28 fevereiro, 2011

A Aldeia Política

querido diário:
procurando no Google Images o nome "Ricardo Neis", encontrei esta figura, sem muita pesquisa (aqui). parece Ziraldo. de onde tirei o nome? de onde tirei a inspiração para selecioná-la, a inspiração para postar com o título que nos epigrafa? de Zero Hora, claro, o jornal de minha aldeia. o jornal que tinha Moacyr Scliar entre seus colaboradores. eu o conheço desde o final do ano de 1962, quando o vi receber o diploma de médico (colega de turma de meu cunhado), numa solenidade, para mim, inesquecível, pois o discurso do orador da turma foi -a meu ver- brilhante. de uma coloração matizada pela política. queria um Brasil justo. Scliar gastou toda a carreira e não conseguiu. Zero Hora presta-lhe hoje justas homenagens, dado o passamento na noite de ontem.

ou seja, os destaques de hoje, para minha volta à leitura diária-ou-quase de Zero Hora, são o passamento do talentoso e combativo escritor (de cuja correspondência passiva faço parte e que me agraciou com respostas a todas as iniciativas que tomei). e mais. os destaques são, em continuação, a lição de civismo dada pelo incidente protagonizado pelo sr. Ricardo Neis, 47 anos, funcionário do Banco Central do Brasil. tudo nas p.24-25 de Zero Hora.

na p.2, Zero Hora publica uma nota maravilhosa da sra. srta. Claudia Crusius, de Passo Fundo: "Segundo me recordo, foi Tolstoi que disse que 'para falar do mundo, fale de tua aldeia'. Scliar fez isto muito bem, tanto que conquistou reconhecimento e traduções em todas as partes do mundo."

eu, que de Tolstoi conheço pouco, penso de modo análogo e penso ter aprendido esta ideia com Carl Wright Mills: entender meu meio-ambiente, entender as forças que atuam sobre a parte socialmente relevante de minha ação. comove-me a matéria sobre o sr. Ricardo Neis, 47 anos, funcionário do Banco Central do Brasil, cujo automóvel "Polo" -alegadamente- projetou-se sobre ciclistas que invadiam a via pública. penso na pequenês de nossa existência, no ódio que nos abate quando temos direitos feridos. mas também penso na pleonexia, de que falei ontem. quero fração maior do excedente do que aquela que legitimamente me cabe. penso na genial distinção dos economistas da geração de meus mestres entre invidíduo e cidadão.

o problema está armado. há um mês, vi este povo do movimento "Massa Crítica" trancando a Av. Praia de Belas, um pouco antes da frente do Shopping Center. vi os automóveis atrás e fiquei a pensar em como eu próprio iria portar-me, tendo meu direito de ir-e-vir cerceado. muitos automóveis conseguiram evadir-se, conseguiram desviar-se, por vias transversas, do cortejo. eu -claro, juro- faria o mesmo. eu não creio que pudesse avançar sobre os ciclistas. havia crianças, havia de tudo.

depois de saber deste incidente do sr. Ricardo Neis, fiquei a pensar: o que leva um indivíduo decente a abdicar de sua condição de cidadão tão facilmente, tornar-se um animal feroz, pré-hobbesiano. claro que o sr. Ricardo Neis tinha o direito de trafegar. claro que os ciclistas também tinham. disse um dos representantes dos ciclistas: 

"Procuramos mostrar aos motoristas que não estamos trancando o trânsito, porque também somos o trânsito". 

é claro que isto é fazer política. mais ainda: eu entendo que devemos cuidar-nos para não cair na tentação de fazer justiça com as próprias mãos, pois -dependendo da gravidade do incidente em que nos envolvermos- poderemos cair na boca da página policial. penso, claro, na tragédia pessoal da vida do sr. Ricardo Neis, solidarizo-me com ele. e penso na tragédia dos agredidos por seu comportamento delinquente, ele, um homem de bem. penso na tragédia e, claro, não demoro a perceber onde estão os vilões: os governantes. neste país de impunidade quase absoluta, tendemos a buscar a justiça pelas próprias mãos. deixar para as autoridades deixa-nos desamparados. e entendo que Ricardo Neis não estava fazendo política positiva, mas -tristemente- estava associado à intolerância e ao conservadorismo. seja lá quem ele for, seja lá o que ele já fez ou fará pelas causas progressistas.

o pior que pode acontecer-nos, ao perdermos o juízo, é envolver-nos em um pugilado em que os observadores do incidente e de nossa tragédia e descontrole pessoal tomem o partido oposto ao nosso e nos coloquem, que deixem de agir como cidadãos e decidam-se pelo linchamento.

a diferença entre "indivíduo" e "cidadão" é simples. o indivíduo é egoísta racional, pensa em si em primeiro lugar e faz de tudo, inclusive justiça com as próprias mãos. o cidadão é altruísta e organiza a sociedade de sorte que esta organizes a própria justiça. acabaram-se as férias. acabou-se a harmonia lusitana.
DdAB 
p.s.: mas ainda não acabei a leitura de Eça de Queirós e sua obra "A Cidade e as Serras". por um lado, acabo de ouvir Zé Fernandes dizer: "Oito vezes travei bulhas abomináveis na rua com cocheiros que me espoliavam." dizem que isto é comum na Argentina. eu fui assaltado por dois meninos de rua, parentes -por certo- do prefeito de Montevidéu. eu fui ligeiramente esbulhado por um motorista de táxi que nos levou ao Aeroporto de Lisboa. em toda a terra há meliantes, caroneiros, na linguagem mais neutra. mesmo motoristas.

p.p.s.: mas -mais interessante- é que li ontem o que disse Zé Fernandes de si e de "seu Príncipe", Jacinto de Thormes: "[...] espalhando pelo ar outras ideias sólidas que no ar se desfaziam". pensei: isto não era atribuído por Marshall Berman a Marx no Manifesto Comunista? Eça teria lido Marx? isto é plágio de Eça? ou criação independente? o "Manifesto do Partido Comunista" foi escrito "no final de 1847". e "A Cidade e as Serras" foi publicado pela primeira vez em 1901, já depois da morte de Eça.

p.p.p.s. A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os meios de produção e, por conseguinte, as relações de produção e, com elas, todas as relações sociais. Ao contrário, a conservação do antigo modo de produção constituía a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. A revolução contínua da produção, o abalo constante de todas as condições sociais, a eterna agitação e certeza distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Suprimem-se todas as relações fixas, cristalizadas, com seu cortejo de preconceitos e idéias antigas e veneradas; todas as novas relações se tornam antiquadas, antes mesmo de se consolidar. Tudo o que era sólido se evapora no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e por fim o homem é obrigado a encarar com serenidade suas verdadeiras condições de vida e suas relações com a espécie.

27 fevereiro, 2011

CAD, CAM, 3D, Manufatura Aditiva, Pleonexia

querido diário:
esta postagem recende a uma espécie de paper. mas não é.

Considerações Iniciais
 primeiro: CAD (ou, de acordo com a Wikipedia, também designado por CADD): computer aided design. já vi, na wiki em português, duas traduções: desenho auxiliado por computador e desenho assistido por computador. claro que, em minha opinião, eu traduziria do primeiro jeito e gosto mais da segunda forma. o CAD hoje é tão incorporado a nossas rotinas que nem parece um conceito relevante. ou seja, temos tanta facilidade de desenhar em computador, móveis, casas, pontes, carros, carroças e carantonhas. ele faz, como nós, os descendentes de macacos de quarta geração, desenhos em duas ou três dimensões. ok, não é bem desenho em três dimensões, mas desenho que, usando perspectiva ou geometria descritiva pode ser visualizado como um correlato interessante da peça da realidade realmente real. para complicar um pouco o que diz a wikipedia sobre o assunto, dá uma olhada aqui:

The development of CADD-based software is in direct correlation with the processes it seeks to economize; industry-based software (construction, manufacturing, etc.) typically uses vector-based (linear) environments whereas graphic-based software utilizes raster-based (pixelated) environments.

eu chego quase a entender isto. sei, por exemplo, que o MatLab é um programa que tem potencialidades gráficas que mal atino em poder usar nas próximas 1,000 (um milhar em inglês) encarnações. um passo adiante foi dado por mim mesmo quando enchi-me (no bom sentido) de estudar o problema das economias de escala, em particular, fazer estimativas das curvas de custo médio, marginal e total e comecei  entender um pouco mais do que Espinosa (filósofo, técnico do Grêmio ou outro) chamaria (então não chamou) de mundo mundano. das economias de escala, pulei para ganhos de produtividade, essas coisas, quando constatei que

.a. o tijolinho que vi sendo feito do barro à solidez durante uma visita (há 25 anos or so) no Museu da Ciência e Tecnologia de Munique (or whatever its name) foi feito por CAD e algo mais

.b. eu poderia ter um troço daqueles em minha casa, se não para fazer tijolos, pelo menos para fazer outras coisas mais simples. uma delas, eu mesmo entendia, era fazer pilhas de impressões sucessivas sobre a mesma folha de papel e obter alguns detalhes tridimensionais interessantes.

(.c.) eu devia ter dito antes que fiquei muito impressionado quando a professora Abigahil disse que o que estava desenhando no quadro negro não era um triângulo retângulo (bidimensional) mas uma "escultura" (nas palavras de Espinosa...). claro, depois de ouvir isto, fica óbvio. o ponto não tem dimensão, então não pode ser desenhado. a reta tem uma, portanto não a podemos desenhar e o plano tem duas, o que impede nossos bons talentos de desenhá-lo. uma vez que somos seres tridimensionais (azar nosso, pois nossos ancestrais amacacados poderiam ter-nos dado a colher de injetar-nos algumas utílíssimas dimensões adicionnais). ok, ok, esta postagem poderia ter o marcador de "ficção científica".

lendo uma amostra (de conveniência) da literatura desta área do conhecimento humano, a science fiction, rapidamente vim a entender que o que o Prof. Karl Heinrich Marx (ou foi Waldir Espinosa?) chamou de "estupidamente alta composição orgânica do capital". ou seja, bens ou serviços gerados praticamente sem nenhuma intervenção humana (e eu digo "praticamente", pois a máquina precisaria detectar um "desejo humano", caso contrário seu cérebro positrônico nada faria. quer dizer, no futuro, quando vivermos em naves espaciais (no episódio da destruição de enormes massas de recursos materiais, ambientais e humanos da Nova Zelândia, lancei o adágio: "é fumeta viver em planeta"), vamos pedir às máquinas de nossa nave e elas vão atender-nos com a produção de bens e serviços os mais inimagináveis nos dias que correm. claro que imagino apenas um Unicórnio de carne e osso e outro até de 3,1415 dimensões (ver Mandelbrot, para saber mais sobre dimensões fracionárias).

em resumo, tá na cara que estamos a poucas décadas de produzir sofisticados objetos materiais no jardim de casa (sobre produção em jardins, ver este fantástico blog, e sobre a postagem que alcancei hoje, ver "caril", que é como se diz curry em Portugal). eu já falei que minhas necessidades de saúde e transportes, pelo menos, são realmente ilimitadas: ir ao final do Universo e voltar ainda mais saudável do que estava quando comecei a milenar jornada. poucas décadas?

segundo: CAM, seguindo o professor Ethevaldo Siqueira, é computer aided manufacturing. e que tem o verbete acessível ao clicarmos aqui. ou seja, faço o desenho no CAD, dou um clique em algum ícone em algum lugar da tela, ouço alguns roncos, sei lá, e -ao invés de ver papel impresso com desenhos em uma impressora convencional, o que vejo é uma peça de metal, plástico ou terconite (ver). parece que a primeira vez que prometeram-me fazer um tetraedro regular de plástico (mas que não foi feita...) teria sido o Lelo, ou Lucas, ou Nuno, não lembro bem o nome, amigo de meu colega e principalmente professor Lois Roberto Westphal, em Floripa, digamos que em 1995.

Clube da Solidão
esta segunda parte, curtinha como o item "segundo" das "Considerações Iniciais", tem o objetivo de registrar meu protesto contra a má qualidade das revistas que leio. inclusive -não sei se falei- a americana NewsWeek, que andei lendo em Portugal. mas desejo registrar que sou um solitário. fossem, além de mim, milhares de pessoas que desejam uma revista semanal séria, o mercado já a teria criado... seja como for, volta e meia refiro-me a matérias da Carta Capital. afinal, leio-a menos para indignar-me com seu nacionalismo e erros factuais, linguísticos e sei-lá-quê-mais e mais para saber "o que vai pelo mundo", como ouvíamos nos jornais da Art Filmes, não era isto?

volta e meia, Carta Capital mostra-me matérias da "The Economist", traduzidinhas e volta e meia vejo errinhos de tradução. mas não é disto que quero falar. apenas de uma burrada da "The Economist" (hoje é domingo, postagem de luxo, criticando simplesmente o maior grupo produtor de matérias econômicas terráqueas). pois a vetusta revista inglesa não sabe o que são economias de escala. mas eu explico neste "Clube da Solidão".

"economias de escala" é o fenômeno que acontece quando o custo médio (avaliado em quantidades monetárias) de produzir algum bem ou serviço cai, em resposta ao aumento do tamanho da unidade (seção, fábrica, empresa, setor, país, sei lá) que o produz. ceteris paribus. se não disser "ceteris paribus" a questão será anulada... tem que dizer ceteris paribus, pois tá na cara que há trilhões de fatores que influem sobre o nível de custos de qualquer tipo de mercadoria que, nos mais arrojados arroubos de simplificação, possamos conceber. para produzir, por exemplo, água salgada, há -para descrever completamente- mais equações e registros e rodapés do que todas as bibliotecas públicas do império galáctico reunidas no mundo que multiplica tudo por 45 trilhões elevados na potência 45 trilhões.

então dá uma olhada no que podemos fazer para descrever minha sentença acima, de maneira um pouco mais formal, o que deixa a descoberto a burrada das duas revistas:

CMdL = f(Ev, Tk, CP),

onde CMd é o custo médio que responde a variações nas variáveis Ev, Tk e CP, na forma de um modelo teórico descrito com exação milimétrica pela função "f". Ev é a escala da empresa, seção, aquele troço que falei acima, e que já meti a letra "v " para dizer que ela está variando para nosso exemplo, Tk é a tecnologia que vamos declarar constante para benefício do exemplo, e CP é aquele outro troço do "ceteris paribus", ou seja, além da tecnologia que deixei explícito que não varia, e da escala da firma, que deixei explícito que varia, haverá montanhas de outras variáveis e parâmetros que variam ou não variam, dependendo de meus interesses em fracionar uma lasca compatível da realidade realmente real, ou seja, minha tentativa de moldá-la no que chamo de mundo da realidade imaginada. claro que nem triângulos podem ser escritos sobre folhas de papel, apenas "esculturas" deles, não era isto?

pois bem, lá na cozinha aqui de casa tem uma máquina de fazer pão, que custou -se não minto- R$ 230 reais há uns dois anos. programada com um dia de antecedência, ela nos acorda com um "bip" antecedido por um cheiro de pão que invade a casa, como apenas as casas dos padeiros de antanho. comprar pão e queijo "fora" (de casa) sempre foi o exemplo mais tradicional de que o tamanho da firma tem a principal responsabilidade pela redução do custo médio. ou seja, sai mais barato fazer 1,000 pães do que fazer 10 pães. óbvio que estamos falando do custo médio, não é? apenas em casos excepcionais sai mais barato produzir menos do que mais, mas quanto ao custo médio, podemos ter aumentos, constâncias e reduções. as reduções chamam-se de economias de escala, e os aumentos são designados por deseconomias de escala. e o não-chove-nem-desempata chama-se de "retornos constantes à escala".

então, qual a burrada da revista Economist e sua assecla Carta Capital? é que ela pensa que a padariazinha de minha casa reduziu o custo médio porque reduziu-se o tamanho da "planta" industrial. na função

CMdL = f(Ev, Tk, CP),

o que aconteceu é que Tk, que não era constante mais fixa do que -disse Kundera- "Cristo na cruz", e sim um parâmetro (constante ou variável que altera apenas o resultado numérico do problema, mas não sua solução matemática), ou seja, aquilo que estava sendo mantido constante variou. e, ao variar, não estamos mais frente a CMdL com Ev variando. como poderíamos falar em "escala", se a patroa comprou apenas uma padariazinha? só bêbados. e, o que é ainda pior, bebendo solitariamente (por causa do título desta seção da postagem que segue altaneira).

e a revista Veja, sairá desta saraivada de críticas incólume? claro que não: no avião, li alguma coisa do número que tem o Anwar Kadafi na capa (um olhar tresloucado, como o de um touro bravio que um dia vi perto da bergamoteira da casa do padre alemão em Jaguari). era a Veja n.2206.

por um lado, ela tem uma visão absolutamente diversa da Carta Capital sobre os desdobramentos da Revolução Árabe 2011, como batizei agora. a Carta acha que podemos estar aceleradamente rumando ao melhor dos mundos (e digo, por exemplo, mulher ganhar o mesmo status legal de homem, para não falar muito a respeito), ao passo que a Veja acha que o fim-do-mundo agora mesmo é que é inevitável.

por outro, a p.24 mostra o artigo semanal de Lia Luft, intitulado "Como seremos amanhã?" fala até em teletransporte, numa referência estranha à Fada Sininho... mas não é isto o que me deixa nervoso e sim uma petitio principii em que vemos: "Não creio em igualdade, mas em dignidade para todos." eu leio raramente a
a indigitada revista. Lia Luft  não é minha conterrânea, pois não sou gaúcho, mas muito admirada por gregos e troianos, ou por judeis e palestinos, sei lá. acho que a solidão e convite à bebida ocorre quando vês a pobre mulher dizer aquilo. que quererá a pobre criatura dizer com "igualdade"? e com "dignidade"? não é aquela parte do Aurelião que remete às elites? quererá a vigilante poeta que todos sejamos elite? Gini igual a zero? lê-se cada uma. só bebendo desacompanhado.


Carta, páginas 72-73 da edição 634 (tá parelha com as postagens de meu blog)
o artigo da "The Economist" é bom, apenar de toda a festa negativa que fiz  em boa parte do que digo acima. ele está inserido na seção "Ideias" (agora, já que o próprio Brazil foi revogado, sem acento no "e") e responde pelo título "Customização em Massa" e, mais ainda: "The Economist | A impressão em 3D promete inverter a lógica que molda a indústria desde o século XVIII. dá uma olhada aqui na Wikipedia sobre esta coisa toda: clique aqui!.

que dizem os rapazes da 10, Downing Street (hehehehe)?

"A Revolução Industrial no fim do século XVIII possibilitou a produção em massa de bens, o que permitiu criar economias de escala que mudram toda a economia, e a sociedade, de maneira que ninguém teria imaginado na época. [...]"

pois, de acordo com meu santificado Samuel Bowles, além deste papel espantosamente importante das economias de escala, também contribuíram -de maneira igualmente poderosa- dois outros blim-blim-blins:

(uma vez que o

.a. são as economias de escala, segue-se:

.b. a natureza não contratual de um número expressivo de interações sociais

.c. comportamentos adaptativos em resposta ao comportamento dos outros.

é bom, né? tudo isto gerou externalidades que redundam em problemas de coordenação na ação dos agentes e deixaram o mundo precisamente com o formato que observamos hoje e não como nos livrinhos de economia, do Perry Rohdan e outros livros, livrinhos e livrecos. mas o dia em que a "The Economist" ler o Bowles, deixarei de beber solitariamente e pagar-lhes-ei uma pint of mild (local), ou duas.

olha agora:

"Hoje sirgiu uma nova tecnologia de fabricação que faz o conrário."

pensei: "hoje?" que horas? o que é mesmo o contrário daquela frase acima? digamos que seja uma tecnologia que permite reduzir o tamanho da fábrica. de um catatau que produz cinquenta mil camisas por semana, poderei ter uma camisa em duas horas. bueno, mas isto não é mudança na escala, que, agora, tem a função de custos correspondente expressa por:

CMdS = f(Ek, Tv, CP),

com os subíndices de Ev e Tk sendo trocados. e aquele S quer dizer "secular", que é um prazo definido como suficientemente longo para que variem todos os fatores, inclusive a tecnologia. ou seja, esqueçamos algumas visões apocalípticas sobre o futuro do capitalismo e passemos a pensar, ao contrário, num mundo mais interessante, que nos leve às estrelas (transportes) e permita-nos desfrutar alguns milhões de anos a mais de nossas privilegiadas existências (saúde). fora jogar mais squash, meter birita, escrever poemas, essas coisas.

em seguida, a Carta Capital/Economist diz o que é a "impressão em 3D", e já sabemos: uma printer que desenha triângulos tridimensionais. a mesmíssima printer que vai colocando sucessivas camadas de tôner sobre a folha branquinha até que tenhamos esculturas homenageando as letras do alfabeto, homenageando panelas, sapatos, quadros de bicicletas, painéis para carros, uma pilha de exemplos lá deles. será que dá par fazer um edifício deste modo? claro que dá! e uma nave espacial? claro que dá! e padariazinhas? claro que dá. não há óbice imaginável, vencidas as barreiras do CP, ou seja, da pilha de coisas que deixamos constantes ao pensarmos em nossas funções CMdL e CMdS. para mim, baixa uma nave com uma população de androides que jogam squash e fazem poemas, além daquela pilha de outras coisas que eles, até mais que eu, saberão que estou desejando...

vai aqui minha última crítica à materia Carta/Economist. eles dizem:

"[...] assim como aconteceu com a computação, a impressão em 3D está se disseminando rapidamente, conforme a tecnologia se aperfeiçoa e os custos caem."

custos caem? o custo médio, não é mesmo? é impossível (ceteris paribus, tem um paper do terceiro estágio da função de produção) aumentar a quantidade e reduzir o custo. mais ainda, mesmo que os custos caíssem de um jeito (custo privado), será que estariam caindo socialmente? este é o problema. o custo social não é avaliado por ninguém de maneira efetiva. ele deveria ser o grande vetor de sinalização da cobrança de impostos indiretos: bens de demérito. claro que a Carta Capital gosta da palavra "social", só que é enviesada por uma concepção nacionalista que pensa que aumentar o número de empresas estatais é estar praticando "reformas democráticas que conduzam ao socialismo". e a "The Economist" nem se fala. tanto é que começa a problematizar o que fazer com os direitos de propriedade dos designs destas peças 3D disponíveis na Internet? ou seja, será que, vivendo a bilhões de quilômetros de distância da Terra e, querendo homenagear minha primeira chegada a Londres, eu teria que pagar royalties por usar a torre da British Telecom que penso estar reproduzindo acima? pó pará.

A Propriedade Privada de Alguns Blim-Blim-Blins Entrava o Desenvolvimento das Forças Produtivas
tá na cara que os arranjos sociais que colocam no mercado de trabalho a responsabilidade pela função da distribuição da renda para as famílias pobres devem ser destruídos. eles são cruéis, eles são burros, eles são reacionários. eles são destruidores da humanidade. eles nos afastam do rumo das estrelas. precisamos de mais cérebros humanos (disse-me Leonardo Monastério, que não tem medo de excesso populacional, mas de escassez de políticos honestos, epa, esta parte já andei inventando...).

já cantei a pedra que, espirrando suor, sangue e fogo, a renda básica universal será uma conquista civilizatória do século XXI, com o final da escravatura (não estou falando das Arábias, onde as mulheres são párias), e do voto feminino (não falei que não estou falando das Arábias?). e mais ainda, considero que a macacada que não entende que o mercado de trabalho é excelente para gerar incentivos benévolos a arranjos sociais que elevam a produtividade do trabalho, mas péssimo para gerar "justiça distributiva". claro que uma velhinha como a Lia Luft não tem obrigação de saber isto, mas precisa ser psicanalisada, para sabermos que diabos de razões a levaram a enfiar aquele bacalhau em seu artigo, em tudo o mais alinhado no setor dos sublimes.

Conclusão
todos estes objetos podem ter sido feitos por 3D. só bebendo. o certo mesmo é montarmos uma firma chamada "Planeta Terra" e darmos uma ação para cada habitante vivo e para os que vão nascer, por toda a etermidade. esta ação lhe dará rendimentos que lhe possibilitem prover-se de existência digna. isto é uma reforma democrática. não interessa se conduz ou não ao socialismo. o fato é que, com ela, os atuais pobres poderiam subornar (na linha de Dalton-Pigou-Hicks-Scitowski-Kaldor) os mais ricos, para que este status quo seja o escolhido. seguros para tudo. finanças em primeiro lugar. o homem e a mulher em primeiro lugar.

DdAB
p.s. esta postagem deveria ser, dentro do marcador "Economia Política" também submarcada como economia de empresas, economia do desenvolvimento, economia da tecnologia, economia da publicidade e propaganda e conter ainda outros milhares de marcadores, fora os de semiótica, ficção científica, fofoca, e por aí vai.
p.p.s. a imagem que veio lá de cima vem de: http://www.ethevaldo.com.br/Generic.aspx?pid=979. eu pensei que ela, a imagem, é dela, a torre, a torre da British Telecom, do prédio da Tottenham Court Road, em Londres. ou eu estou errado ou o desenho está errado ou o nome da rua saiu errado ou está tudo certo do mesmo jeito.
p.p.p.s.: pleonexia? é o sentimento que o indivíduo patológico tem de pensar que sua parte na divisão de algum bem ou serviço escasso está subestimada, quando esta está perfeitamente avaliada (não estou falando que era x ou y mas apenas que às vezes todos temos esta patologia, ontem, por exemplo, eu queria ter comido dois torrones no avião, mas ganhei apenas um.
p.p.p.p.s: tá na cara que aquela torre da British Telecom pode ser feita tudinho por computador e plantada, com o terconite, sobre a coroa solar, sei lá aonde.

23 fevereiro, 2011

Pegadinha Econômica 623: finanças e conservadorismo

querido díário:
preciso agora conter-me e parar de chamar todas as postagens de "pegadinha". com ferquência, elas -as postagens- são pegadíssimas e até pegadonas. pelo tamanho, pela irreverência e -aspiro- pela profundidade. hoje quero denunciar o pensamento conservador de esquerda. a macacada que defende a intervenção do estado no domínio econômico para a produção de mercadorias que vão além dos bens públicos (que, by the way, não são mercadorias, ainda que sejam produzidos por meio de mercadorias) e dos bens de mérito. em outras palavras, a esquerda verdadeiramente revolucionária do século XXI diz que o estado não deve ser dono da Petrobrás, mas do sistema federal de ensino, não deve ser dono da Rede Ferroviária Federal, mas deve prover talões de transporte barato para usuários alternativos (tudo contra o automóvel e a motocicleta) e, especialmente, estudantes. não deve ser dono do poder judiciário (os juízes de R$ 30.000 que se apropriaram dele em benefício de suas dignas famílias) mas ceder justiça a custo zero a todos os segmentos da vida social, inclusive a proteção ao cachorro e ao menino de rua.

a educação no sistema federal de ensino deveria contemplar, pelas forças armadas (armadas com livros, CDs, raquetes de squash, essas coisas) revolucionárias de esquerda do século XXI, o filhinho do burguesinho e o filhinho do proletarinho, a filhinha do juiz de R$ 30.000 e a filhinha da empregada doméstica (R$ 550, mas emprego em extinção, pois desconheço empregada doméstica que não poderia acumular os estipêndios da renda básica universal com os da Brigada Ambiental Mundial, o que lhe pagaria R$ 1.000, para -por exemplo- fazer mapas astrais dos decretos legislativos, essas coisas).

as letras do tesouro nacional deveriam organizar-se de tal maneira que a propriedade destes ativos que hoje são propriedade da união, como a Petrobrás, a RFFSA, e tudo o mais, deveria ser convertido em ações preferenciais nominativas do fundo nacional de desenvolvimento. e deveriam ser intransferíveis durante o ciclo de vida de seu detentor. ao morrer, o indivíduo (mortal, como é o caso dos juízes e das empregadas domésticas), teria sua cota nesse fundo convertida em  seguro de emprego-desemprego para um indivíduo de igual teor (carne e osso). (ou até 0,8 indivíduos ou 1,2 indivíduos, dependendo da política demográfica).

e as finanças? as finanças, meu chapa, que dominam tudo, seriam reguladas para evitar a fraude (assim como as sentenças judiciárias, os picolés e até os serviços domésticos. todos estes casos teriam a presença de contraventores seria declarada indesejada). tem gente que lamenta, como se tivesse periddo o campeonato, que as fonanças estão dominando o mundo, que as finanças botaram o "capital produtivo" no bolso, o embolsaram, tornaram-no "trocados" na grande bola social de capital. tem gente que se incomoda que o Sol, volta e meia, nasce no ocidente e deita-se  no oriente (ou vice-versa, dependendo de onde se encontra o observador na hora arbitrária definida para o começo do dia). tem gente que queria que a indústria fosse declarada ilegal, pois o valor é gerado apenas na agricultura. e tem gente que odeia as sentenças que usam o verbo no presente, quando queriam dizer que o valor era gerado na agricultura, e depois passou a ser gerado na indústria e finalmente nos serviços. o fato é que o valor é gerado na função que já conhecemos (v = f(L), ou uma função que o dá como aplicação de "L", ou seja, do trabalho vivo mais trabalho morto).

tem gente que precisa desvencilhar-se de sua ideologia da esquerda do século XVIII ou XIX, sei lá. tem gente que precisa entender que a esquerda revolucionária está prevendo que a Brigada Ambiental Mundial estará plenamente instalada ainda antes do final do século XXI. ainda que, ao nascer, respingue sangue, suor e urros por sobre vítimas e algozes, por sobre gregos e troianos, por sobre inocentes e vilões. tem gente, tomara que siga tendo gente.
DdAB
http://www.tribunadosisal.com.br/v1/?p=1279

21 fevereiro, 2011

Pegadinha Filosófica número 622

querido diário:
ontem pensei que iria postar estas coisas rortyanas que em instantes mostrarei à luz. e não lembrei qual o título, esta verdadeira série com infinitas possibilidades de pegadinhas filosóficas. hoje chego a dar um título mais poderoso, mais potente, mais nobre, mais elevado:

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
e, claro, sob este título, há certo embuste, como o há em qualquer livro de filosofia de respeito. seja como for, já no prefácio do livro

RORTY, Richard (1988) A Filosofia e o Espelho da Natureza. Lisboa: Dom Quixote

podemos ler (p.13):

Quase na mesma altura em que comecei a estudar filosofia, fiquei impressionado com o modo como os problemas filosóficos aparecem, desaparecem, ou mudam de forma, em resultado de novas assunções ou vocabulários.

de minha parte, eu não chegara a formar esta impressão, o que -em boa medida- pode estar significando que ainda não comecei a estudar filosofia. por isto, li o restante do Prefácio. de lá saquei agora, reconhecendo meu manuscrito, os seguintes dizeres: ou seja, este livro tenta isolar diversas "assunções" críticas do empirismo tradicional. já desesperado, passei à Introdução, quando, de imediato, deparei-me com (p.15):

Os filósofos geralmente pensam em sua disciplina como aquela em que se discutem problemas perenes e eternos - problemas que despontam assim que se reflecte. Alguns deles dizem respeito à diferença entre os seres humanos e outros seres e são cristalizados em questões que concernem a relação entre a mente e o corpo. Outros problemas dizem respeito à legitimação das pretensões ao saber, e são cristalizados em questões que concernem os "fundamentos" do conhecimento. Descobrir estes fundamentos é descobrir algo acerca da mente, e reciprocamente. A Filosofia enquanto disciplina vê-se então a si mesma como a tentativa para subscrever ou derrubar as pretensões ao conhecimento elaborado pela ciência, a moralidade, a arte, ou a religião. Propõe-se fazer tal na base do seu entendimento especial da natureza do conhecimento e da mente. A filosofia pode ser fundamental relativamente ao resto da cultura, porque a cultura é a montagem das pretensões ao conhecimento e a Filosofia adjudica tais pretensões. Pode fazê-lo porque compreende os fundamentos do conhecimento, e encontra estes fundamentos através do estudo do homem-como-cognoscente, dos "processos mentais" ou da "actividade de representação" que tornam possível o conhecimento. Conhecer é representar cuidadosamente o que é exterior à mente; portanto, compreender a possibilidade e natureza do conhecimento é compreender o modo pelo qual a mente se torna apta a construir tais representações. A preocupação central da Filosofia é ser uma teoria geral da representação, uma teoria que dividirá a cultura nas áreas que representam bem a realidade, que a representam menos bem e que não a representam de todo (a despeito da sua pretensão nesse sentido).

pois bem. acho que levarei décadas para entender tudo o que aqui é dito. olha daqui, olha dali, entendi que este primeiro parágrafo estava sendo um tópico frasal genial para toda a obra e que a ele deveria acorrer sempre que me sentisse em apuros. avancei a ponto de entender que as três partes (como andei postantdo antes) dizem respeito a três grandes temas: a mente, o conhecimento e a própria filosofia. retomei a primeira sentença:

Os filósofos geralmente pensam em sua disciplina como aquela em que se discutem problemas perenes e eternos - probleams que despontam assim que se reflecte.

e comecei a pensar do jeito que melhor pude: "refletir" sobre "problemas perenes, eternos": significa problematizá-los. ma é problematizá-los de acordo esta disciplina. ele mesmo dá o ponto de fuga da existência de outras, como a moral, a arte, a ciência e a religião. então comecei a redigir um glossário, pois o volume de termos que não domino amplamente começou a amplificar-se:

problematizar
refletir
disciplina.

aproveitei e pensei que -tendo-os presentes- podemos ir ao cerne: o sujeito da sentença, que vem a ser <>. sem perder a coragem, segui lendo daqui e folhando dali e comecei a pensar que talvez haja resposta, ao final da leitura diligente de todo o livro (e talvez depois da leitura dos outros dois livros de Rorty que escalei para ler a.s.a.p. e talvez ainda depois da leitura de todos os demais livros de filosofia já escritos em todos os tempos), a termos que cercam minha mente, com base em outras leituras, desde há muitos anos, como "crença" e "desejo". tais como "desejo" e "intenção". tais como "desejo" e "propósito". e também, lá adiante, vi -de relance- "convenções". parece que é tudo o que quero saber. pelo menos nesta manhã lisboeta.
DdAB
p.s. e a ilustração vem de: http://www.inovarchaves.com.br/?secao=003, que a verdade é que -quando morava em Oxford e guardava minha bicicleta no barracão do próprio condomínio, precisava enfrentar (com a cópia da chave que me alugaram) um cadeado Papaiz- pensava que estes brasileiros que o inventaram também, talvez, ainda inventem a chave de todos os problemas filosóficos e distributivos...

20 fevereiro, 2011

Pegadinha Filosófica número 621

querido diário:
em Lisboa, do Terceiro Planeta de Sol, há um sol resplandecente. ou seja, estamos em Lisboa de carne-e-osso, e não numa dessas milhões de naves chamadas "Lisboa" que trafegam, aos magotes, pelo espaço sideral. bem, bem, não é bem isto. mesmo que o que acima consta possa ser designado como pegadinha filosófica, eu não queria falar sobre este tipo de abordagem às possibilidades da natureza humana. particularmente, a pegadinha n.621, ou seja, a que responde precisamente pela hexa-centésima-vigésima-primeira postagem deste blog de terceira geração.

o que queria, quero e quererei falar é sobre uma pergunta que foi feita a Anita, Assis e Astor, possivelmente, tripulantes precisamente da nave a que referi há instantes. foi-lhes apresentada uma enquete sobre a participação preferida no número 1. eles não entenderam, indagaram aos entrevistadores se havia sido feito teste de validação de face (ou validação face-a-face). resolvido este impasse por meio de uma liminar, os resultados foram os seguintes:

Anita (50-50)
Assis (66-33)
Astor (99-1)

o que mostra que, foi o que se interpretou com outra liminar, estes três indivíduos têm a mesma preferência. o que-quanto?, como? para quem? o resultado da liminar é simples: os três têm a mesma preferência em dividir um todo em apenas duas partes. como tal, são dualistas, são dialéticos: um se divide em dois. como tal, não são platônicos no sentido das grandes tríades moverem o mundo, ou seja, não são dialéticos. ser e não ser dialético, como sabemos, é ser dialético.

ou seja, se Anita, Assis e Astor tivessem escolhido três partes, dir-mo-los-íamos (sobre este golpe das mesóclises coladas a ênclises, já ouvi o Prof. Conrado de Abreu Chagas, o que me foi muito útil, mas em Lisboa é assim que eu falo. assim é de que se fala, ou fala-se). se fosse a preferência pela divisão da parte em sete partículas, chamá-los-íamos de baconianos, que veio com aquele golpe dos sete orifícios da cabeça humana como sendo um dos itens da prova indutiva da existência de sete e apenas sete planetas. se fossem 10 partes, eles seriam declarados Décios, digitais, dizimalistas, essas coisas. se fossem 100 partes, claro que deveríamos associá-los ao índice de Gini (de 100 quantis, naturalmente).

isto me lembra o Prof. Onésimo da Costa Faria, que, em 1957 ou 1958 ensinou à turma o que é fração: "fração é pedaço". eu levei muitos anos para entender, mas enfim entendi. fração é quando tu pega um bagulho e divide ele em um pedaço (quando és monista, ou seja, não divides em nada), dois pedaços (quando és dualista), em três pedaços (quando és trcampeão), em quatro (quadrúpede), em cinco (quincas-borbista), em seis (sexagenário), e assim por diante, até 1/200.000.000, quando chegamos a um Gini de 0,55 ou menos, o que caracteriza o Brasil e confronta com o Gini de 0,36 de Portugal.

depois veio a filosofia do Prof. Alfredo Steinbruck, que deixou claro que o cálculo se divide em integral (juntando) e diferencial (dividindo). e eu indaguei-lhes (a Anita, Assis e Astor) uma pendenciazinha das aulas dos professores Onésimo, Steinbruck e Abigahil (que não tinha entrado na história): "pedaço de quê?". e eles repetiram: "pedaço de um troço qualquer". e eu, não contente com os resultados de novas liminares que se anunciavam, apenas balbuciei: "e se eu partir um pedaço?".
DdAB
a figura vem de nosso amaldo Ziraldo:
http://ziraldo.blogtv.uol.com.br/Default.aspx%3Fp%3D179%26ID_TAG%3D0%26idBlog%3D127.

18 fevereiro, 2011

Complô Imperialista

querido blog:
dias atrás, chegando em Portugal, decidi comprar a revista americana Newsweek. número de 14/fev/2011. lia- com os mesmos olhos que o fariam no caso de a ter comprado em Porto Alegre. não creio que o impacto fosse maior, em virtude das coordenadas que regem as estrelas que regem meus humores. seja como for, achei um ponto comum: uma concertada ação noticiosa, destinada a provar ao mundo que o imperialismo condena a corrupção. fui claro? parece que macacos não olham seus rabos. parece que as indagações que faziam ao motor a explosão devem manter-se ativas para o caso da sociedade humana: como é que funciona?

primeiro: os russos, como todos os demais países que podem, vendem armas para os que não podem. digo, podem, no sentido de que "produzem" e não podem, no sentido de "não deveriam". a indústria armamentista é uma das primeiras que deveria ser abatida por um raio celeste de extração iluminista. na p.6 a Newsweek cita -eu ia dizer fatos- cifras estonteantes. os gastos mulitares vão elevar-se em US$ 0,7 trilhões. com isto, seguem fornidos 1,1 milhões de soldados, servidos por uma indústria de 3 milhões de trabalhadores, representando 20% do emprego na indústria de transformação. mas que tudo isto -diz a revista- é "sclerotic". mas o pior ainda vem, em forma de piadinha. o presidente da república estimou que, no ano passado, burocratas russos afanaram um trilhão de rublos, ou 33 bilhões de dólares. nem com a loto viciada do deputado Severino Cavalcanti, ou algo assim... mas o próprio presidente ganhou de presente do orçamento público (talvez na rubrica "transporte próprio") um iate de US$ 35 milhões. já isto a loto cobre!

no Egito, o ambiente esquentou.

na China, a palavra "egito" foi proibida de circular na internet.

no Egito, o general Mubarak viu formada em torno de si "a rapacious court" & "his immediate family". There was the power of his wife, Suzanne, and, remarkable to relate, she had started out modestly.

na Tunísia, a esposa do governante deposto requisitou ao banco central a quantia de 1,5ton de ouro e a levou ao exílio. com tanto ouro em barra, acorreu-me pensar que "vão-se os anéis, mas fiquem os pobres!


no Brasil, não testemunhei nada similar pela simples razão de que não estou lá. está lá? não, estou aqui. em resumo, há um complô imperialista para desmoralizar as ditaduras. e há um complô libertário para desmoralizar os imperialistas. e há um complô para saber qual é exatamente o limite das consequências da educação de péssima qualidade para garantir que os despossuídos não consigam agir em seu benefício. eu fico estarrecido que a esquerda tenha sido tão fragorosamente derrotada nas recentes eleições portuguesas, quando vemos notícias diárias de cortes e mais cortes nos direitos dos trabalhadores. agora, hoje, diz-se que o país entrou "oficialmente" em recessão.
DdAB

14 fevereiro, 2011

Jorge Luis Borges: política e contradição.

querido diário:
peguei a imagem acima do link abaixo:
http://foureaux.wordpress.com/tag/cronica/.
este link acima parece interessante, sob o ponto de vista de atender a um interesse que venho manifestando há eras, sob o ponto de vista de interessar-me por viagens em torno da língua portuguesa, da literatura em língua portuguesa, da leitura literária nesta língua (mesmo que de autores estrangeiros, que escrevem em russo, árabe ou japonês, inglês, not to speak of chinês, gujarati. epav.

mas o que me trás é falar de Jorge Luis Borges, seu lado político, ou apolítico, ou ambos. todos temos ambos os lados, ou mais, como sabemos. todos somos políticos e incidimos em contradições. todos nos alienamos, algum a parte do tempo, todos marcamos nossas bobeiras ao longo de uma vida longa. isto significa que é proibido proibir. ainda assim, disse a avó do badanha que -por partidas dobradas- quanto mais receberes mais te será cobrado. se ele alcançou enorme notoriedade, cobrar-se-lhe-á enorme sobriedade. então a contradição é entre cobrar e proibir: é proibido proibir? e, em sendo, sou proibido de proibir-me de dizer o que quero?

seja como for, não é o que retirei de fragmentos do livro

VACCARO, Alejandro (2006) Fotobiografia de Jorge Luis Borges; 24 de agosto de 1899 - 14 de junho de 1986. Lisboa: Teorema.

ou seja, selecionei coisas ao acaso para mostrar o lado político do genial autor argentino e também a contradição em ações e dizeres dele. tudo selecionado por Alejandro Vaccaro, tudo lido sob a ótica de um igualitarista de meu porte. isto quer dizer:

.a. liberdade
.b. jogo duro contra a desigualdade.

destacarei agora alguns destaque que andei destacando no box "Borges e a Política" das p.106-107.

.a. Borges libertário:
 [Ele f...]oi formado por seu pai e, com algumas variantes, manteve no resto da sua vida este ideal: uma sociedade livre à maneira do pensador Herbert Spencer, um Estado mínimo, com intromissão mais ou menos nula na vida dos indivíduos, conforme preconizavam os anarquistas.

.b. Borges e o comunismo:
A Revolução Bolchevista de 1917 excitou nele uma veia característica da idade. Codntava então 18 anos, e escreveu alguns textos de elogio aos homens da gesta russa [...].

.c. Borges e o Nazi-Fascismo:
Com a irrupção do nazismo e o florescimento das ideias fascistas, Borges manifestou-se contrário a todos os tipos de totalitarismo e participou em actividades de nítido apoio aos países aliados.

se bem lembro, li um bom número de referências à tragédia que se abateu sobre o povo alemão e, com ela e com ele, por todo o mundo, inclusive a conexão japonesa. li-as nas próprias obras completas borgeanas da Editora Emecé em quatro volumes.

.d. Borges, Perón e os Galináceos:
Nos meados da década de 1940, surgiu o movimento peronista, cujo chefe ia incendiar a ira de Borges e do seu círculo. Borges era nessa altura funcionário na Biblioteca Municipal Miguel Cané e, devido a um certeiro prenúncio de estar para ser transferido para o posto de "inspetor de aves e fruta", apresentou a sua demissão. Convém notar que assinara, meses antes, um documento de apoio à União Democrática que fazia frente ao ascendente coronel Perón, o que lhe valera uma leve sanção.

.e. Borges e Outra Dimensão Avícola:
Antes, na p.92, Vaccaro apresentou o fac simile de matéria do diário "Democracia", com uma figura circunspecta, atrás dos óculos e do bigode, nomeando-o Dr. Emilio Siri. O tópico frasal, entre aspas, deixa-se ler como "Jorge Luis Borges, Inspector de Aves". E prossegue:

Este que, si por el intendiente municipal fuera, serviria de epígrafe para la tarjeta del autor de 'Ficciones', parece haberse frustrado por propia decisión del ilustre escritor. El señor Borges, en efecto, no aceptará estas funciones que le ha encomendado la Municipalidade.

Jorge Luis Borges -nombrar sus libros es desconfiar de la cultura de nuestros lectores- era hasta no hace mucho titular de una de las bibliotecas municipales. Cuando llegó la campaña pre-electoral Borges se puso abiertamente contra Perón. Borges es un amante de las fantasias -su ultimo libro señala un recrudecimiento de esta afición- y era natural entonces que se decidiera por la Unión Democrática, que no era al cabo más que una hermosa fantasia, en lo de unión y en lo de democrática. ?Por qué entonces tomarle en cuenta ese gesto? ?Por qué no obrar con un poco más de generosidad? No creerá, sin duda, el doctor Siri que la Revolución se ha hecho para tomar venganzas. Se ha hecho, en última instancia, para ver cómo progressa la Patria. Por lo menos así lo habíamos creído el 17 de octubre. ?Y supone el doctor Siri que la Patria progresará mucho si los escritores se dedicam a cuidar gallinas y los avicultores a escribir novelas?

.f. Borges e Os Irmãos Fidel (ou melhor, os irmãos Castro...)
na p. 115, Vaccaro diz que Borges manifestou-se por meio de um abaixo-assinado contrário à Revolução Cubana. hoje estou com ele, mas ele é que não estaria comigo se eu pudesse dar minha opinião naquele tempo. tudo mudou, inclusive minha simpatia pelo comunismo nas barbas de Miami tornou-se nutrida antipatia: monarquia, dinastia dos Castros. cá entre nós! era 1959. eu tinha 12 anos e morava em Jaguari, a princesa do Jaguari, um rio.

.g. Borges e a Pantera Cor de Rosa:
em 1976, quando eu me preparava para fazer a dissertação de mestrado, ocorreu o golpe de estado orquestrado pelo General Videla, recebendo a simpatia de Borges. eu fora, eu que comprara a "História da Revolução Russa", de León Trotsky, lá em Buenos Aires. sai, azar!

.h. Borges e a Autocrítica:
se é vero mesmo que ele apoiou Videla, olha o que diz Vaccaro que ele disse 10 anos depois, citando com <"."> o próprio Borges:

Cerca de dez anos mais tarde, depois de ter estado presente numa das sessões do julgamento dos comandantes da Junta MIlitar, declarou: "Assisti pela primeira e última vez a um depoimento oral. O depoimento oral de um homem que tinha sofrido perto de quatro anos de prisão, de espancamentos, de vexames, de quotidiana tortura. Esperava ouvir queixas, insultos e a indignação da carne humana interminavelmente submetida a esse milagre atroz que é a dor física. Mas aconteceu uma coisa diferente. Aconteceu uma coisa pior. O réprobo tinha entrado por completo na rotina de seu inferno. Falava com simplicidade, como indiferente do aguilhão eléctrico, da repressão, da logística, dos turnos, do calaboiço, das algemas e dos grilhões. E também do capuz (...) É curioso observar que os militares, que aboliram o Código Civil e preferiram o sequestro, a tortura e a execução clandestina ao exercício público da lei, queiram agora recorrer aos benefícios dessa relíquia e procurem bons defensores. Não menos admirável é haver advogados que, sem dúvida desinteressadamente, se dediquem a resguardar de todo e qualquer perigo os seus opressores de ontem."

interessante. parece que ele pensava -como tanta gente- que o insurgente contra o tirano é bom. no Brasil -eu fora- muita gente pensou isto da milicada em 1964. e tem gente que até hoje pensa assim: estaríamos muito melhor sem este troço que chamam de democracia. eu acho que estaríamos mesmo é muito melhor se nunca a milicada tivesse tido a genial ideia de regular a política como quem regula um apito de ordem unida. seja como for, vem mais.

.i. Borges e Pinochet
com a palavra novamente Vaccaro, no mesmo box:

O seu maior acto de ingenuidade política foi, talvez, o que se registrou quando aceitou o convite do general Pinochet para almoçar com ele na sua residência de Santiago do Chile.

é.

.j. Borges e o Prêmio Nobel
por um lado li -creio que no livrinho da Editora Martin Claret- ele dizia-se desinteressado do Prêmio Nobel de Literatura. por outro lado li -creio que no mesmo livrinho, com novas declarações dele, Borges- que sim, ele queria! diz Vaccaro finalizando o box:

Para muitos, este acto só este acto - valeu de argumento para que a Academia Sueca lhe negasse o tão merecido Prémio Nobel da Literatura.

é.
DdAB

13 fevereiro, 2011

Quem Teve a Ideia Original sobre Ideia?

querido diário:
chove em Lisboa, ou choveu, mas meu guarda-chuva não vai impedir-me de encharcar-me de visões de diferentes águas e seus bichos no Oceanário local. enquanto isto, sigo lendo O Espelho de Rorty, you know...

dadas as limitações de minha formação filosófica, o que me impede de aproveitar amplamente suas reflexões sobre a filosofia analítica, Kant, Carnap, Russell, decidi fixar-me na expressão "["ideia 'ideia'"]". isto é, estou citando "ideia 'ideia' ", ou seja, alguém citou 'ideia' e outro, que não Rorty -presumo- citou-o, logo entraram as aspas duplas envolvendo a citação original a 'ideia'. confusão. iria melhor com o que aprendi no livro de semiótica de Umberto Eco (que não li todo, by the way). creio que o que escrevi após a expressão viria como <"ideia 'ideia'">.

há muitos anos, refleti profundamente sobre esta questão de quantos sinais e acentos gráficos cabem depois de uma palavra. cheguei à conclusão que são 3,141581, ou fração.
DdAB
a ideia de ter ideias ou como não tê-las desdobra-se no simpático blog: http://blog.tosemideia.com/2011/02/ideia-sem-nocao-ii.html (e sua postagem pertinente). ainda assim, a minha ideia é que lá atrás vem um ônibus com o time do Coríntia.

11 fevereiro, 2011

Portugal, nada é igual!

querido diário:
peguei esta imagem ultrainteressante em: http://images.quebarato.com.br/photos/big/E/5/375BE5_1.jpg. e não consigo retirar toda a formatação. e este "a" artigo tem na frase? que seria dela se eu tivesse dito "toda formatação"? sempre fui parcimonioso com os artigos, até mais que meu grande mestre Machado de Assis. não é meu único mestre, como sabemos. nunca posso esquecer, ao falar neles, os "terceiros", ou seja, fora os que foram mestres de carne e osso, em Leontief, Stone e Bródy, Marx, e milhares de outros.

seja como for, o que gostaria de dizer, e outros diriam "gostava de dizer" é que, no outro dia, falei em "espelhar a realidade", então peguei a maravilhosa imagem com um, ou não sei quantos, espelhos. e vejo cada vez mais que nós, do Brasil, espelhamos muita coisa de Portugal. começamos com a língua, claro, que -nestes 500 anos- veio mudando lá e aqui. e apenas os rapazes da Academia Brasileira de Letras é que querem mudá-la por razões eminentemente mercantis, ou seja, ganharem dinheirinhos vendendo consultoria sobre as mudanças, dicionários, sei lá que bodes mais.

e aqui, em Belém, que eu falei "vi no espelho" e fui imediamente corrigido pelo garçom com "vi pelo espelho". então pensei que ainda podemos ser salvos dos políticos. mas não pude deixar de corar ao ver que alguns políticos da oposição por aqui querem um voto de repúdio ao governo que mal tomou posse. acho isto uma barbaridade. nem sei muito sobre a política portuguesa, além de zeros à esquerda do número zero. mas -cá entre nós- votos de desconfiança? lembro do atual governador do Rio Grande do Sul, dois dias depois da posse de Fernando Henrique Cardoso em seu segundo mandato, a clamar por um impeachment por não sei que tolice de razão. para eles, os rapazes da esquerda portuguesa e o tarsistista Tarso, eleições só têm valor no caso em que o povo elege quem a gente quer. neste caso, eu queria que o povo não elegesse ninguém dessa corja!
DdAB

08 fevereiro, 2011

Lisbom, Lisboa, Lisenina

querido diário:
sigo em Lisboa, mal dormi, mal acordei, mal mexi em mateirais editáveis. mal pensei no que falei ontem sobre finitude. antes, muito antes, lera temas intrigantes. Disse Irvin D. Yalom, autor das Curas de Schopenhauer e Nietsche, no livro O Carrasco do Amor (que não li):

“Quatro dados são particularmente relevantes para a psicoterapia:
a inevitabilidade da morte,
a liberdade de viver como desejamos,
nossa condição fundamental de solidão e
a ausência de significado ou sentido óbvio para a vida.”

pensamentos um tanto, como direi, para um turista. o principal é que aprendi que "Tejo", em espanhol, é "Tajo" e, em inglês, é "Tagus". e esta imagem (http://www.destinosdeviagem.com/portugal-lisboa) que fala no Parque das Nações? e eu que sou a favor de nações, contra estados e também contra o nacionalismo? e postando estas coisas em "Vida Pessoal"?

seja como for, também escrevi, baseado neste troço de finitude e quarteto shaloniano:

.a. a inevitabilidade da morte : é certo que vamos morrer (fora o “será de algo” e “ficarei injuriado”)
.b. a liberdade de viver como desejamos: esta é mais fácil - apenas falta dinheiro e depois faltará saúde
.c. condição fundamental de solidão: disto, nem se fala. ninguém jamais dará a outrem toda a atenção desejada.
.d. ausência de significado ou sentido óbvio para a vida: isto repete o primeiro. Mas talvez seja por esta porta que se atravessa a religião, o oculto, essas coisas.
DdAB

07 fevereiro, 2011

Onças e Mendonças

querido diário:
hoje, no horário do Brasil, são 17h20min. e, em Lisboa, são 19h20. eu estou em Lisboa, na boa. que boa! onças e mendonças lembram-me a versão mais refinada que aprendi anos após a expressão gaúcha: entre San Juan e Mendoza, se grafo certo, se grafo com correção, se grafo corretamente. português do Brasil. no outro dia, falei do livro de Rorty, traduzido em 1988, já com "ideia" sem acento. um absurdo esta tentativa dos livreiros e seus apaniguados de mudarem as regras a cada 20 ou 30 dias, se tanto. Américo Pisca-Pisca e a reforma da natureza.

eu insírei-me para postar com esta quadratura em mente porque vi na Agenda Cultural Lisboa fev/2011 o nome de Jose´ Tolentino Mendonça. dos Mendonças, que fala em amor, palavra, paixão, sacrifício e finitude. cada uma, um universo.

gostei de ler que o amor implica a consciência de si e a capacidade de estabelecer uma relação com o outro. e que palavra e o silêncio são, talvez (diz ele), o grande sintoma da nossa humanidade. e que paixão é a condição necessária para a experiência da plenitude. e que sacrifício é uma palavra da gramática do amor. e que finitude é aquilo com que nos debatemos todos os dias.

é, parece interessante. parece que li tudo mas resumi pouco. parece que fui literal. parece que falta tempo. parece que me debato com a finitude todos os dias. e parece que tem gente que lida melhor com isto do que outra gente.
DdAB
http://speculativeheresy.wordpress.com/2008/11/16/on-after-finitude-a-response-to-peter-hallward/

06 fevereiro, 2011

Nem Todo Tucano É Demagogo

querido diário:
ainda embasbacado com a falta de seriedade dos políticos brasileiros, procurei no Google Images a seguinte expressão "nem todo maia é demagogo", sem querer referir-me a etnias ou indivíduos decentes. pois achei estes simpáticos tucanos. nem todos são demagogos. mas, se bem lembro a origem do partido criado pelo prof. Fernando Henrique Cardoso, nem todas as reações foram entusiásticas, como a minha. por exemplo, ouvi dizer que um menino de rua (hoje já devidamente adultizado, morto e enterrado por razão de atropelamento de trânsito [tráfego, lá teria dito a avó dele]) considerou que, enquanto não:

.a. fechassem os estados
.b. fechassem o senado
.c. fechassem o poder judiciário, sagrando o sistema judiciário, instead (sic),

ou seja, sem esse trio, o Brasil não iria para frente.

de sua parte o coronel Jarbas Passarinho, que foi conselheiro/diretor de um desses bancos gaúchos que foi conduzido à bancarrota, em virtude da extraordinária capacidade empresarial autóctone (a julgar pelos cumulativos ganhos de produtividade), saudou a criação do Partido da Social Democracia Brasileira e seu símbolo que -mutatis mutandis- acima reproduzo, com ceticismo: não é uma tentativa inválida, mas não deviam ter escolhido o tucano, uma ave que sequer faz seu ninho, costumando expropriar os ninhos dos outros.

até hoje estou encafifado com essa do coronel, que também foi ministro da educação, governador do Pará, senador, deputado, vereador, vice-prefeito, presidente de centro acadêmico (das agulhas negras), algum ou todos estes itens, sei lá, que mesmo naqueles tempos a gralha grasnava e a corrupção grassava.

e não é que os maias foram extintos? e não é que o metalúrgico Marcos Maia elegeu-se presidente da câmara dos deputados? e não é que ele defende o mais escabelado corporativismo, criando tantos mais privilégios quantos forem os ninhos de que poderá apropriar-se em benefício de sua honrada família e da família de todos os demais deputados? e não é que passei a torcer novamente por uma revolução intestina que leve essa macacada toda à Azenha?
DdAB
imagem: http://salvandoamazonia.blogspot.com/2010_04_01_archive.html.
Azenha: bairro dos cemitérios porto-alegrenses (ver).

05 fevereiro, 2011

Agricultura x Pecuária

querido blog:
tem uma frasezinha que sempre achei um tanto reacionária, mas nem bem lhe descobri a origem. vejamos o que o Sr. Google diz:

"dar o peixe" + "ensinar a pescar": 105.000 entradas. começou bem, fora as imagens (ver).

a primeira é de Stephen Kanitz, articulista de "Carta Capital", se bem lembro. parece-me que seu enfoque é interessante, sob o ponto de vista do cultivo da pedagogia nas ciências empresariais. há outros também falando de forma interessante neste assunto. minha questão primeira é "quem inventou este troço?". parece-me que ele esconde, de outro lado, um enorme conformismo, uma enorme inatividade para o socorro dos desvalidos. eu já pensara há anos que não se pode ensinar a ler um menino que não sabe diferenciar um pedaço de giz de um tudo de cola de sapateiro.

proponho que cambiemos esta sentença para: "dar a semente ou ensinar a plantar". fica evidente que deveremos dar (a quem, porca madona?) uma quantidade de sementes suficiente para que sejam servidas três refeições por dia durante o período que vai da semeadura à colheita, armazenagem, colocação na panela, essas coisas. com isto, transformamos esta frase de valor retórico discutível em algo mais afeito à teoria econômica, à terceira questão fundamental da economia (lembras das outras duas?): como distribuir a produção entre a geração presente e a geração futura.

é evidente que "mais agora" representa "menos depois", caso a sociedade coma  todas as sementes, nada plante e, depois, invente de invadir o Kwait para ressarcir-se do prejuízo milenar. ou as Malvinas. abaixo as ditaduras. abaixo as invasões. epa, o tema é amplo e eu vou encerrando.
DdAB
p.s.: ou muito me engano, ou estou ensinando a plantar mangericão. isto requer, na lavoura ao lado, trigo, muito trigo para a tribo. por falar em trigo, então incrementemos uma lavourinha de milho. já serve para comermo-lo in natura, in farinha e in porco. então vamos criar os porcos. depois, venderemos alguns excedentes, depois faremos um curtume e sapatos. depois, enviaremos viagens à Lua, elas voltarão e com isto começaremos a migar para moradias espaciais. ou muito me engano.

04 fevereiro, 2011

Capital do Egito

querido blog:
tenho razões ontológicas (ando lendo Rorty...) para crer que, aos olhos de um camelo, parecerei tão estranho quanto ele aos meus. e mais ainda parece-me que a História vai dando-nos lições que, para declararmo-las verdadeiramente aprendidas, são necessárias muitas décadas de vida. em minhas seis vírgula quase quatro, vi coisas de corar (ia dizer "os teus 80", na linha drummondiana) bochechas. parece-me que a/s primeira/s -já falei por aqui- foi a dupla Irã-NIcarágua, no final dos anos 1970s.  eu teria uns 30 e não lembro agora se houve outras convulsões severas de derrubada de ditaduras importantes e milenares. depois disto, talvez uma ou outra mais, destacando-se de modo estrondoso a Queda do Muro de Berlim. e nem parou por aí. e, antes disto, a derrota americana no Vietnã e a soviética no Afeganistão. e coisas menores, Stroessner e alguns outros esbirros da CIA (gostou?), fora a própria ditadura militar brasileira. consta que João Belchior de Marques Goulart teria preferido entregar a rapadura à milicada a ver-se envolvido em uma guerra civil. sua sabedoria fez-se vencedora em menos de 20 anos: 1984 ainda tinha algum dromedário do tipo Figueiredo ou Sarney (não me darei o trabalho de buscar, pois ambos são de última). mas estava na cara que o pior já passara, que a democracia estava para repintar. e -hoje a temos- ainda tá na cara que a agenda política está relegada ao caixa dois dos políticos.

agora, na capital do Egito e em outros locais menos vulneráveis, vê-se esta insurgência, que veio do oeste e talvez acabe por aí mesmo, e talvez não acabe e siga democratizando o mundo. nunca se sabe. um ditador que juro que ainda terei vida suficiente para testemunhar a desdita é o Coronel Chavez, de Bogotá. ditador? no Egito não há como fugir ao epíteto. na Venezuela, disse-me a Carta Capital (o problema é que ela é "carta", ou seja, o hobby midiático da família de Mino de Tal) que o problema com o Chavez é que lideranças como a dele impedem o surgimento de outras. e este tipo de ditadura -eles não estavam usando o termo grego- por isto mesmo acaba transformando-se cada vez em coisa pior.

em resumo: aparentemente a humanidade não porta uma função de preferências sociais precisamente modelada na minha. a dela (o resto, descontada minha humilde pessoa) favorece o clube da baixaria. eu prevejo o pior possível. prevejo um século XXI eivado de baixarias não apenas ambientais. prevejo o surgimento da renda básica universal parida a ferro e fogo. mas acho que não chegaramos a 2101 sem a mudança. banco central mundial, poder judiciário mundial, polícia mundial, emprego mundial, meio-ambiente mundial, naves espaciais mundiais!
DdAB

03 fevereiro, 2011

Prá que mentir, se tu ainda...

querido diário:
na Zero Hora de hoje, Segundo Caderno, p.6, vemos a crônica quinzenal de Letícia Wierzchowski. e acima vemo-la, à autora... anos atrás, vi uma book review sobre algo de sua autoria, com o título de "Máquina de Escrever", dada a profusão de sua produção literária: em poucos anos, milhares de livros (ou de páginas, se não exagero...). e hoje ela escreveu "Por que se escreve?", escrevendo sobre escritores que explicam as razões que os levam a escrever. selecionei dois pungentes, além dela própria, que não explicitou, mas concluiu com "O verbo, como um fio invisível e perene, a todos nos une, afinal de contas."

então vamos ao primeiro. pois não é que não é primeiro e sim primeira? Rosa Montero: "Escrevo porque, enquanto eu o faço, me sinto tão cheia de vida que a minha morte não existe: enquanto escrevo, sou intocável e eterna."

e depois ainda ganhei o brinde, nas palavras da própria ms. W.: "Alberto Manguel escreve porque não sabe dançar o tango, nem resolver problemas matemáticos, ou jogar rugby. Porque não faz vinho, nem é médico, não patina, não costura, não joga xadrez, e, tampouco, restaura quadros venezianos.

pois não eram apenas dois ou três? então segura este depoimento: "escrevo porque aprendo" (Use Lahoz).

então decidi resumir: escrevo porque sou um ás no teclado. eu e poucos outros de minha classe. além disto, escrevo por causa deste troço de Rosa Montero e também do mr. Manguel e ainda de Lahoz. e, afinal, sobr quadros venezianos, andei postando a respeito (aqui e aqui), a respeito do privilégio, na sociedade do futuro, que alguns de nós teremos em restaurar Tintorettos e da Vincis.
DdAB
imagem: http://saavedramusicachibeepoesia.blogspot.com/2010/09/leticia-wierzchowski-os-getka.html.

02 fevereiro, 2011

Questionário Político s/Emprego

querido blog:
.a. se tu ganhasses nenhum pila por mês, aceitarias ser chamado de desempregado?
.b. e acharias que desempregado deve ganhar seguro-desemprego?
.c. e te ofenderias se te oferecessem uma colocação na chamada Brigada Ambiental Mundial, uma instituição financiada com dinheiro do Banco Central Mundial?
.d. e se arranjasses um emprego e pudesses acumular os ganhos sem o salário desemprego, isto te faria mais feliz do que só o salário convencional?
.e. e seria justo que o trabalhador que nunca ficou desempregado ganhasse menos do que tu?

meu voto é darmos a Renda Básica Universal também para ele!

.f. voltemos ao desemprego e seu seguro. se ganhasses R$ 580 e tivesses que abrir mão deste valor, toparias o salário mínimo serrano de R$ 600?

.g. isto significa que as firmas edeveriam pagar mais que o salário mínimo de apenas R$ 20 ou mais?

.h. mas não tem risco de que a firma, se for cumulativo, queira redução do salário abaixo do salário mínimo?

claro que não. e se as firmas quebrarem? elas experimentarão uma desvalorização de capital, venderão seus ativos depreciados e os novos proprietários contentar-se-ão com a nova taxa de lucro. não é isto?
DdAB
ilustração, sem maiores compromissos, de: http://blogdoisraelbatista.blogspot.com/2010/04/questionario-de-futebolso-para-mulheres.html.

01 fevereiro, 2011

Dialética, força e racionalidade animal

querido blog:
dando mais umas olhadas naqueles livros de lógica-dialética de Cirne-Lima, e tentando entender o que é síntese, caí no seguinte:

tese: por ser contingente (ou seja, não é necessária), uma sociedade igualitária (existente) não pode não existir
antítese: por ser contingente, uma sociedade igualitária pode não existir
síntese: haverá um tipo universal a ser pensado como sociedade igualitária, do qual as contingências desviarão aqui e ali (fora as que negarão, que serão concentracionistas).

e daí? daí que José J. Veiga tem a ver com o assunto. fechando o livro Torvelinho dia e noite, a que me referi no outro dia, lê-se a fala de Aldair, dirigindo-se a Mariana e respostas:

-Ainda bem que elas (as flores que nasceram por toda a cidade) sabem quebrar golpes de foice. O mal do mundo é os fracos se encolherem quando atacados. Deviam se unir e reagir
-Mas aí não haveria parte fraca. Todos seriam fortes.
-Exatamente. Desapareceria a vantagem da força e só prevaleceria o justo e o direito. Isso de forte espezinhar fraco é muito careta.
-Mas nunca que vai acabar. É uma coisa que acontece naturalmente, fortes mandando, fracos obedecendo.
-Nâo ten nada de natural, tia. É puro arranjo político.

Elas foram comer um "estapafúrdio sanduíche" e eu garrei de pensar em algo que acabara de aprender. Fi-lo (fi-lo, meus deuses) lendo o livro de Rorty também já comentado por estas bandas. Se bem li, Rorty aponta para o uso da racionalidade como o maior antídoto para o uso da força. Ou seja, já vou dizendo eu, a racionalidade do discurso troca o uso da força pelo uso das regras da lógica, da argumentação em forma pura.

eu, claro, sempre que vejo este tipo de raciocínio fico pensando naqueles economistas anti-equilibristas e que dizem que o problema da economia política moderna é que ela supõe que os agentes agem racionalmente. vivo dizendo que ontem as compras igualaram as vendas. e que, como sabemos uqe amanhã também isto vai acontecer, ficamos modelando o ponto que se alcança ex post, construindo equações de comportamento dos agentes. pode ser que os agentes não fiquem sabisfeitos com o que comprarão ou venderão amanhã, mas temos algo sólido em que nos basear para entender-lhes as ações. segundo: pode ser que aqui e ali haja gente (fora o trio das crianças, criminosos e loucos) que não age racionalmente o tempo inteiro. mas, considerando que a modelagem é tão potente que captura até segredos da ação animal, não surpreende que a racionalidade seja um postulado interessante também para descrever ações humanas.
DdAB
p.s.: imagem - http://prof-hugofonseca.blogspot.com. isto me lembra também coisas do Rorty e outras minhas. em minha opinião, no futuro todos faremos o que fazem hoje os ricos. vamos gastar nosso tempo fazendo ou consumindo arte e praticando ou observando esportes.