22 novembro, 2010

A Droga do Aborto

querido diário:
procurei no Google Images os seguintes roteadores da ação humana: maconha crack lança-perfume ópio cocaína. capturei o que vemos acima. por quê o fiz? 'por quê' tem acento? um dia ainda lerei sobre isto... e que tenho a ver com uma lista de drogas que nem sequer obedece a (é 'à'?) lei da ordem alfabética (lexicográfica)? tudo se explica neste mundo quando a racionalidade é usada em benefício das reformas democráticas, you know the rest... e é 'diz não' ou 'diga não'? elas dizem não, elas, as enfermeiras e o próprio enfermeiro Baltazhar. ele diz não, ele é o ministro da saúde. todos dizemos não ao aborto, não é mesmo? todos dizemos não às drogas, todos dizemos não a qualquer dependência, inclusive a dependência que os juízes criaram dos R$ 30.000 mensais que em breve estarão recebendo.

de minha parte, chamou-me a atenção a frase de Ricardo Darín, o festejado ator do filme "O Segredo de seus Olhos", da festejada Argentina e da festejada página 8 do Caderno de Cultura do festejado jornal Zero Hora do festejado dia 22 do festejado novembro do festejado ano de 2010. é muita festa. diz a frase:

Eu simplesmente não posso acreditar que, no século 21, ainda se discuta a legalização do aborto e tratem como se fossem demônios as pessoas como eu, que defendem sua regularização.

meu, cara, bicho, gente, pessoa, indivíduo. esta frase está deslocada temporalmente da festejada (epa!) campanha eleitoral do Brasil. ela ajudaria o encaminhamento da passeata feminista que não deu as caras contra a hipocrisia da dupla Serra-Dilma, a chapa branca que venceu as eleições de 2010, como andei espalhando, e que fugiu do enfrentamento da questão do aborto provocado. vou escrever para o  jornalista Klécio Santos da mesmíssima Zero Hora, fazendo a propaganda da ideia mais consentânea com a consentaneidade da importância maiúscula da lei da oferta e procura relativamente à lei da gravidade. não fosse a oferta e a procura, o fato de que elevar-nos do concreto ao concreto (ver Karel Kosik para saber mais sobre a elevação do abstrato ao concreto...), da terra aos ares, não seria possível. ou seja, a lei da oferta e procura venceu a lei da gravidade, tanto é que hoje em dia, neste preciso momento, há milhares de pessoas trafegando pelos ares do planeta que por ora habitanos.

se a lei da gravidade curvou-se à lei da oferta e procura, que dizer de leizinhas menores, como esta que proibe o aborto (ou seja, incita a criação de mercados clandestinos de tal procedimento médico) ou como a outra que proibe o comércio de drogas do tipo das que dão título à postagem de hoje? parece-me que a negadinha que se recusa a entender o aborto como um problema médico, da mesma forma que a dependência às drogas, às compras, às bombachas, e a tudo o mais que é feito em excesso está incentivando -ela, negadinha- a consolidação de mercados ilegais. neles, nem o governo nem a sociedade (seu lado saudável) têm como meter a colher.

há muitos anos, aprendi como breve a um dos indutores do ódio à humanidade (no caso, minha brincadeira sobre dieta, estudo e exercício físico), no caso, a dieta: você só observa aquilo que controla. então quer controlar a menininha de 13 anos que vai morrer devido a uma intervenção intra-uterina mal sucedida? quer impedi-la, caso se salve, de incidir na mesma burrada de ver-se exposta a mãos incapazes? quer? então joga ela no hospital da rede pública que tratará do assunto, inclusive, quem sabe, uma eventual adoção do fruto de seu ato ilegal de engravidar antes dos 14 anos e 9 meses de idade! quer impedir que os 100.000 assaltos de meninos em busca de dinheirinho para pagar traficantes de drogas? e mesmo as mortes de uma fração dos meninos assaltantes? quer? então dá um jeito civilizado no problema das drogas, dá o mesmo jeito que a lei da oferta e procura deu na lei da gravidade!

a moral da história é a seguinte: o mercado é um mecanismo mais poderoso do que a lei da gravidade para agregar preferências coletivas. enquanto houver necessidade de saltarmos de quedas dágua, e houver escassez destas, surgirá, por meio do mecanismo de preços, um agente interessado em ganhar dinheirinhos de saltantes. e salteadores? claro que haverá! há mercado para tudo, no capitalismo. no capitalismo, disse o Karl, tudo, tudo, tudinho vira mercadoria. eu acrescento: drogas (caso do menino de 15 anos), vidas  humanas (caso da menina de 13 anos), honra (caso dos juízes).
DdAB

Nenhum comentário: