmente exógena de mudarmos a magnitude do valor adicionado é mexermos no crédito: crédito para produtores e crédito para instituições. ou seja, crédito ingressando no sistema por meio das relações interindustriais ou relações interinstitucionais.

entendeu?
DdAB
p.s.: a imagem, bem maniqueistinha, é daqui. ademais, também é maniqueísta falar em "maniqueísmo feminino", como se o maniqueísmo masculino fosse menos maniqueísmo. a borboleta gera luz e um objeto não identificado gera uma fumacinha caoticíssima.

30 maio, 2011

Estado Desenvolvimentista e Entreguismo

querido diário:
esta não é uma postagem pessoal, ainda que diários de respeito hospedem confissões de seus autores. mas obviamente diários também abrigam inquietações sobre as três dimensões (ou mais) da realidade realmente real. quero fazer uma confissão profissional, assunto para o qual os diários também se prestam. exerço um limitado grau de usafilia, ou USA-philia, ou melhor, amor a uma boa parte dos traços que chamo de "civilização americana", com menos atrevimento do que Sérgio Buarque de Hollanda falava em "civilização brasileira". sempre falo em cinema, jazz, tecnologia. mas também posso acrescentar  itens que aprendi com Érico Veríssimo, lá em seus dois gatos pretos, a "America" dos anos 40.

pois bem, um dia um algoz dos meninos de rua disse que eu era um entreguista não tanto por querer entregar-lhe maiores alíquotas do imposto de renda mas essencialmente por querer cumprir a legenda da tumba de Marx: "trabalhadores de todos os países, uni-vos". e clamar pelo estado mundial, pelo fim do poder judiciário dos países de desenvolvimento institucional incipiente, como é o caso da Bolívia, de Botwana e, bem sabemos onde eu queria chegar, do Brasil.

nunca vou esquecer de um momento simbólico que vivi ao saber, lendo o mesmíssimo jornal de que falo com estapafúrdia frequência, há alguns anos, que a empresa que hoje subscreve os sabonetes Phebo, fora desapropriada pelos americanos, por uma família americana, nem era o caso da Lever Brothers, Proctor & Gamble, sei lá. pensei: se estes carinhas já chegaram a Belém do Pará (sede da empresa, hoje na Trav. Quintino Bocaiúva, 687, pode conferir), então tudo é permitido. mas nunca pude deixar de lado esta ideia de que o entreguismo consiste em entregar a produção nacional.

e hoje fico cabisbaixo ao perceber no mesmíssimo jornal uma notícia de pé da primeira página:

Grupo Hyundai fabricará elevadores no RS. Investimento foi anunciado a Tarsa no Coréia do Sul, relata o Enviado Especial a Seul. Página 6". fui direto à página 6, né? Lá diz: "Política. Governo no Oriente. Coreanos anunciam fábrica no RS. Voltada à produção de elevadores, unidade do Grupo Hyundai pode criar até 15 mil empregos e deve ficar pronta em seis meses."

o espanto, que já tomara conta de mim, dobrou dea conta, pois passei a indagar-me quem paga a conta. aparentemente o Governador do Estado (capitals) está na Coréia do Sul. aparentemente o enviado especial, jorn. André Machado, o acompanha, sendo pago por sua empresa. sua matéria diz que a Hyundai "[...] é uma empresa familiar que não depende da decisão de acionistas. Quando decidem fazer, fazem - afirmou o governador [...]". pensei na Petrobrás, o antípoda do modelo familiar adotado no Brasil e louvado por muitos como sendo realmente a salvação da pátria. eu mesmo, em tempos pueris, pensava isto, tanto é que cheguei a cogitar de ser geólogo, como tantos jovens de minha geração, que confundiam "capital nacional" e "capital estatal" com democracia.

eu fico pensando neste discurso chancelado por milhares de economistas: precisamos gerar empregos, o que permite os maiores atropelos aos interesses nacionais, pois prega-se a desnacionalização da indústria, desde que crie empregos. eu devo insistir que não sou nacionalista, e não posso ver com ironia este tipo de argumentação. incoerente do jeito que é, deixa-me a pensar naquelas coisas de ideologia como anteparo à compreensão adequada da realidade. é claro que os 15 mil empregos que estão prometidos, se realmente chegarem a este número, são algo importante. mas acho que a equação fundamental é que deve ser mudada.

por que mesmo é que Petrobrás tem que investir em milhares de países? por que ela tem que ter lucros extraordinários do porte que tem? por que ela paga tão bem a seus trabalhadores e diretores? ela não é tão familiar como a Hyundai (que não é a mesma dos automóveis, mas volta-se a elevadores, marinha mercante e logística, como diz o repórter). que família controla a Petrobrás? acho que é a mesma coisa, lá presentes estastais. aqui também. lá a família deve estar no poder da empresa desde os tempos da ditadura. aqui também. aqui podemos chamar de oligarquia e plutocracia. lá comem cachorro morto, aqui não temos educação.

costumo dizer que mais vale um supermercado do que uma fábrica, que mais vale uma escola do que um banco. ninguém come elevadores, mas come produtos da seção de alimentos. o problema não é um problema: os problemas são dois problemas. o primeiro é o que-quanto produzir, ao passo que o segundo é para quem produzir, duas das três questões fundamentais da economia. a resposta à primeira nada tem a ver com a resposta à segunda, tanto é que -sempre lembro- criancinhas e velhinhos não trabalham e comem, desde que "bem nascidos". ao mesmo tempo, tá na cara que um conceito decente de sociedade justa, como é o caso do conceito elaborado por David Harvey, ascensoristas e açougueiros devem receber menos do que estivadores e veterinários, não é mesmo?
DdAB
o alien da imagem veio de: aqui.

29 maio, 2011

Lembrando os 20% de Marina

querido diário:
há poucos dias, vi no jornal que costumo ler notícias sobre a preservação da existência da sra. Marina da Silva, ex-ministra do PT e ex-candidata (derrotada) à presidência da república, depois de ter ingressado no PV, ou uma coalizão partidária liderada por ele, uma coisa destas. surpreendeu-me perceber que o noticiário em torno de sua pessoa tenha "repercutido".

associo a isto o friozinho na barriga que senti e expressei na postagem de domingo passado, por suspeitar que o governo Dilma acabou. ou seja, o dr. Antônio Palocci e seu partido podem ter derrubado as possibilidades de algum avanço na área da moralização da política brasileira. eu disse "algum avanço", pois não tenho maiores esperanças, ainda que saiba de algumas medidas que iriam iniciar o serviço. além das reformas políticas, já vou citando o cumprimento rigoroso da lei do orçamento e a adoção de alíquitas decentes para o imposto de renda progressivo.

parece que há alguma coisa no ar. pelo menos haverá alguma coisa em torno do ar que respiro. este "scent of hope" pode estar associado aos 20% dos votos empalmados pela ex-senadora e combativa líder dos povos da floresta amazônica. ou seja, um a cada cinco eleitores daquela malfadada eleição (ou seja, o fado foi provavelmente dar continuidade ao modelo de corrupção dos governantes), eu não estando entre eles, escolheu um projeto alheio ao que chamei em postagens de 2010 de "chapa Serra-Dilma", a chapa do oficialismo, do convencionalismo, da manutenção da estrutura de poder que -admito- redistribuiu renda, mas que -trancadíssima como ficou- já ajudou o início de nova escalada inflacionária.

em outras palavras, hoje é domingo.
DdAB
p.s. o Menino de Rua sugere-me voltar a fazer campanha do MAL*, para tudo voltar a ser como antes, no sentido de termos honestidade quando ele se tornar avô, o que ocorrerá em 20 anos.
p.s.s. não sei o que é o Portal de Paulínia (ver), de onde tirei a imagem que nos ilustra hoje. o fato é que falam em "mal hálito", o que confundiu meu buscador, pois pedi apenas a sigla do Movimento pela Anistia aos Ladrões Estrela. claro que lembrei de minha adesão relutante ao projeto de Raul Carrion de banir os estrangeirismos: vamos começar a cuidar da língua portuguesa/brasileira pelo banimento do mau hálito!

28 maio, 2011

A Evasão da Coruja de Minerva da Universidade Brasileira

querido diário:
que podemos dizer do sistema de avaliação de produção intelectual adotado há menos de 10 anos pelos órgãos de financiamento à pesquisa? e, macacadamente, por todos os departamentos de economia do Brasil que têm ambição a meter a mão nesse dinheirinho? que é um "pobre papagaio", para usar a expressão com que Chico de Oliveira, em sua monumental "crítica à razão dualista"! ou seja, papagaios são corujas enganadoras. parlapatões, nunca chegaram a amar a sabedoria, como o simboliza a coruja.

primeiro, houve o enorme expurgo de professores (doutores de fato), (mas) despidos de titulação. depois os títulos de doutor começaram a ser distribuídos pelo sistema educacional brasileiro, sabidamente aquele que mais analfabetos abarca no mundo, se julgarmos pela qualidade literária da redação dos meninos de rua e seus iguais domésticos. eu mesmo já andei pensando em doutorar-me em "faisão ao molho branco", numa faculdade de culinária que terei ouvido será aberta ano que vem em nosso benfazejo hinterland. depois começaram as exigências de publicação. publicar ou morrer, foi a leganda que copiamos dos brincalhões com a academia americana. mas a questão era que, diferentemente dos Estados Unidos, ou melhor, a exemplo dos Estados Unidos, os professores de Brasília e Alegrete, Sampa e Crato, foram instados a publicar... nos Estados Unidos. tanto é que, por determinações judiciais ou correlatas, começou-se a valorizar a publicação "no exterior", o que fez proliferarem as revistas nos demais 199 países do mundo, pois o primeirão, Brazil itself, não poderia receber publicaçõs internacionais. mas, no final, também se decidiu que revistas do Rio de Janeiro e (vazio) também poderiam ser declaradas internacionais. afinal, é lá que temos o Aeroporto Internacional. mas já há gente pensando nas liminares para autorizar Porto Alegre a também ter sua revista internacional, pois tem um aeroporto e um consagrado clube de futebol internacionais.

a visão é endofóbica e parcial, cujos resultados encaminham ao suicídio acadêmico do sistema, muito mais do que sua revivificação. de fato, as incongruências identificadas no atual sistema de encino (eu disse ensino?) não se voltam a tornar produtivos os professores considerados por estes critérios imprestáveis, ou pelo menos improdutivos. elas voam sobre as carniças, elas matam, e transformam em carne pútrida ao tecido vivo e latentemente produtivo. "cortem-lhe a cabeça", bradava a Rainha de Copas. porque é endofóbica? porque é exofílista, não era isto? sempre penso no que poderia ser se tudo fosse ao contrário do que é: e se requerêssemos que as publicações fossem em órgãos de divulgação local (pelo menos das pesquisas aplicadas nas ciências sociais), direcionando-se para "iluminar a construção da política econômica"?

ora, o ataque antropocêntrico à província é algo odioso e lembra o que out of the blue a Lebre Marchadeira indagou a Alice, mutatis mutandis:

-Aceita mais um pouco de recursos para promover a pesquisa?

Alice, a inocente e interiorana menina de Oxford, responde em tom desgostoso:

-Até agora não ganhei nem um único penny, logo, como poderia ganhar mais?

Para salvação da Lebre Marchadeira, quem respondeu foi o Chapeleiro Louco, que estava num dia inspiradíssimo:

-Você não pode apossar-se de menos recursos, sendo muito fácil angariar mais do que nada.

Alice, claro, contrafeita, garrou de pensar nos critérios de avaliação e nos clubes de avaliadores, para não falar nas linhas de produção em que já aconteceu de cada autor ter escrito menos de meia sílaba do paper inteiro, dada a proliferação de número de autores e o extraordinário poder de síntese de tão contido exército. ter-lhe-ia dito Dina -ferina- que um amigo seu, também felino, já escrevera um artigo de meia página com meio milhão de parceiros. e mais, um daqueles milhares de amigos de Dina garrou-se a pensar em como uma política de encino dessente poderia ajudar, in due time, o estoque de antas a elevar-se a pensar como corujas.

é sabido até pelas jaulas do Zoológico de Sapucaia do Sul (talvez em vias de fechamento) que um trinômio que favorece o binômio ensino-pesquisa é constituído por bons alunos, bons professores e bom acesso à produção científica realizada do outer world. a eficiência nesta atividade transcende por muitos metros de altitude o critério de medir a produtividade dos indivíduos e seus coletivos departamentais pelo critério de páginas publicadas por pesquisador. departamentos de economia, por este Brasil afora, desempenham papel ativo na formação de administradores, advogados, contadores, economistas e outros profissionais de nível superior. da qualidade da formação dos professores depende em muito o que será realizado pelo país e pelos profissionais de nível superior.

fechar departamentos "improdutivos" e matar à míngua pesquisadores "improdutivos" não se constitui numa forma pró-ativa de melhorar o ensino nem expandir a pesquisa na província. seria muito mais sensato, respeitando algumas poucas idiossincrasias pessoais, criar incentivos materiais para os "grandes centros" associarem-se a pesquisadores dos "pequenos centros". ajudando-os, por meio de programas de pós-doutorado e assemelhados, a interagirem com os bons alunos e as boas bibliotecas, ferchar-se-ia o tripé de que falei acima. ou seja, falo de um "plano de qualificação docente", com um viés pró-ativo e não des-trutivo.

além destas iniciativas emanadas da própria administração pública e seus órgãos de fomento à pesquisa, devemos pensar que os próprios sindicatos docentes podem tornar-se mais ativos na luta por melhores condições de trabalho para seus integrantes. avaliar ensino e pesquisa e sua qualidade atende aos interesses de ambos: governo e ONG. o tripé -agora rawlsiano- da liberdade, oportunidades abertas a todos e uso da desigualdade em benefício dos menos favorecisos é fundamental para ser invocado ao discutirmos estas questões. em boa medida, este tripé representa um breve contra a meritocracia num país de enormes condições de dualismo. a periferia é tosca e bizarra, ao passo que o centro é delicado e erudito. claro que estas condições não podem ser vistas como perpétuas, e a solução não é destruir a periferia, mas construir mil centros. no caso, centros de pesquisa econômica voltada ao atendimento das realidades locais envolvidas com o ensino e a geração de conhecimento.

DdAB
p.s.: uma bela explicação para o significado de "coruja de Minerva" vem-nos do filósofo rortyano Paulo Ghirardelli: aqui. resumo: mascote de Athena, a deusa grega, traduzida para Minerva, a deusa romana. a imagem veio daqui, selecinada do Google Images quando digitei o título da postagem de hoje.

27 maio, 2011

Paradigmas: economia de empresas e economia marxista

querido blog:
caso entendamos a firma como o espaço geográfico cercado por muros de arame farpado no qual o capitalista extrai a maior quantidade de mais valia do trabalhador, estaremos no caminho certo, um milímetro antes da primeira bifurcação importante. com efeito, afastados os distúrbios puramente semânticos, podemos associar-lhe -ao tópico frasal- na linha de argumentação de Imre Lakatos um amplo espectro de metodologias de programas de pesquisa da ciência econômica. acrescento que esta postagem não tem a pretensão de listar tais programas de pesquisa na ordem de seu surgimento, ou de sua importância, ou qualquer outra ampliação possível.

seguindo-lhe a ordem, podemos sugerir que pensar em firma como um conjunto patrimonial que pode ser roubado exige a explicitação de dois elementos:
.a. de um lado a atribuição de direitos de propriedades aos agentes
.b. de outro, a existência de custos de transação (custos de mercado, custos em que incide quem decide usar o mercado para resolver seus problemas de alocação de recursos).

ao lado desta linha, o contrabando da ideia de que capitalistas extraem a maior quantidade possível de mais valia a seus trabalhadores também leva a pensarmos em mais dois desdobramentos:
.a. o primeiro ocorre quando substituímos a expressão "mais valia" por "lucro", o que nos leva ao programa de pesquisa chamado de neoclássico
.b. o segundo desdobra-se da própria noção de mais valia e em que esta se difencia de lucro. e falo agora do chamado problema da transformação de valores em preços.

 comecemos por este. na economia marxista, estudar o problema da transformação dos valores (medidos em horas de trabalho) em preços (medidos em unidades monetárias por unidade de produto físico) significa fazer uma reflexão sobre toda a teoria do valor, vale dizer, toda a teoria da concorrência, vale dizer, toda a teoria do equilíbrio, vale aduzir, sobretudo tudo. mergulhados, assim, no programa de pesquisa da economia marxista, no tópico frasal, foram feitas duas afirmações.

a primeira (ligeiramente incorreta) é que o capitalista (no singular) extrai do trabalhador (no singular) a mais valia. um desdobramento importante deste reparo - capitalista versus trabalhador - é entendermos que estamos generalizando ao contrário: da proposição válida para o conjunto da economia ("a classe capitalista, enquanto classe, explora a classe trabalhadora, enquanto classe"), estamos particularizando para a empresa individual ("na Editora GangeS, o proprietário [residual claimant] capitalista explora os trabalhadores"). em outras palavras, apenas se entendermos a solução do problema da transformação de todos os valores em todos os preços da economia (e haverá mercadorias sem valor, mas com preço) é que poderemos fazer sentido desta ideia de exploração. haverá setores em que o trabalhador é explorado? em média, sim, mas especificamente, se levássemos este conceito ao extremo, teríamos trabalhadores explorando o capitalista. isto porque haverá empresas que vendem abaixo do valor, outras vendem precisamente equalizadas e terceiras que vendem acima do valor. dificuldades do conceito de valor, se expandido para explicar fenômenos além do desvelamento do fetichismo das mercadorias.

a segunda fala em maior quantidade possível de mais valia, o que remete ao universo do papel da racionalidade e da maximização (de lucros) neste programa. tais aspectos nem sempre são devidamente levados em conta na discusão apressada. muitos pensam que supor que os empresários agem racionalmente e, como tal, desejam produzir a quantidade que gera o máximo lucro, é um desvario neoclássico. desvario ou não, o fato é que esta ideia percola ambos os programas de pesquisa - marxista e neoclássico.

por contraste ao programa de pesquisa da economia marxista (por sua vez desdobrado em diversos miniprogramas, que designo por "leis gerais do desenvolvimento do capitalismo", cada lei encapsulando o cerne de um programa), por contraste -repito- o programa de pesquisa chamado de neoclássico, ainda que discordando da noção de exploração (de uma classe por outra e, menos ainda, da exploração do trabalhador dentro da empresa), faz coro às noções de racionalidade econômica e maximização.

contrastando com ambos, alguns neoclássicos e outros, institucionalistas, dizem ser impossível para os agentes econômicos (isto é, seres humanos) deterem toda a informação possível necessária à orientação de sua ação racional em busca da otimização de sua função decisória (consumo de uns e produção de outros). esta abordagem tráz à discussão a questão da racionalidade limitadora da ação dos agentes. e seus desdobramentos sobre a teoria da firma dos anos 1950-1970s.

este tipo de reflexão, se desdobrado, permite formarmos uma visão sucinta de cada uma das escolas (que já chamei de "programas de pesquisa" e nem falei em "paradigma") de pensamento sobre a economia, demarcando semelhanças e diferenças, complementaridades e lacunas comuns, antagonismos e síntese. com tal visão sucinta, se a formarmos, poderemos galgar a compresensão do universo de atuação da empresa capitalista, e, como tal, qualificar-nos a conjeturar sobre a conveniência da regulamentação da atividade mercantil privada. mais fácil do que rimar alhos com bugalhos.

DdAB
a imagem, que veio daqui, simboliza a exploração da natureza pelo homem.

26 maio, 2011

Eça 2 x 1 Borges

querido diário:
o limite da puerilidade humana e, em particular, deste que este subscreveste, é pueril. sigo com os escores futebolísticos, eu que bem sei que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense foi roubado no último Gre-Nal. seja como for, li dois livros de Eça de Queiroz e estou em processo de ter um terceiro. li "A Cidade e as Serras", como bem sabemos, como também sabemos que li "A Correspondência de Fradique Mendes" e andei postando sobre ambos, o que se comprova empiricamente válido.

muito mais li de Jorge Luis Borges, que -nos quatro volumes de suas "Obras (in)Completas"- citou Eça uma vez. na p.460 do v.4, vemos uma referência elogiosíssima. não juro que não haja outra/s, pois até parece que lembro, mas o que esta declaração de puerilidade aponta para é que falta um bom índice analítico naqueles volumes. na vida moderna, a solução mesmo será termos a obra disponível em PDF, quando se poderá fazer gato e sapato em matéria de localização de regularidades (paralelismos e simetrias). ((la veritá é que, abaixo, falarei que a mente do leitor hospeda com alegria esta fábula impossível. e que, quando li, fiquei marcado para sempre: 'um dia ainda leio este cara')).

na p.460 citada, Borges faz uma book review (ainda bem que a proposta de banir os estrangeirismos foi desmoralizada) de "El Mandarín", escrito, claro, originalmente, em termos camonianos. menos arcaico, nada ou quase nada arcaico, actually. olha o Borges: "Famoso en su pequeña e ilustre patria, José María Eça de Queiroz (1845-1900) murió casi ignorado por las otras tierras de Europa. La tardía crítica internacional lo consagra ahora com uno de los primeros prosistas y novelistas de su época." ((sic esse María com í com acento; 1900-1, by the way, é o ano do nascimento de Borges himself)).

há anos ouvi dizer que um autor tem que ser um viajador, não digo "viajandão", não? pois Eça, pelo que cita Borges nesta página, viajou: inauguração do Canal de Suez, e mais no Egito, Palestina, La Habana, Newcastle, Bristol, China, París. vou citar agora, to conclude with, o penúltimo parágrafo inteirinho:

Cada oración que Eça de Queiroz publicó había sido limada y templada, cada escena de la vasta obra múltiple ha sido imaginada con probidad. El autor se define como realista, pero ese realismo no excluye lo quimérico, lo sardónico, lo amargo y lo piadoso. Como su Portugal, que amaba con cariño y con ironia, Eça de Queiroz descubrió y reveló el Oriente. La historia de O Mandarim (1880) es fantástica. Uno de los personajes es un demonio; otro, desde una sórdida pensión de Lisboa, mata mágicamente a un mandarín que tiende su barrilete en una terraza que está en el centro del imperio amarillo. La mente del lector hospeda con alegría esa impossible fábula.
eu disse que ira concluir? disse.
DdAB
e disse que a imagem veio d(aqui)? não dissera. e acho que deve ser aquele festival da mentira, ou minto.

glossário via Tradutor-Google:
.a. templar - afinar, soar.
.b. barrilete - barril, mas acho que é barrete. e barrete também deve originar-se de barril, I guess.
.c. terraza - terraço (fiquei tão nervoso que tive que olhar o dicionário para este cognato).

25 maio, 2011

A Ajuris e a Justiça Distributiva

querido diário:
foram-se dois dias sem que eu lesse Zero Hora: segunda- e terça-feira. mas, in the end, li a de ontem e, claro, a de hoje. mas vou à p.17 da de ontem, com o artigo de João Ricardo dos Santos Costa, presidente da Ajuris. olho no Google e vejo que a Ajuris é um business, que tem uma escola de direito da qual, por puro acaso, o articulista é professor de ética e de estatuto jurídico da magistratura judicial.  o que quer que estas duas expressões "ética" e "estatuto etc." signifiquem. creio que vale a pena despender alguns meses estudando este site para entender bem o que é a Ajuris. uma escola, o presidente da Ajuris sendo seu professor. vejo mesmo outros nomes conhecidos como professores. falta confrontar quantos também são juízes (no sentido de juízes e professores).


os dois primeiros parágrafos não poderiam caber melhor no manifesto eleitoral de qualquer partido de esquerda no Brasil. chavonesco. destaco:
 
"A forte influência da Escola de Chicago no Fundo Monetário Internacional (FMI) obstaculizou no Cone Sul a caminhada desenvolvimentista de base keynesiana construída na Cepal e embalou a globalização das políticas crescentes de apropriação do Estado.

e devemos entender por "Escola de Chicago" parte do departamento de economia da University of Chicago que teria influenciado o FMI ("fome, miséria e imperialismo", como li há anos). a citada "caminhada desenvolvimentista de base keynesiana construída na Cepal" tem muito a ver com o "nacional-desenvolvimentismo" que tenho muito fortes razões para crer ter sido um dos responsáveis da abertura do leque salarial (salarial?) no Brasil. teria, a meu ver, começado com as empresas estatais, fundindo-se com ambições industrialistas dos dirigentes das empresas multinacionais e rapidamente alcançando as remunerações dos estamentos (que ele já designará por "segmento") da alta administração pública, especialmente os políticos e -você já anda adivinhando!- o poder judiciário.


e o prof. dr. Costa não demora a ir a seu ponto central:

[a administração estadual] [a]djetiva de altos salários a remuneração dos servidores públicos que compõem uma classe média que está longe de ser uma alta classe média, como se esse segmento detivesse o acúmulo de riqueza que gera o abismo social no Brasil.

pensei direto na novolíngua. "salários"? não seriam vencimentos ou ordenados de juízes e deputados? fora os proventos da aposentadoria de juízes e governadores? essa turma compõe uma classe média? abáuti, postei isto (clicar). e tem o Leonardo Monastério que postou isto (clicar). e mais: é absolutamente certo que essa negadinha se encontra nos upper one percent! e, como sabemos, os upper one percent concentram uma expressiva fração do "acúmulo de riqueza que gera o abismo social no Brasil". e digo mais: é apenas um imenso e trágico abismo social que permite que não exista imposto de renda num país em que os juízes e os deputados ganham um razoável múltipli de R$ 545 mensais. como não consegui achar bem achadinho o sujeito da frase que tem lá um troço assim "os que estão cada vez mais perdendo os direitos sociais construídos a duras penas pela humanidade", pois caí na gargalhada. não estaríamos falando daqueles ascensoristas da Petrorás da Av. Rio Branco de que falo e que ouvi dizer ganhar mais do que os professores titulares doutoras das universidades federais.

a saída, bem sabemos, é atacar o abismo social por dois lados encapsulados no orçamento público, lei que os juízes e os demais cidadãos deveriam zelar. lado da receita pública: imposto de renda progressivo. lado da despesa: gasto universal. como disse uma vez Stanislaw Ponte Preta, sobre outro assunto, em uma crônica: "Vamos acabar com essa folga."
DdAB
p.s.: duvido que algum professor da Escola da Ajuris jamais tenha encarado uma dessas refeições de classe média: aqui.

22 maio, 2011

Sagan, Ciência e Democracia

querido blog:
vão-se alguns anos desdeque Carl Sagan feneceu. eu gostava dele e li um que outro de seus livros. muito sobre astronomia, mas muito mais. na postagem abcz, falei no livro de Nicholas Alchin, que fala de Sagan |à p.20. em minhas palavras, um tanto resultantes de uma tentativa de resumir e traduzir, lemos que existe um fator interessantíssimo que é comum entre a ciência e a democracia. o sucesso de ambas repousa na transparência e ambas têm a estrada real para o progresso ligada à possibilidade que ofereçam a todos de olharem os dados ("have a look at the data"). seguem ambos -agora não são a ciência e a democracia, mas o Alchin e o Sagan- dizendo que todos têm o direito de contribuir, mas apenas aqueles que fazem o serviço ganham o dia.

eu pensei nisto hoje, pois o dia está lindo e se pensarmos no que aguarda o Brasil teremos que pensar duas vezes nesta questão de que "todos têm direitos". isto está longe de ser verdade. e nunca será, a menos que mudemos o sistema político. não sou mal-humorado, apenas um pouco contrafeito por ter um friozinho na barriga por achar que acabou o governo Dilma.
DdAB
a imagem veio de . e acho fundamental voltá a investigá. surpreendi gregos e troianos, no outro dia, por revelar-me sabedor de princípios básicos de astrologia. ergo, poderia analisar o mapa astral de Carl Sagan, o que daria um duplo romantismo a tudo!

21 maio, 2011

Demônios Laplacianos

querido blog:
claro que não sabemos, e talvez nunca venhamos a saber mas talvez venhamos, se Deus existe. no outro dia, marcou-me a tolerância sobre o espiritualismo ver um carinha dizer que tão impossível provar que Deus existe quanto buscar a prova de que ele não existe.sobre o conhecimento absoluto dos acontecimentos de todos os tempos -passados e futuros- nem precisamos invocar a existência de Deus, mas do demônio laplaceano.

a versão radical diz que tudo o que fazemos, inclusive os lançamentos de dados de azar, tem resultados conhecidos por este ente sabe-se lá se demoníaco ou divino. agora, digamos que isto seja assim mesmo, que tudo o que conhecemos, este "universozinho conhecido" seja fruto de um programa de computador (oslt) de seres tetradimensionais. ou melhor, supondo que nós sejamos tetradimensionais com o vetor energia-tempo-massa-espaço, então esses carinhas (ou apenas "Esse Carinha", hahaha) seria/m pelo menos pentadimensioais. e já li um livro que diz que o universo é heptadimensional.

para facilitar-nos a vida o melhor mesmo é pensarmos que detemos controle sobre algumas variáveis e não sobre outras que definem mais nossa vida do que nossa morte. (ainda que tenhamos mais habilidade em definir a morte, com o vulgar suicídio, o sofisticado sedentarismo, a cachaça, e por aí vai). ok, ok. esta postagem é "Escritos". se não o fosse, eu iria seguir filosofando sobre o que fazer com o conhecimento de que, quando o preço de uma mercadoria sobe, seu preço cai. e eu diria que, ceteris paribus, foi o preço que causou a variação na quantidade e não que foi a quantidade que causou a variação no preço, ainda que possa conceber uma e outra hipóteses. como não é de economia política que estou falando, então não falarei mais nada.
DdAB
esta linda imagem de fractal veio daqui.

19 maio, 2011

A Língua do Mal*

querido blog:
esta não é uma postagem de marcador "Vida Pessoal", mas de "Economia Política". seja como for, vou dando uma explicação pessoal: fiz desaparecer de minha vida o exemplar de hoje de "Zero Hora", que iria documentar ser mesmo a "Zero Herra" que às vezes meus maus bofes levam a epitetá-la. seja como for number two, as páginas 4-6 têm duas matérias que me interessam, além de milhares de outras páginas e matérias. mas ater-me-ei a estas.

duas delas falam na questão do veto do governador Tarso Genro ao tresloucado projeto do deputado Raul Carrion, proibindo as pessoas de conversarem entre si ou mesmo lerem textos com estrangeirismos, o que já colocaria esta postagem sob censura. Tarso vetou pilhas de artigos da lei, mas deixou vigente o artigo 2 (tudo de memória, mas olhe atentamente a ilustração da postagem de hoje, colhida como "Alzheimer").

só que agora, mais de duas horas depois que comecei a redigir (pois fui numa festa), achei a Zero Herra. então vamos aos erros, to begin with. nas p.4-5, repete-se a matéria "Reconhecer a variedade é legítimo", na p.4 e repetida na p.5. quem disse este troço de reconhecer a variedade foi a profa. Ana Maria Stahl Zilles, doutora em linguística. eu também acho. o que acho errado é a Zero Hora repetir a matéria inteirinha, a entrevista da professora. e o erro da professora é defender, by and large, a piada que está no livro sub judice de como ensinar português a brasileiros que não aprenderam a escrever na primeira infância, pelo que entendi. pois bem, diz a profa. Zilles que o primeiro capítulo, tão criticado por dizer que "nóis vai comê os pêche" está está certo, se é do português/brasileiro falado. estou com elas, a linguísta e a autora do livro, pelo que entendi, que não li o livro e nem creio que venha a fazê-lo, por razões, digamos, analfabéticas...

mas o que me parece um absurdo de a professora engolir e de a autora escrever é alguma arbitrariedade do tipo: "Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico." gelei. eu mesmo já fui vítima de preconceito linguístico, em Jaguari, quando minha formação começou a distanciar-me de colegas um tanto mais negligenciados pelos governantes. quando eu passei a dizer: "tu mataste os passarinhos", eles começaram a achar que eu estava falando difícil, empolado e isto iria fatalmente levar-me a uma aliança (odiosa, segundo alguns) com a classe dominante. em boa medida, isto se confirmou, pois vim a estudar a ciência econômica, o que -como sabemos- nos faz todos lacaios do imperialismo ianque. em Oxford, se eu dissesse "tu matou os paçarinho", ninguém iria entender. mas eu fiz tropelias do mesmo escol com a língua inglesa e nunca ninguém reclamou. nunca, por lá, fui vítima de preconceito linguístico, pois todo mundo sabia que eu não era um native speaker. eu mesmo, quando minha engenheira de manutenção residencial diz: "sinhô Duilio, quer alcançar-me uma nota de R$ 100 em necessaríssimo adiantamento por serviços vincendos", exercito novamente meu preconceito linguístico, tachando-a de taxista, algo assim, ou até taxidermista.

mas ainda pior do que esta besteira do preconceito linguístico é a sentença: "Por uma questão de prestígio - vale lembrar que a língua é um instrumento de poder [...]." gelei. meu chapa, eu exercito meu poder sobre a autora ao dizer que este negócio de samba lelê, ou melhor de va-lelê-mbrar é, para mim, estilo das classes inferiores, ou seja, de quem escreve sem cuidados elevados com a língua. cacofonias devem ser evitadas, em meu jeito de olhar os estilos refinados, elevados.

e pior ainda do que este viés sociológico da autora do livro que, presumo, terá formação universal, sabendo, não apenas sociologia, mas também ciência política, e todas as demais ciências já catalogadas e por inventar, pior ainda, repito, está a seguinte frase: "A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio." eu pensei: só mesmo o Banco do Brasil (na visão do analista de Bagé, que eu ainda poderia citar a fonte), que financia todo tipo de besteira para ter levado grana ao bolso daquela macacada que fez o livro. acabo de provar acima que o sinal de prestígio aparece quando tu falas a língua de teus interlocutores e não o contrário. repito: em Jaguari, o fato de falarmos certo, ou melhor, falarmos acertadamente, é que nos desmoralizava, pois falar errado é que era falar certo (lembro myself da crônica de Celso Pedro Luft falando da crônica de Luiz Fernando Veríssimo, que dizia algo como "estou falando errado, certo?" mas Machado de Assis também usa o adjetivo como transformador do verbo, não se contentando com os advérbios. este é o português brasileiro, mas o escrito, pois nunca ouvi Machado de Assis falando. tudo o que dele sei veio-me por seus escritos.

em resumo, a autora do livro, cujo nome nem lembro, é uma criatura que se envolveu numa refrega para a qual estava absolutamente longe de ser preparada. mais ainda, diz a matéria das p.4-5 que milhares de doutores do MEC leram o livro e aprovaram. pensei: por jetons de muito menos valor, o ministro Palocci comprou seu apartamento. afinal, dizem alguns, todos temos que morar, não é mesmo? o que eu acho mesmo é que estes dois casos -Palocci e livro do peiche- deveriam ser julgados pela Corte Internacional de Haia, pois são lesa-humanidade.

o outro erro de Zero Hora está na p.6, e é de linguística, ou de linguagem, sei lá, que não estou para estas sutilizas de fonema e fonética (ou vice-versa). lá o jornalista que exarou (exalou, azarou?) a matéria de Brasília escreveu: "[...] além de não deixarem ele entrar, impediram-no de afixar cartazes [...]". pensei: este cara dar-se-ia mal no meu colégio, ao dizer "deixarem ele" e, em Jaguari, ao dizer "impediram-no". a vida é difícil, lógico. é claro que não pode escrever assim, ou agrada Jaguari ou agrada Machado de Assis. eu diria que, na escrita, devem agradar Machado, pois a escrita da autora do livro é que foi feita a machado, e bem que poderia ter sido esculpida a canivete.

por puro acaso, há um erro de política na p.6, com o ministro Antonio Palocci, que informou estar cheio de razões para dizer que o apartamento é mesmo seu, que não foi roubado e que foi ganho com o suor de seu rosto. e o pior é que o PSDB está levando a sério a estratégia que abomonei ainda há dois dias, ao elogiar o governador Geraldo Alkmin, que parece ter-se flagrado de que uma oposição imbecil carrega derrotas muares.

pois bem, a língua deu assunto suficiente. passemos agora ao MAL*, o afamado Movimento pela Anistia aos Ladrões Estrela. o MAL*, como sabemos, defende que todos os ladrões estrela sejam anistiados e que a seriedade seja implantada na política brasileira em 2021, ou seja, daqui a 20 anos. se alguém quiser radicalizar, então que os ladrões sejam deixados em paz até 31/dez/2011, e a vida nova comece no raior do novo ano. caso o programa seja para 2011 ou 2022, ou 2222, etc.., recomendo as seguintes medidas, entre outras:

.a. imposto de renda progressivo decentemente determinado
.b. imposto sobre a transmissão de fortunas
.c. voto facultativo nas eleções
.d. parlamentarismo como forma de governo
.e. voto distrital puro
.f. orçamento universal
.g. reforma do sistema judiciário valorizando o tripé punição-repressão-prevenção.

o resto é stalinismo, como é o caso do art. 2 da lei do deputado Carrion que não foi vetado e que proíbe os funcionários públicos estaduais de falarem estrangeirismos. sorte que sou um aposentado do sistema federal de ensino, o que me permite dizer: "au revoir".

DdAB
fonte da imagem: clique/aqui.

18 maio, 2011

27,5 0 x 2 20: imposto de renda x valorização patrimonial

querido diário:
na postagem 700, torno-me enigmático, mas o próprio título começa a bocejar, então explico tudo. 27,5 é a alíquota máxima do imposto de renda brasileiro que levou dois gols da milagrosa valorização patrimonial registrada pelo dr. Antônio Palocci (digo "Antônio", pois penso que -pela idade dele- naquele tempo ainda se usava o chapéu; seja for, o segundo gol contra o Brasil é da ABL).

pois bem, dias atrás fiz comentários a estimativas de que encontro-me entre os upper one per cent da distribuição da renda no Brasil. por isto, a alíquota máxima do imposto de renda que incide sobre meus ganhos é de 27,5%. Palotti, nestes anos, aumentou o patrimônio, mesmo que sem heranças. ou seja, aumentou-o pois converteu renda em riqueza (na verdade, a riqueza contempla, além de imóveis e móveis, investimentos imobiliários e mobiliários, anéis, títulos e... dinheiro, ou seja, depósitos bancários que lá ingressaram como renda. até o último centavo). pois não é que, homirde professor onevercetário (ainda assim, nos upper one percent, e só imagina como serão os lower one per cent), meu patrimônio, em 2006 era maior do que o do ministro Palocci (atual e prévio)? acredita? bem disse Jorge Mautner: "nababo na Babliônia sempre é um rei". mas nem Mautner, nem Palocci nem eu somos "um pobre diabo", no máximo seríamos três...

então o cálculo que atribuem ao dr. Palocci é o seguinte:
:: patrimônio inicial em 2006: R$ 375 x 10^3
:: patrimônio final em 2010: R$ R$ 882 x 10^3 + R$ 6,6 x 10^6 (at least)
:: variação patrimonial: R$7,482 x 10^6
:: renda: R$ 7,482 x 10^6 + R$ 3,27 x 10^4 + R$ 2,85040345 x 10^6
+++ (três cruzes) :: explico-me: os 3,27 são a estimativa que fiz para os demais rendimentos dele, supondo que ele teria gasto mensalmente a quantia de R$ 545 (o valor presente do salário mínimo) e os R$ 2,85 são o imposto de renda sobre os proventos de qualquer natureza.
:: em português: a renda dele foi de, pelo menos, R$ 125 mil mensais.
:: em São Paulo mora o ex-ministro Márcio Bastos. uma vez ouvi-lhe uma entrevista em que ele informava o povo que retirava de seu escritório de advocacia R$ 250 mil mensais. um vez que meu modelo distributivo é de alta aversão à desigualdade (ou seja, talvez alta inveja), pensei que eu devia mesmo era ter sido prefeito de Ribeirão Preto ou ministro da justiça, uma coisa destas. juro que, com sete milhões de patrimônio inicial eu o multiplicaria por um milhão em 10 anos, o que permitiria ao Brasil duplicar seu PIB, o que ele dificilmente fará se eu mantiver meus atuais ganhos.

parece que chego na moral da história. não é concebível que um professor aposentado e um empresário da política ou empresário privado inovador, ou profissional liberal bombástico, residam na mesma faixa do imposto de renda. ou baixam a minha, ou elevam a deles. no caso, sou a favor de elevar a minha e elevar mais ainda a deles. uma boa cifra para a alíquota do imposto de renda chegar a 99% é R$ 30 mil mensais, não é? ok, ok, que sejam 300 mil mensais. mas quem ganha R$ 30 mil não poderia pagar apenas 27,5%, nem quem ganha quatro ou cinco vezes esta cifra palocciana.
DdAB
em abcz, você a imagem nababesca do sr. Patinhas de Disney.

 

17 maio, 2011

Ideias de Alkmin Chegam até mim

querido diário:
esta ilustração não a entendo 100%. tirei daqui. parece conter regras de funcionamento do shadow cabinet inglês (ver wiki). no Brasil, tenho notícia de dois "governos paralelos". o primeiro deles foi instituído (e durou pouquíssimo, o país ainda não estava preparado para ter "loyal opposition") por Lula, quando da acachapante e até surpreendente derrota para Collor em 1989. o segundo mostra detalhes em (clicar aqui).

no outro dia, li algo muito interessante em Carta Capital, dizendo que o PT montou-se como partido no Brasil, diferentemente -talvez- de todas as experiências históricas anteriores. simpatizei com a ideia, o que me serviu até para amenizar minha visão crítica sobre a corrupção (roubalheira) integrante da vida política nacional. a crise da oposição, PSDB em particular, mas alguns nanicos de extração pela esquerda (PCdoB, PCB, PPS, algumas destas figuras carimbadas) é que ela não conseguiu formar uma bandeira de luta para atrair o eleitor mediano que o PT capturou varrendo pela esquerda. tá na cara que ela teria que começar a varrer por algum ponto da esquerda (não na extrema, presumo) e alcançar um bom número de eleitores da direita do espectro político. e se o centro se mexer, é necessário mudar o programa (o que é outro assunto).

consideremos o teorema do eleitor mediano, que dá lições de economia (Hotelling e a formação do preço em oligopólios?), ciência política (claro) e matemática. aprendi isto com o artigo que considero deveria ser obrigatório para todos os políticos, de autoria de Paulo Trigo, expondo de maneira elementar os fundamentos da teoria da escolha pública. consideremos o caso do eleitor mediano convencional, a linha que une dois vendedores na beira da praia. o teorema diz que, entre pontos V1 e V2 (dos vendedores 1 e 2), bem no meio, deve localizar-se a nova unidade que concorrerá com um ou outro. (supondo que eles estejam postados em dois rochedos delimitando a praia).

pois Paulo Trigo trouxe-me à mente a possibilidade de que haja duas linhas. o eleitor mediano, claro, localiza-se na mediana de ambas. Trigo fala, na Europa, em
.a. mais ou menos estado (primeira linha)
.b. mais ou menos federalismo (segunda linha, ortogonal à primeira).

pois agora acabo de ver o governador de São Paulo, sr. Geraldo Alkmin, sugerindo o retorno da estratégia eleitoral encapsulada na ação de um Gabinete Sombra, como diz o jornal Zero Hora na seção da p.10. claro que ele critica o atual governo, que tem 37 ministérios, considerando razoável trabalhar com um número menor. acima esqueci de falar no PDT, mas cito (transcrevo de meu site) agora Cristõvão Buarque, do tempo em que ele era do PT, ou até antes, sei lá (mutatis mutandis):

.a. Ministério Shadow das Necessidades Essenciais (educação, saúde, nutrição, habitação, transporte, comunicação)
.b. Ministério Shadow da Educação (analfabetismo, incentivos à formação de engenheiros e empreendedores)
.c. Ministério Shadow das Medidas Distributivas (reforma fiscal, reforma agrária)
.d. Ministério Shadow da Esfera do Trabalho (abolir o trabalho escravo e o trabalho precário, nele incluída a prostituição infanto-juvenil)
.e. Ministério da Administraão das Coisas: adoção de novas técnicas de gestão do gasto público (provisão e não produção, oferta de patamares mínimos de serviços públios e bens de mérito em todo território nacional)
.f. Ministério Shadow do Serviço Municipal: proteção ao meio-ambiente
.g. Ministério do Exterior: inserção no mundo globalizado (sem perda de soberania popular).

claro que posso esclarecer tintim-por-tintim. mas não posso deixar de lembrar que, assim como pensamos em dois vendedores na beira da praia (ou dois partidos disputando o mesmo "consumidor"), podemos pensar em dois eixos, já são duas dimensões, ou três eixos (como a superfício de utilidade desenhada nos livros de duas dimensões usando uma terceira, como perspectiva), quatro (já começa a viajação, impossível de ser vislumbrada em condiçoes normais; mas tem um livro que fala dela, as quatro e outro que fala mais, até sete). então tudo se democratiza. podemos pensar no atual governo do Brasil com seus 37. e no de Alkmin sei lá com quantos, e por aí vai.
DdAB

16 maio, 2011

Disfunções Administrativas

querido blog:
na postagem de ontem, inspirei-me em matérias do jornal Zero Hora, com uma decisão absolutamente esdrúxula tomada pelo poder judiciário, mudando as regras orçamentárias da república. hoje falo do absurdo ligado ao estilo de administração pública brasileira, os escândalos, o tráfico de influência, o loteamento dos cargos públicos, o nepotismo, e  todas essas mazelas, mais de Bolívia e Botswana do que de Bélgica e... Bruxelas... claro que bem que alertei ontem mesmo, entre parênteses:

(supondo tudo o que for necessário, a fim de evitar que esta frase e postagem caiam no ridículo)

ou seja, tenho o maior medo de ser tachado de quixotesco, ao pensar que podemos aspirar à condição de Bélgica, sem seus conflitos interiores, abandonando a de Bolívia, com seus conflitos interiores. nesta linha, sendo acusado de "comuna" por uns e "liberalóide" por outros, fico com Agostinho Neto: devo estar certo. mas tampouco levo a sério totalmente esta conjetura. até é mais provável que eu esteja errado, no sentido de não estar no polo sinalizador do "absolutamente certo", filme, como sabemos, com Anselmo Duarte e Darlene Glória. ou não?


já na capa de Zero Hora, diz-se: "Frustração no Interior. Petistas exigem mais cargos no (e)stado. Em e-mails, dirigentes municipais criticam espaço dado a outros partidos. Páginas 6 e 10." claro que fui correndo a elas. na p.6, vemos patética reportagem, citando e-mails de próceres dos progressistas municípios de Arvorezinha, Carazinho, Santiago, Sete de Setembro e Uruguaiaia. todos, presumo, evadidos dos cursos de teoria da escolha pública que tenho sugerido deveria ser impingido a qualquer pessoa que deseje participar da política. antes de começar, antes de começar!

na p.10, Letícia Duarte tem a matéria "Cultura da barganha" sobre o mesmo assunto. e diz algo estonteante: "[...] no Brasil são quase 22 mil cargos comissionados, na Inglaterra são 500 e, na Alemanha, 300." ela mesma diz que não se pode pensar seriamente em administração pública num país sem funcionalismo público. claro que 22 mil CCs é uma vergonha nacional, se eu quiser exagerar o ponto. mas, se quiser esposar um ponto de vista mais racional (posso não estar 100% certo, como acabo de sugerir), fixar-me-ei (ainda que a ênclise seja mal-vista pelos falantes brasileiros mesmo ao escreverem) em algo palpável, concreto, que não é fruto de minha mente. ao contrário, ao trabalhar com autores como ele e com conceitos assemelhados é que vim a moldar uma série de pontos de vista que permitem-me com orgulho ser tachado de comuna ou neo-liberal. falo do conceito de sociedade justa, de autoria de John Rawls. tenho insistido:

.a. a maior liberdade compatível com as demais
.b.1 os cargos públicos devem ser abertos a todos
.b.2 a desigualdade deve ser administrada em benefício dos menos favorecidos.

ok, acho brabo falar que uma sociedade, nos dias que correm, é justa. mesmo na Bélgica. mas é poior em Botwana, for sure. e mesmo na Alemanha, pode-se alegar, há 300 cargos públicos que não são abertos a todos. e isto implica que podemos calcular um índice, na linha do índice de desenvolvimento humana, determinando quanto % da sociedade justa foi alcançado pelo atual arranjo. eu juraria que a Dinamarca dá de 10, contra, digamos 0,1 de Arvorezinha ou Três Coroas (esta não está na lista, mas tem a vila precária e o menino do triciclo precário à beira da estrada que nos leva à aprazível cidade de Gramado, para comprar e espairecimento do corpo e da alma). sociedade justa em Porto Alegre? em Anta Gorda? não te enganes, não me faças rir.
DdAB
este final dramático: "não te enganes, não me faças rir" veio do cancioneiro brasileiro, da mesma forma que a imagem originou-se de minha busca iniciada com "quem não chora não mama, segura, meu bem, a chupeta". mas parei aqui, pensando que tem muita gente querendo e mais ainda buscando um mundo melhor. nada procurei sobre "el que no llora no mama". na figura, note-se que à direita vemos uma placa amarela informando que há uma saída pela esquerda (talvez refira-se a reformas democráticas que conduzam ao socialismo). fora que ele é adepto a teoria do valor trabalho.

15 maio, 2011

Disfunção Erétil

querido diário:
Zero Hora do domingo sai no sábado, mas eu leio no domingo mesmo, indômito burocrata que sou, ou tento ser. então acordei (o domingo presta-se a piadinhas: ainda bem que não acordei morto...), mexi-me daqui e dali e a li... chamou-me a atenção a matéria sobre a vacuidade do Congresso Nacional (página 12, no Editorial, dizendo que o ex-ministro ciclista "Alceni Guerra definiu essa anomalia da democracia brasileira com a estarrecedora constatação de que 'o maior legislador do país é o presidente da República, e o STF trabalha de forma acelerada para se tornar o segundo'." en passant (esta expressão é homenagem aos enxadristas e agravo ao dep. Raul Carrion), não posso deixar de registrar o maravilhoso trabalho de Jorge Vianna Monteiro, que insere entre os agentes da política brasileira os juízes de direito.

pois bem, ainda não acabara de coçar a cabeça com o garfo (epa, isto era assunto de meninos de rua, cujas barrigas dágua serão retomadas abaixo) e vi na p.32 a preocupante notícia:

Saúde Pública. Disfunção erétil paga pelo governo. Um jovem de 23 anos, morador de Santa Rosa, ganhou na Justiça o direito de receber tratamento para disfunção erétil. [...] O governo pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça. Segundo relatos do processo, o jovem, que possui paraplegia congênita dos membros inferiores, foi informado por um médico que poderia ter relações sexuais se utilizasse o medicamento Caverject 15mg. A injeção não faz parte da lista de medicamentos fornecidos pelo Estado. [...] O relator do recurso, o desembargador Genaro José Baroni Borges, em entrevista à Rádio Gaúcha, disse que a decisão tem respaldo nos direitos constitucionais à saúde e à dignidade humana. A juíza da 3a. Vara Cível de Santa Rosa, Inajá Martini Bigolin, que deferiu o pedido de repasse do medicamento, deve se manifestar na segunda-feira.

achei legítimo o mal-estar do editorialista e do ex-deputado (soit-disant, deputado...) e mesmo o do jovem de 23 anos, todos lidando com disfunções. já que o domingo promete, pensei que o problema persiste no Brasil porque os poderosos negam-se a seguir a recomendação que o "Planeta 23 tem feito há anos:

.a. reduzir o Congresso Nacional apenas à Câmara dos Deputados (isto é, fechar o Senado Federal, e ipso facto (Raul Carrion à parte), fechar também os estados; e
.b. retirar a concorrência feita pelo poder judiciário, fechando-o e substituir a administração de todo o sistema judiciário brasileiro (presídios e elevadores, sentenças e acordos) por uma seccional da Corte Internacional de Haia.

e que devemos fazer com os casos de disfunção erétil? sem poder judiciário, a juíza e o desembargador não iriam, sem trocadilho, emascular o poder executivo, mudando a lei do orçamento (se era lei, então não foi apenas com o executivo que eles meteram a mão). ou seja, ele-ela não iriam prescrever a injeção de Caverject 15mg a um cidadão de Santa Rosa. ora, disfunção erétil nunca havia sido tratada na lei do orçamento, significando que a sociedade (supondo tudo o que for necessário, a fim de evitar que esta frase e postagem caiam no ridículo) não priorizou este tipo de problema de saúde (pública e individual) na hora da definição lá na lei de meios. não tinha dinheiro para disfução erétil, mas os juízes acharam que seria melhor ter. questão de opinião. questão de justiça brasileira, os juízes metendo a mão com a lei do orçamento, emendando-a durante o exercício fiscal. no STF, naturalmente, ganhará o efebo, a não ser que seu probleminha de saúde seja resolvido por alguma alma caridosa muito antes dos milhares de anos que uma causa, qualquer que seja, venha a resolver-se. em outras palavras, a juíza e o juiz consideram que a disfunção erétil tem prioridade sobre, por exemplo, a barrica dágua de crianças de 2 ou 3 anos de idade.

em outras palavras, o par de juízes (e milhares de outros) decidem quais serão as prioridades do gasto público no Brasil. não acham que valha a pena delegar estas funções, como pensariam ter feito os eleitores (primeira figura dos agentes da política de Jorge Vianna Monteiro), para a lei do orçamento. isto é uma interpretação absolutamente rasteira da regra da constituição brasileira que diz que a saúde é direito de todos e dever do estado. e as barrigas dágua? quem é que deve estabelecer as prioridades nacionais, os juízes ou o povo? melhor fariam os juízes se exigissem o cumprimento de um orçamento baseado no princípio da universalidade, evitando 99,99% da corrupção generalizada. eu adoraria ler o teor da manifestação que a juíza fará amanhã.
DdAB
p.s.: como o tema presta-se a mal-entendidos, dado que selecionei o "marcador" "Economia Política", decidi procurar a imagem "Bergasse, 19", ou seja, o berço (sofá?) da psicanálise, nomeadamente, a morada de Freud por muitos anos. esta imagem, de 1938, permite ver que a porta mostra uma cruz suástica (informando a presença de judeus, sei lá). o fato é -festivamente- que 50 anos depois eu também peregrinei: tenho uma foto por lá, mas ainda não a digitalizei. também nada mais natural que a fonte da imagem esteja localizada na capital latino-americana da psicanálise.
p.s.s.: durante o intervalo entre o primeiro e o segundo tempo do Gre-Nal, indagaram qual é a meia-vida do Caverject 15mg e qual seria o impacto orçamentário para o abastecimento em tempo integral.

14 maio, 2011

Esquerda, volver!

querido blog:
nunca ficou muito claro para mim se devemos voltar para esquerda ou nos voltarmos para a esquerda. da mesma forma, no outro dia, falei que gostaria de escrever um livro chamado de "Atrás do Comunismo", não falei? neste caso, seria atrás, no sentido de ver que strange animal era aquele que vicejou na Alemanha até 1989. e também no sentido de que cheguei, em boa hora, já depois da hora da morte dele. tesconjuro, autoritarismo, Stassi, ces choses.

de outra parte, andei promovendo seminários entre amigos para decidirmos se sou de esquerda ou de direita. até agora, os resultados são inconclusivos, mas haverá mais sessões no futuro próximo e diferido. tenho dito que sou igualitarista. claro que no espectro político, isto me torna mais próximo dos chamados partidos de esquerda, ainda que ache absurdo um número absurdo de iniciativas lá deles que considero da mais escorreita cepa do reacionarismo.

pois bem, vez que outra tenho lido textos de Denis Rosenfeld (pessoa que tenho a impressão de conhecer superficialmente) e não me agradam. mas li toda sua entrevista às Páginas Amarelas da Veja de 11/maio/2011. e posto apenas hoje, pois a diabinha da revista sumira entre outros papéis patéticos como ela, a endiabrada linha editorial. pois bem. não vou comentar tintim por tintim. mas não posso deixar de entusiasmar-me com o final lá dele:

Veja: O senhor foi de esquerda e trabalhou para o PT. Como se define hoje politicamente?

D.R.: Sou liberal, mas aceito práticas da social-democracia em situações de miséria extrema. Tanto é que sou a favor do programa Bolsa Família, desde que se crie igualdade de oportunidades para que todos os brasileiros possam prover seu próprio sustento. Não vejo problema nenhum em ser chamado de direitista. Se direita no Brasil significa a defesa da liberdade pessoal, do estado e dodireito de propriedade, sou de direita, sim, com muito orgulho.

Dudu: não entendi bem este troço de "do estado". acho que deve ser erro editorial de Veja. eu, que sou de esquerda, acho que esse negócio de "estado produtor" e não "estado provedor" para bens de mérito e mesmo pilhas de bens públicos deve ser revisto. devemos -achava que Marx é que dissera- substituir o governo dos homens pela administração das coisas. penso que tudo, tudo, tudinho, inclusive, diagnósticos médicos, sentenças judiciais e o que mais seja poderão ser administrados por meio de softwares num futuro remoto. principalmente quando nos livrarmos desta urucubaca de viver num planeta.

voltando a Denis Rosenfeld. mais uma pergunta:

Veja: Existe um ponto de equilíbrio, uma medida certa para delimitar a intervenção do estado na vida do cidadão?
D.R.: Imagine que estamos dentro de um jogo. Cabe ao governo respeitar as regras, sem inventar novas condições à medida que o jogo avança. O estado deve preservar as regras e deixar as pessoas jogarem. Deve agir como um juiz. Nâo cabe ao estado tirar de uns para dar aos outros, por exemplo. A desigualdade faz parte do processo de organização social. O estado deve dar as mesmas condições para todos sobressaírem e, assim, conquistarem o seu espaço.

Dudu: pensei (li, claro, antes da última) que há tanto problema com esta resposta que daria para escrever um livro, talvez aquele do "Atrás do Comunismo". para começar deixo claro que meu medo não é a administração das coisas, mas os governantes patrimonialistas (isto é, praticamente todos) brasileiros. claro que essa macacada vive mudando as regras do jogo para manter-se encastelada no poder, ganhando rios de dinheiros. tecnicamente isto não é "governo", mas "destrambelho". de outra parte, é claro que deve existir algum tipo de organização social que permita que as porosidades institucionais sejam corrigidas à medida que o jogo (o planeta) avança. por exemplo, é necessário fazer-se algo mais sensato para equiparar o direito dos meninos de rua ao dos animais. andei ouvindo que um cão é sócio do Sport Club Internacional.

sigo: para o estado agir como um juíz, torna-se vital a existência do estado. isto tem implicações a primeira é que se pensamos no estado, ele pode vir a existir, a ser criado. para tanto, dadas as limitações termodinâmicas conhecidas, para prover bens de mérito e públicos (Denis não fala nos primeiros, mas fala em "juiz", justiça) faz-se necessário despender recursos. pois bem, aí começa o problema da frase "A desigualdade faz parte do processo de organização social". claro que não faz, a menos que queiramos, a menos que nosso partido, nossa coalizão partidária, assim o queiram. por exemplo, com um orçamento (lei de meios) universal, podemos ter o gasto universal, isto é, o povo (democracia direta, de preferência) estabelecerá os bens de mérito e públicos que serão acessíveis a todos. ou seja, sabemos que o gasto público pode ser regressivo (isto é, beneficiar mais os mais pobres). parece que é isto o que D.R. e Dudu queremos. e os recursos? Dudu pensa que devemos cobrar impostos progressivos. em resumo: claro que o Brasil faz o contrário: gasto progressivo (beneficia mais os ricos) e impostos regressivos (prejudica mais os pobres).

em resumo: no outro dia li que Agostinho Neto teria dito: a direita me chama de esquerdista, a esquerda me chama de direitista. devo estar certo. de minha parte entendo que Denis está certo ao querer um juiz e a bolsa família. que mais posso querer?
DdAB
p.s.: a imagem veio daqui: abcz. e pareceu-me absolutamente linda. se a guria está puxando com a esquerda, é um bom sinal. e se está mandando a direita (aquele bicho louco) volver à esquerda, também é outro bom sinal.
p.s.s.: decidi colocar a imagem abaixo abaixo. simplesmente não acreditei a que sítios fui levado pelo clique dado no Sul21. só bebendo!
os autores são os "tradutores da Vila Vudu". não os conhecia. mas estranho mesmo é ver o site que selecionei como sendo "de esquerda" abrigarem aquele comentário. aí tem os seguintes:
em outras palavras, não resisti e entrei na conversa. depois do meu, veio outro comentário  (que não transcreverei) que me fez pensar que esses tradutores são mesmo é traidores...

13 maio, 2011

Ba na na li da des sobre o Fim do Comunismo

querido blog:
posso estar exagerando, a memória é menos confiável do que eu gostaria. mas não poderei olvidar que penso ter visto na TV britânica, digamos, em 1990 e 1991 diversas reportagens sobre a queda do Muro de Berlim. algumas dessas cenas levaram-me a pensar em voltar à Deutsche Republik, então já dominantemente federal, que a Demokratik dançara. minha primeira viagem foi em maio/1990, uma queda de muro tão discreta que ainda precisávamos de visto para adentrar o lado oriental da cidade de Berlim. fizemo-lo, compramos o primeiro volume do Capital em alemão, que deve jazer em algum canto na cidade de Florianópolis, se a memória ajuda.

de tudo aquilo, ficou-me na retina a montanha de berlinenses orientais com seus carrinhos de bagagem carregados de aparelhos de som, televisores, e outros, transportando-os, de metrô, ou nas ruas da cidade, da Berlim Ocidental à Oriental. pois bem, meses e muitos meses depois, comecei a ver na TV britânica (não lembro mais se era a BBC ou a comercial) entrevistas com gente que vivera o comunismo e agora vivia a reunificação, com insetos e inseticidas, expressando-me caetanescamente. o que de mais comum, notável, pareceu-me era a resposta a uma pergunta do tipo: "o que mais lhe fazia falta nos tempos do comunismo?", e a resposta invariável e unânime era: "bananas".

anos antes, digamos, 1986, o Brasil enviara uma missão comercial a Cuba que voltou cabisbaixa, pois nada poderia vender aos cubanos, que nada podiam pagar por nada. O Brasil, naturalmente, era carregado de e por bananas (saíram os militares, mas permaneceram seus asseclas). O Brasil, e seus usineiros, também era inundado por cana-de-açúcar. queríamos vender ar condicionado, até parece que vendemos uma centena. mas nada podíamos comprar. neste clima, andei fazendo as seguintes reflexões.

primeiramente: troca de banana por tratores (ou, o que dá quase na mesma coisa, Traband, o afamado carrinho da Berlim Oriental que nos ilustra hoje). ademais, serviços turísticos: os alemães adorariam meter uns mojitos na Bodeguita, que falo de ouvido, que não sou destas coisas... se fosse o Brasil, poderíamos ter aproveitado serviços médicos também, enviando-lhes sapatos e soja, além de produtos tipicamente produzidos por empresas multinacionais, como fez Juan Domingo Perón, já na condição de presidente da Argentina, que forçou ("forçou"?) a sucursal da General Motors a vender para o Clube Fidel Hilário...

o que há de comum entre as ofertas de bananas, tratores, cirurgias e sapatos? é que se trata de bens ou serviços levados ao mercado, isto é, mercadorias. mesmo que não pudessem ocorrer triangulações, apenas -para seguir no caso alemão- a troca de bananas por tratores iria fatalmente dinamizar as duas economias monetárias, Cuba e DDR. lá no primeiro semestre da faculdade de economia, se estuda um modelo elementar de determinação da renda (no mercado de bens) e que mostra um tal de teorema do orçamento equilibrado. ele também vale, só que em menor escala, ou seja, em menor potência, também para as economias que têm outros mercados funcionando (além do de bens, nomeadamente, o de dinheiro, o de divisas e o de trabalho). o teorema do orçamento equilibrado diz que, se teu governo gastar R$ 1 e, ao mesmo tempo arrecadar R$ 1, a renda de equilíbrio crescerá em R$ 1, ou seja, mirácolo. mesmo que não seja R$ 1, mas digamos R$ 0,01, os governos dos comunistas tropicais e dos alemães do norte iriam beneficiar-se. uns comeriam mais bananas, os outros usariam mais tratores e ambas as populações seriam mais felizes, desfrutraiam de maior bem-estar.

na verdade, o impacto em ambas as economias seria maior do que os R$ 0,01 instilados pelo pessimismo que dá seriedade ao exemplo. claro que as bananas que seriam abocanhadas pela alemoada não seriam comidas em Cuba de qualquer jeito. nem os tratores lá nos temperados, que já estariam devidamente patrolados (ver postagem lítero-nonsensical).
DdAB

Traband e Enigmas do Blogger

querido blog:
hoje recebi um bilhetinho estranho. ontem, também de modo estranho, postara um material falando sobre a troca de mercadorias: bananas comunistas made in Cuba por, digamos, automóveis made in DDR, a Deutsche Demokratik Republik que foi sepultada semanas depois da queda do Muro de Berlim. o bilhetinho será transcrito abaixo. o Trabant ilustrará a postagem de hoje. o título de ontem era algo como bananalidades, que não será mais usado. das banalidades das geléias de banana, e automóveis per capita, passamos a uma falha monumental no meu provedor de blog gratuito. gratuita a leitura e gratuitos os serviços que me prestam. na verdade, meu ponto ontem é fácil de resumir.

quando caiu o comunismo na Alemanha Oriental, ouvi muitos relatos dizendo que uma das razões que os fazia descontentes era a dificuldade de comprar banana. e pensei que os cubanos poderia ter-se especializado neste produto tropical. e trocar. e citei os modelos elementares de determinação da renda, para dizer que a banana e o Trabant poderiam ter levado aqueles dois povos ao paraíso. eu disse "poderiam", pois entendo que o que derrubou mesmo a ditadura comunista em Berlim foi a carência por liberdade. e que ainda não pintou nada igual na monarquia Castro, que rege Cuba há duas gerações.

ok. a cartinha é a seguinte:

Caro Senhor:
As almas jovens são as mais fecundas para  a prática do debate frutífero, apenas acessível aos bem-intencionados. Por isto, recebi com galhardia as referências a meu nome no já memorável artigo em que V. S.comenta um elenco de problemas que assolam a vida contemporânea. Junto-me a eles, digo, junto-me aos homens e mulheres de boa-vontade que expressam o desejo de vê-los resolvidos. Todavia não quero falar dest tipo de abordagem ao cotidiano, por mais promissora que ela seja para viabilizar os encaminhamentos das questões que hoje conspurcam a trajetória luzidia do sofrido povo (de Floripa) que vive entre o Abraão e Zimbros. O que me traz à lúcida presença de V. S. é tentar aprofundar o que percebo estar encravado nas entrelinhas de algumas brilhantes mensagens que tenho lido, postadas que vejo em desencontrados locais. Percebo que V. S. sugere que o grande impeditivo de que a humanidade se alce às estrelas é um banal problema de gestão.

Em outras palavras, entendo que V. S. acha que, se os pobres do planeta melhor pudessem gerir suas necessidades, buscando adaptá-las aos recursos disponíveis, eles não seriam pobres, e seriam até mais ricos do que o mais rico dos capitalistas abundantes no Nordeste da Nigéria. Creio, obviamente, ser esta proposição um tanto exagerada, mas em linhas gerais minhas reflexões me levam a concordar com todo o exagero que possa nela haver, eis que da contradição nasce o movimento e, com este, nascem os processos evolucionários. Na verdade, cheguei a pensar em sugerir à Academia que, ao invés de falar em "movimento", quando se refere ao mundo empírico, fale sempre em "evolução".

Por isto, na intenção de melhor qualificar a trajetória dos pobres, tenho 23 problemas de gestão a discutir, sob a perspectiva da redenção do povo que ora prende-se ao Planeta Terra como Cristo à cruz. Assim, recomendo que o que quer que seja que se queixe que o contido abaixo seja lido sob o título de "Traband e Enigmas do Blogger."

editei ligeiramente aqui e ali
DdAB
p.s.: nada encontrei "abaixo".
p.s.s.: tem milhares de fotos do Trabant, que destaquei apenas esta. aparentemente, esse carro foi produzido até o final, ou seja, 1989. em seguida, como apêndice (variável de controle), vai um carro Ford 1989. não penso que o Brasil tenha maiores motivos de orgulho, pois seu padrão de vida, mesmo naqueles tempos difíceis era dromedariamente inferior ao da Alemanha Democrática.
 
p.s.s.: mais surpreso ainda estou ao ver que a postagem que não saiu saiu.

11 maio, 2011

Olhando para Fora: capitalismo e China

querido blog:
o capitalismo acabou há mais de 15 dias. esta minha piadinha já completa, sem exagero, uns 15 ou 20 anos, e ainda sorrio quando lembro dela. o que se passa na China não pode ser chamado nem de capitalismo nem de socialismo. se o socialismo é uma quimera que não precisamos nem cuidar de definir, se quisermos devotar-nos ao mote de Gerônimo Machado ("queremos reformas democráticas que conduzam ao socialismo") e se o capitalismo utópico é aquilo que Samuel Bowles definiu como uma idealização baseada nos modelos de concorrência perfeita (ou levemente imperfeita) e contratos completos, então talvez nos estejamos encaminhando mesmo para um sistema econômico que não está devidamente batizado. e talvez nem precisemos batizar, pois dele surgirá outro que gerará mais um, e outro...

qual o destino? atrevo-me a pensar apenas no rumo das estrelas. acho que precisamos pensar seriamente em desenvolver tecnologias que permitam a todos dar no pé do Planeta Terra. o maravilhoso que a espécie humana poderia fazer seria deixar o resto da macacada em paz por aqui, evadindo-se para naves muito mais seguras de viajarem pelo espaço do que esta -por assim dizer- batata quente em processo de resfriamento.

segue-se logicamente do que falei que:
.a. quando falamos em preços e quantidades e os queremos agregar, devemos pensar nas "quantidades monetárias leontiefianas", que atribuem preço unitário a tudo. com isto, penso que resolvemos alguns problemas conceituais associados ao nível de preços absoluto e, como tal, o próprio valor das mercadorias (ou de magotes de mercadorias, agregadas por melho de seus respectivos preços específicos).
.b. de acordo com a dupla Arrighi-Braudel, a grande onda progressista da sociedade humana é a sociedade mercantil. o capialismo é apenas um fração recente dela. como sugeri, ele está acabando. acrescento que ele não existiu sempre, né, meu?.

nesta linha, é evidente que foi no capitalismo que a troca recebeu o maior impulso, pois o dinheiro galgou a posição de solvente universal. e cada vez mais universal, como o atesta o novo shift para o Oriente, com a Índia e a China, os tigres e os novos tigres. e, claro, o Japão. cada um deles pega a taxa de crescimento da produtividade dos anteriores e a bota no bolso. sonho que o Brasil e a Bolívia (para não falar em Botswana e Bopal) façam o mesmo...

ou seja, antes de nos evadirmos do planeta, precisamos acabar com o estado nacional, transformar mesmo o dinheiro no solvente universal planetário, criar um dinheiro mundial, o banco central mundial, um poder judiciário internacional, essas coisas. na medida que o solvente universal vai-se globalizando, o que acontece é que a produção também vai-se revolucionando pela ação da lei da concorrência (eu quase disse "a lei do valor"). vencida a transformaçãodo trabalho vivo em trabalho morto dentro da esfera da produção, o capitalismo retira-se da produção e centra-se na esfera financeira. querer impedir isto é querer esconder o sol com a peneira, é querer atrasar a fuga de seus raios malignos quando estes começarem a corroer todas as formas de vida planetárias, não apenas a dos pobres...

tem muito nacionalista enrustido de esquerdista que ainda pensa no desenvolvimento autônomo da Bolívia e do Butão, not to speak of the Brazilian glorious progress and its myopic order. tem muito nacionalista que vê a investida china no mundo das mercadorias como ameaça. eu vejo como bênção, desde que (tinha que ter um "porém") também ela seja convidada a fazer lá suas reformas democráticas que conduzam ao socialismo. por exemplo, eleições, trabalho liberto, eliminação da Hora do Brasil de da pena de morte.

segue-se necessariamente que a relação enter compras e vendas é que as primeiras movem o mundo, mas só se pode mexer na demanda (|compras) se tiver dinheiro, o solvente universal. e só tem dinheiro quem vende ou o ganha de presente de alguém que vendeu algo (inclusive o estado que, para estes fins, podemos dizer que vende arranjos institucionais). Akio Morita, se bem lembro, em seu livro de memórias, fala que, para financiarem a empresa de eletrônica que queriam criar, começaram vendendo panelas elétricas para seus patrícios japoneses. com o lucro, puderam crescer e diversificar-se. e mais ainda, ele me ensinou que "só competitivo externamente quem é competivo internamente". na linha schumpeteriana, eu diria que há quatro e apenas quatro competências:

.a. na produção (como fazer)
.b. na circulação (como vender)
.c. nos custos internalizados (como fazer com custo mínimo, como controlar custos e demanda, como controlar parceiros)
.d. custos externalizados (sub-contratações).

a questão do -no dizer de Félix Guatarri- capitalismo mundial integrado, não estamos falando na produção, mas na circulação e na contabilização dos custos internos e externos.

segue-se logicamente que você lerá em instantes minha despedida usual:
DdAB
imagem do site da psicóloga Maria Fernanda: aqui.

10 maio, 2011

GLS: Gersons, Juízes e Farnéis

querido blog:
Um padre querer ter suas opiniões sobre o lado da alcova do casamento levadas a sério é o mesmo que eu querer que minhas opiniões sobre a organização do serviço sejam levadas a sério, digamos, num bordel ou numa sala de microcirurgias oculares. Além de certos limites mais ou menos óbvios, não deveríamos ser levados a sério, um celibatário e um blogueiro. Eu falarei abaixo sobre sociedade justa, o que me leva a opinar, marginalmente, sobre a organização dos serviços de família, gastronomia e justiça nacionais.

Mas o padre Gerson Schmidt, no artigo da p.17 de Zero Hora de hoje, indignado com o reconhecimento de direitos e deveres iguais aos casais homossexuais diz cada uma... Por exemplo, ele diz que "[s]abemos, por tradição e pelas [e]scrituras, que o [c]riador fez o homem e a mulher, tão somente nessa modalidade, como núcleo primitivo da família humana." Antes, já dissera que "[há] silogismos falsos que levam a conclusões equivocadas (e até pensei: todo silogismo mal formado leva a conclusões equivocadas). Eu pense, no estilo de seu artigo, num exemplo didático:

M: Todos são iguais perante a lei
m: Ora, os gays, lésbicas e simpatizantes são iguais entre si
C: Logo, a lei é para os iguais perante a lei, o que exclui os GLS.

"Tão somente nessa modalidade"? Cocei a cabeça com o garfo (era hora da banana esmagada no breakfast) e tornei-me menos sorridente, que diabos de modalidade seria aquela à que o santo homem estar-se-ia referindo. Um padre falando de gays, um papa proibindo abortos e convivendo com a pedofilia dos eclesiásticos, que religiãozinha! Depois desta minha derrapada no silogismo, tentarei novamente. Qual diabos mesmo é a validade epistemológica do conhecimento (saber) por tradição? O das escrituras é até mais fácil de dizer: é a autoridade do papa, neguinho tido por infalível em assuntos religiosos. Aliás, quem o desconsidera não pode ser declarado prosélito. Falsificação ad hoc. Voto no partido que topar ampliar os direitos de todos, incluindo, obviamente, por serem seres humanos, os GLS, os meninos de rua, os meninos de casa que não têm acesso à educação com merenda. Voto contra aceitarmos como valor absoluto a tradição. Se nosso sistema judiciário os aceitasse, também aceitaríamos a escravatura, a infibulação feminina, o direito ao espancamento das crianças, das mulheres, dos jogadores de futebol, o que seja.

Sistema judiciário? Pois vejamos o que diz o "drops" da p.3, "Informe Especial": "Os juízes responsáveis pelos principais presídios do Estado decidiram, por unanimidade, solicitar a suspensão da portaria que estabeleceu a revista íntima nas crianças que visitam familiares na cadeia." Centrado (geometricamente, devo acrescentar) em meu umbigo, pensei que -se me fosse dado o dom de trocar fraldas, ser-me-ia fácil colocar, pelo menos, 30 telefones celulares entre duas camadas, a primeira protegendo a criança por uma grossa camada de hipoglós. Quando nasci, usava fraldas (colocadas por terceiros), mas não se usava a expressão "baseado" para designar um cigarro de maconha. Ainda, já naquele tempo, especulei que, onde cabem 30 telefones celulares, também inserem-se no mínimo 30 baseados, ou até mais.

Em seguida, censurei-me por considerar que criancinhas da candura de bebezinhos seriam traficantes de armas, drogas, telefones, bilhetinhos amorosos, obras de literatura em língua portuguesa e outras línguas, tudo nas fraldas. Seria maldade exprobarmos a cultura, por impedir que, digamos, presidiários lessem as histórias de Fradique Mendes. Nunca poderemos, contive-me, igualar direitos de crianças, criminosos e loucos aos direitos de cidadãos detentores das opiniões mais desencontradas sobre os mais desencontrados assuntos que devem ser, assim mesmo, os juízes das ações e fatos sociais.

Pois bem, ponto contra os juízes responsáveis. Será que eles não se flagraram que o Brasil não tem o melhor sistema penitenciário no mundo, inclusive porque não tem os melhores funcionários policiais do mundo (já não digo que não tenhamos os melhores juízes do mundo, ao contrário, pela habilidade que eles alcançaram nos últimos 50 ou 60 anos de elevaram seus ganhos tão estrondosamente acima do salário mínimo, di-los-ia a crème de la crème). Ou seja, se houvesse alguma sensatez na ação dos juízes responsáveis, eles iriam tentar algum tempo para treinar os funcionários das cadeias, a fim de impedir que esse contrabando de telefones, baseados e livros de Eça de Queiroz nas fraldas de criaturas absolutamente irresponsáveis. Transcrevo mais: "Na mesma deliberação, os magistrados argumentam que, em caso de suspeita de transporte de armas, celulares ou drogas, a entrada dos menores seja supervisionada de perto por um servidor público."

Nâo achei que os juízes tenham pensado no problema da carência de pessoal. Ao contrário, acho que eles estão pensando que, como bebezinhos não apresentam ficha criminal, não podem ser acusados de nada, a não ser que haja sentença judicial em julgado. Seja como for, pensei na sociedade igualitária, ou seja, no item final de John Rawls para definir o que é sociedade justa. Caso tivéssemos para cada visitante menor de idade um policial treinado, alfabetizado, leitor de Eça e Machado, conhecedor das quatro operações, conhecedor de mais coisas, como é que combina H2 com O e o que é gerado, essas coisas, dirigir automóvel com segurança, saber cuidar de sua higiente pessoal, não ser declaro nem criança, nem criminoso nem louco, então chegaríamos rapidamente à sociedade igualitária e, possivelmente, com a tradição (...), também a sociedade justa.

E aí pensei: bem só pode ser que os juízes responsáveis não conseguem pensar em nada mais útil em que aplicar seus R$ 30 mil, digo, seu tempo. No editorial da página anterior à do artigo do padre-jornalista, o que vemos é uma denúncia feita com frequência neste blog: o roubo das merendas das crianças. É uma vergonha nacional que não haja juízes responsáveis por isto. Juízes? Juízes, promotores, assistentes de justiça, guardas judiciários, motoristas dos camburões, dentistas que cuidam da boca dos cavalos da brigada militar e dos presidiários, além, claro, da família dos detentos, uma pilha de coisas que não tem responsáveis. Uma pilha de coisas que, dia após dia, permanece absolutamente igual no Brasil.

Prevejo, para daqui a alguns dias, a denúncia de alguns brasileiros por criarem e manterem rádios piratas, prevejo que vão prender uns rapazes por porte ilegal de baseados (na sala de aula não pode, pois tem colegas armados), mortes por abortos, mais mortes por atropelamentos nas estradas, nas faixas de segurança. Prevejo que não haverá reforma política nenhuma, prevejo que não haverá reforma tributária nenhuma, prevejo que teremos eleições e prevejo que tudo muda tão lentamente que até um ponto final nesta postagem demorou pilhas a ser pingado (fora os do "p.s.").
DdAB
p.s.: a linda imagem é de abcz.