14 fevereiro, 2011

Jorge Luis Borges: política e contradição.

querido diário:
peguei a imagem acima do link abaixo:
http://foureaux.wordpress.com/tag/cronica/.
este link acima parece interessante, sob o ponto de vista de atender a um interesse que venho manifestando há eras, sob o ponto de vista de interessar-me por viagens em torno da língua portuguesa, da literatura em língua portuguesa, da leitura literária nesta língua (mesmo que de autores estrangeiros, que escrevem em russo, árabe ou japonês, inglês, not to speak of chinês, gujarati. epav.

mas o que me trás é falar de Jorge Luis Borges, seu lado político, ou apolítico, ou ambos. todos temos ambos os lados, ou mais, como sabemos. todos somos políticos e incidimos em contradições. todos nos alienamos, algum a parte do tempo, todos marcamos nossas bobeiras ao longo de uma vida longa. isto significa que é proibido proibir. ainda assim, disse a avó do badanha que -por partidas dobradas- quanto mais receberes mais te será cobrado. se ele alcançou enorme notoriedade, cobrar-se-lhe-á enorme sobriedade. então a contradição é entre cobrar e proibir: é proibido proibir? e, em sendo, sou proibido de proibir-me de dizer o que quero?

seja como for, não é o que retirei de fragmentos do livro

VACCARO, Alejandro (2006) Fotobiografia de Jorge Luis Borges; 24 de agosto de 1899 - 14 de junho de 1986. Lisboa: Teorema.

ou seja, selecionei coisas ao acaso para mostrar o lado político do genial autor argentino e também a contradição em ações e dizeres dele. tudo selecionado por Alejandro Vaccaro, tudo lido sob a ótica de um igualitarista de meu porte. isto quer dizer:

.a. liberdade
.b. jogo duro contra a desigualdade.

destacarei agora alguns destaque que andei destacando no box "Borges e a Política" das p.106-107.

.a. Borges libertário:
 [Ele f...]oi formado por seu pai e, com algumas variantes, manteve no resto da sua vida este ideal: uma sociedade livre à maneira do pensador Herbert Spencer, um Estado mínimo, com intromissão mais ou menos nula na vida dos indivíduos, conforme preconizavam os anarquistas.

.b. Borges e o comunismo:
A Revolução Bolchevista de 1917 excitou nele uma veia característica da idade. Codntava então 18 anos, e escreveu alguns textos de elogio aos homens da gesta russa [...].

.c. Borges e o Nazi-Fascismo:
Com a irrupção do nazismo e o florescimento das ideias fascistas, Borges manifestou-se contrário a todos os tipos de totalitarismo e participou em actividades de nítido apoio aos países aliados.

se bem lembro, li um bom número de referências à tragédia que se abateu sobre o povo alemão e, com ela e com ele, por todo o mundo, inclusive a conexão japonesa. li-as nas próprias obras completas borgeanas da Editora Emecé em quatro volumes.

.d. Borges, Perón e os Galináceos:
Nos meados da década de 1940, surgiu o movimento peronista, cujo chefe ia incendiar a ira de Borges e do seu círculo. Borges era nessa altura funcionário na Biblioteca Municipal Miguel Cané e, devido a um certeiro prenúncio de estar para ser transferido para o posto de "inspetor de aves e fruta", apresentou a sua demissão. Convém notar que assinara, meses antes, um documento de apoio à União Democrática que fazia frente ao ascendente coronel Perón, o que lhe valera uma leve sanção.

.e. Borges e Outra Dimensão Avícola:
Antes, na p.92, Vaccaro apresentou o fac simile de matéria do diário "Democracia", com uma figura circunspecta, atrás dos óculos e do bigode, nomeando-o Dr. Emilio Siri. O tópico frasal, entre aspas, deixa-se ler como "Jorge Luis Borges, Inspector de Aves". E prossegue:

Este que, si por el intendiente municipal fuera, serviria de epígrafe para la tarjeta del autor de 'Ficciones', parece haberse frustrado por propia decisión del ilustre escritor. El señor Borges, en efecto, no aceptará estas funciones que le ha encomendado la Municipalidade.

Jorge Luis Borges -nombrar sus libros es desconfiar de la cultura de nuestros lectores- era hasta no hace mucho titular de una de las bibliotecas municipales. Cuando llegó la campaña pre-electoral Borges se puso abiertamente contra Perón. Borges es un amante de las fantasias -su ultimo libro señala un recrudecimiento de esta afición- y era natural entonces que se decidiera por la Unión Democrática, que no era al cabo más que una hermosa fantasia, en lo de unión y en lo de democrática. ?Por qué entonces tomarle en cuenta ese gesto? ?Por qué no obrar con un poco más de generosidad? No creerá, sin duda, el doctor Siri que la Revolución se ha hecho para tomar venganzas. Se ha hecho, en última instancia, para ver cómo progressa la Patria. Por lo menos así lo habíamos creído el 17 de octubre. ?Y supone el doctor Siri que la Patria progresará mucho si los escritores se dedicam a cuidar gallinas y los avicultores a escribir novelas?

.f. Borges e Os Irmãos Fidel (ou melhor, os irmãos Castro...)
na p. 115, Vaccaro diz que Borges manifestou-se por meio de um abaixo-assinado contrário à Revolução Cubana. hoje estou com ele, mas ele é que não estaria comigo se eu pudesse dar minha opinião naquele tempo. tudo mudou, inclusive minha simpatia pelo comunismo nas barbas de Miami tornou-se nutrida antipatia: monarquia, dinastia dos Castros. cá entre nós! era 1959. eu tinha 12 anos e morava em Jaguari, a princesa do Jaguari, um rio.

.g. Borges e a Pantera Cor de Rosa:
em 1976, quando eu me preparava para fazer a dissertação de mestrado, ocorreu o golpe de estado orquestrado pelo General Videla, recebendo a simpatia de Borges. eu fora, eu que comprara a "História da Revolução Russa", de León Trotsky, lá em Buenos Aires. sai, azar!

.h. Borges e a Autocrítica:
se é vero mesmo que ele apoiou Videla, olha o que diz Vaccaro que ele disse 10 anos depois, citando com <"."> o próprio Borges:

Cerca de dez anos mais tarde, depois de ter estado presente numa das sessões do julgamento dos comandantes da Junta MIlitar, declarou: "Assisti pela primeira e última vez a um depoimento oral. O depoimento oral de um homem que tinha sofrido perto de quatro anos de prisão, de espancamentos, de vexames, de quotidiana tortura. Esperava ouvir queixas, insultos e a indignação da carne humana interminavelmente submetida a esse milagre atroz que é a dor física. Mas aconteceu uma coisa diferente. Aconteceu uma coisa pior. O réprobo tinha entrado por completo na rotina de seu inferno. Falava com simplicidade, como indiferente do aguilhão eléctrico, da repressão, da logística, dos turnos, do calaboiço, das algemas e dos grilhões. E também do capuz (...) É curioso observar que os militares, que aboliram o Código Civil e preferiram o sequestro, a tortura e a execução clandestina ao exercício público da lei, queiram agora recorrer aos benefícios dessa relíquia e procurem bons defensores. Não menos admirável é haver advogados que, sem dúvida desinteressadamente, se dediquem a resguardar de todo e qualquer perigo os seus opressores de ontem."

interessante. parece que ele pensava -como tanta gente- que o insurgente contra o tirano é bom. no Brasil -eu fora- muita gente pensou isto da milicada em 1964. e tem gente que até hoje pensa assim: estaríamos muito melhor sem este troço que chamam de democracia. eu acho que estaríamos mesmo é muito melhor se nunca a milicada tivesse tido a genial ideia de regular a política como quem regula um apito de ordem unida. seja como for, vem mais.

.i. Borges e Pinochet
com a palavra novamente Vaccaro, no mesmo box:

O seu maior acto de ingenuidade política foi, talvez, o que se registrou quando aceitou o convite do general Pinochet para almoçar com ele na sua residência de Santiago do Chile.

é.

.j. Borges e o Prêmio Nobel
por um lado li -creio que no livrinho da Editora Martin Claret- ele dizia-se desinteressado do Prêmio Nobel de Literatura. por outro lado li -creio que no mesmo livrinho, com novas declarações dele, Borges- que sim, ele queria! diz Vaccaro finalizando o box:

Para muitos, este acto só este acto - valeu de argumento para que a Academia Sueca lhe negasse o tão merecido Prémio Nobel da Literatura.

é.
DdAB

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