02 outubro, 2010

Ética e Estética: em que crêem os que não crêem

amado blog:
antecipei-me às proibições de realização de propaganda política. a única certeza que tenho sobre o tema é socrática: só sei que nada sei. explico-me. existe um importante debate na ciência econômica sobre a capacidade de políticas públicas influenciarem variáveis reais. para o bem ou para o mal. parece óbvio que o governo influencia, não é memo? mas o pessoal da teoria das expectativas racionais (para efeitos práticos deste parágrafo, nada a ver com a teoria da escolha racional) diria que os agentes sabem tudo e antecipam-se às ações do governo, seguindo seu curso de ação original sem tirar nem por. versão vulgar: cada um faz o que está "afim" e ninguém tasca.

e há outras certezas que também me nutrem, ou vice-versa. eu as nutro simplesmente acreditnado nelas. trata-se de "atos de fé". creio porque creio. e algumas delas jamais serão passívels de testes na linha popperiana. jamais? nem em 25 trilhões de anos? ok, ok, este é o ponto. pelo que hoje se sabe, o próprio Universo evolui. ou, como andei espalhando, se modifica. em suas dimensões matéria-energia-espaço-tempo, que abarcam outras, como temperatura e entropia (não atino agora com mais exeplos). não haverá muitas dúvidas de que o cidadão da foto que selecionei de ... (aqui) evoluiu a partir de moléculas que se autorreproduziam, como o fazem até hoje. e que dele derivamos, num desvio ocorrido não sem bem, mas parece que há menos de 10 milhões de anos, ou seja, ontem. para mim, esta é uma realidade científica, ou seja, pratico um ato de fé na ciência. eu e milhares de outros, na verdade. há quem deprecie o popperianismo e abordagens acolheradas, mas há quem deprecie de tudo, inclusive da política... aquelas questões de conhecimento objetivo, realidade intersubjetiva, limites do cognoscível.

não acho impossível que a humanidade venha a conhecer muito mais sobre o que gerou o Big Bang, se é que ele ocorreu mesmo. ou seja, localmente, é possível que venhamos a saber "de onde viemos e para onde vamos". acredito (atos de fé) poderemos saber muito mais, andar (id est, reconstruir) além (antes) do Big Bang e além (depois) dos buracos negros. a este respeito, o livro de Dawkins sobre a história da evolução e o livro de Kevin Warwick (In the mind of the machine; the breakthrough in artificial inteligence) sobre o futuro da A.I, i.e., da I.A., ajudaram-me a equacionar algumas inquietações que vim a nutrir. sob o ponto de vista da aceitação da ideia da Navalha de Occam, acho que o mais siimples é imaginarmos que o Universo sempre existiu, ainda que, na linha de Dawkins, nós -macacos e homens- sejamos apenas uma consequência do movimento retilíneo uniforme (ou melhor, do movimento curvilíneo multiforme) que tomou ímpeto (do jeito que o conhecemos) depois daquele remoto evento. ou seja, conformo-me com a ideia de existir e de entender uma pilha de coisas que tenho severas razões para aceitar de forma radicalmente diferente de gases, líquidos e minerais.

pois bem, deixe-me, para organizar minhas próprias ideias, buscar do Aurelião duas definições:

Inteligência: Faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão, intelecto, intelectualidade. Qualidade ou capacidade de compreender e adaptar-se facilmente; capacidade, penetração, agudeza, perspicácia. Maneira de entender ou interpretar; interpretação. E mais, que não me interessa.

Pensamento: Ato ou efeito de pensar, refletir, meditar; processo mental que se concentra nas idéias. Faculdade de pensar logicamente. Poder de formular conceitos. Aquilo que é pensado; o produto do pensamento; idéia. Reflexão, meditação. Mente, intelecto, espírito. O produto intelectual de um determinado indivíduo, grupo, país, ou época. Atividade psíquica que abarca os fenômenos cognitivos, distinguindo-se do sentimento e da vontade. 

dito isto, torna-se claro que estou pulando fora da questão mente-corpo. isto não me impede de responder a questão central da filosofia (lembrar que sou do Movimento Ateus, Saiam do Armário) sobre quem tem precedência: se a matéria ou o espírito. entendo por espírito a média harmônica (termo usado em sentido não-técnico) entre o pensamento e a inteligência, acrescido de um fator alfa (do qual não tenho maiores detalhes). neste caso, desde o Big Bang, não é difícil de entendermos que foi a matéria que teve precedência. em particular, eu fui matéria muito antes de portar (se é que o faço) um espírito (ainda que no sentido de "mente"). meu corpo é mais velho. e, se não meu corpo, que poderia ter nascido junto, com o formato oferecido por meus pais, pelo menos os átomos que constituíram as moléculas que constituíram as células de que ele se compôs desde que o assunto começou.

por que será que eu manifesto preferências severas quanto ambicionar sempre o bem, o belo, o saboroso, o cheiroso, o harmonioso, o suave etc.? parece-me que a resposta também prescinde de Deus ("é o que Deus espera de mim"), ainda que um verdadeiro ateu, como é meu caso, ou ateu estrela, como ainda é mais o meu caso, não tem a ambição de provar que Deus não existe. um moderno panteísta conforma-se em sugerir que pode ser que Deus, Universo, Natureza, essas palavras com maiúsculas, sejam a mesma coisa. então, por que prefiro o limpo ao sujo? o honesto ao desonesto etc., e, enfim, a justiça à honra? por que acho legal ser altruísta e não egoísta? e que acontece comigo se eu cooperar o tempo inteiro? (serei explorado, não é mesmo?). hoje atrevo-me a sugerir que essas "virtudes' trazem vantagens evolucionárias. trata-se de virtudes que trouxeram maiores chances de sobrevivência de certos pacotes de moléculas que se auto-reproduziam.

a lógica evolucionária deixa Popper contrafeito (mas não a mim). parece que as moléculas que não fizeram isto direitinho não deixaram "descendentes", ou seja, elles sont disparues. hoje alguns sugerem que a humanidade (ou seja, pulei longe das simples moléculas) comporta 60% de altruístas e 40% de egoístas. não me desequilibro com estas cifras, afinal, não fui eu que as inventei e, se hoje ocupo a posição que me retém, é provável que isto se deva precisamente a estas proporções e um pouco de sorte de minha parte. (não posso deixar de dizer uma piadinha aprendida com Dawkins: todo animal tem uma meia dúzia de maneiras de manter-se vivo e milhões de maneiras de fenecer).  ética, estética, bem, mal, feio, bonito etc., fazem hoje mais sentido para mim do que no momento em que inventei o motto "ordem e bondade", que seria o farol condutor do movimento do Governo Paralelo (ver aqui).

ou seja, se não fôssemos bons o suficiente, belos o suficiente, justos o suficiente, não teríamos deixado descendentes (ou, pior, não seríamos descendentes de ninguém, ou seja, não teríamos existido).

que faz um político ser ladrão? que faz dinastias de políticos encastelaram-se no poder (seja na forma de reis, piratas ou jardineiras). que faz o político empregar parentes, privilegiar amigos, perseguir inimigos, ver a carência dos filhos de terceiros e, ainda assim, querer todos os privilégios para si e para os seus? aprendi no livro de Hargreaves-Heap et al (e já citei acima) a diferença entre honra e justiça. ele/s candidamente diz/em que o ladrão é bom em honra mas mau em justiça. gosto desta maneirinha candidinha brincalhoninha de colocar tão seriona coisona. que diabos de hereditariedade é esta que faz com que haja verdadeiras legiões de políticos em certas famílias, alguns degenerando e trilhando o caminho do bem, da justiça. há anos, tendo a dar como resposta um be-a-bá de economia: a estrutura de incentivos. claro que ela não está tão distante assim da molécula que se auto-reproduziu originalmente. a que não o fez feneceu. muitas das que se auto-reproduziram (filhotas da primeira?) também feneceram, mas -aparentemente- nós representamos uma linhagem que sobreviveu. aliás, na “Filosofia Econômica”, Joan Robinson (razoavelmente popperiana, herself) diz que só faz sentido (dá lucro) ser ladrão em terra de honestos. era Hobbes, sei lá, a luta de todos contra todos, sei lá.

aparentemente? e se eu não existisse? bem, para começar, seria bem divertido. aprendi com o Alvinho na revista Bolinha há milhares de anos: “quem seria eu se eu não fosse eu?” achei divertido, era filosófico! nesta linha de argumentação, chego à p.153 do livro

ECO, Umberto & MARTINI, Carlo Maria (2010) Em que crêem os que não crêem. Rio de Janeiro: Record.

a p.153 é a penúltima do livro, e contém um ensaio, de Carlo Maria Martini, intitulado “Mas a ética precisa da verdade”. Então:

   Em que crê quem não crê? É preciso pelo menos crer na vida, em uma promessa de vida para os jovens, não raro enganados por uma cultura que os convida, pretextando liberdade, a todo tipo de experiência que pode depois concluir-se em derrota, desespero, morte, dor. [...]

dá para começar a ler do início. mas inicio reclamando. não acho que seja “preciso crer na vida”. não acho que precise achar isto, acho que há vida em outras plagas, acho que acho, mas há razões intersubjetivas fortes o suficiente para levar-me a imaginar que não estou imaginando. ouvi um barulhinho lá fora. senti um cheirinho de perfume. perfume, claro, é evidente, não é gente, mas esta pista levou-me a suspeitar de que há gente que usa perfume, ergo há gente... ou seja, não precisamos acreditar na vida para crer no que cremos, que é em algo muito mais amplo do que a vida e que chamo agora, só por farra, de Natureza. e, em assim sendo, sou forçado a acreditar que há alinhamentos éticos e antiéticos, alinhamentos cheirosos e asquerosos, alinhamentos justos e injustos, bondosos e malvados, com e sem honra...

já a ideia de prometer vida para os jovens, para “os que vão nascer”, parece-me uma linha de resposta mais interessante. em outras postagens, fiquei viajando sobre o significado da História (com H e não com h, viu?). parece-me que estamos tratando da busca de nossas origens, gente como nós que se converteu em rei, pirata ou jardineira. gente que evoluiu de outras gentes que evoluíram dos bichos que evoluíram das estrelas mortas. parece que o singularmente humano não é singular: muito bicho tem muita coisa que temos. parece que também já postei falando em tabu do incesto, linguagem e compartilhamento de alimentos com estranhos. e não falei de milhares de outras coisas, da linha divisória, dos universais humanos, dos universais animais etc. etc. etc. três pontinhos, ponto. minha própria carga de leitura, a esta altura do livro, deixou uma nota (já na p.154) instigando-me a estudar mais o que é “Clio”, que -bem sei- não é marca de automóvel, ou melhor, é mas... esses antigos diziam cada coisa que deixa a gente amalucado até hoje: a deusa da História.
então a última coisa que escrevi na p.154 é instigante: “página 86, in fine e 87 caput têm o suco!”. claro que tentei-me a ir lá. mas jurei que, depois de fazê-lo, vou passar o livro página a página, from cover to cover. estamos no ensaio de Umberto Eco, intitulado “Quando o outro entra em cena, nasce a ética”, p.79-103, finalizado em fevereiro de 1996, ou seja, 15 anos oslt. depois voltarei, se for o caso. ok, inicio na p.85 in fine:

[...] Eu ainda era um jovem católico de 16 anos e aconteceu de empenhar-me em um duelo verbal com um conhecido mais velho que eu e tido como ‘comunista’ [...]. E, como ele me provocasse, fiz-lhe a seguinte pergunta decisiva: como podia, ele, um incrédulo, dar um sentido àquela coisa tão insensata que seria a própria morte? E ele respondeu-me: ‘Pedindo antes de morrer um funeral civil. Assim, já não estarei presente, mas terei deixado aos outros um exemplo’. Creio que também o senhor [no caso, o cardeal Martini] pode admirar a fé profunda na continuidade da vida, o sentido absoluto do dever que animava aquela resposta. E foi este sentido que levou muitos incrédulos a morrer sob tortura para não trair os amigos, outros a infectar-se com a peste por cuidar dos infectados. Essa é, até hoje, a única coisa que leva um filósofo a filosofar, um escritor a escrever: deixar uma mensagem na garrafa porque, de alguma maneira, aqueles que virão podrão acreditar ou achar belo aquilo que ele acreditou ou que achou belo.

   Este sentimento tão forte justificaria, realmente, uma ética tão determinada e inflexível, tão solidamente fundamentada quanto a dos que crêem na moral, na sobrevivência da alma, nos prêmios e nos castigos? Tentei basear os princípios de uma ética laica em um fato natural (e, como tal, também para o senhor, resultado de um projeto divino) como a nossa corporalidade e a ideia de que só sabemos instintivamente que temos uma alma (ou algo que exerce tal função) em virtude da presença do outro. [...] Mas pense bem, quem não crê não considera que alguém o observa lá do alto e sabe, portanto, que -exatamente por isto- também não há Alto que o possa perdoar. Se sabe ter feito o mal, sua solidão não conhecerá limites e sua morte será desesperada. Tentará antes, mais que o crente, a purificação da confissão pública, poderá perdão aos outros. Isto ele o sabe no íntimo de suas fibras e, portanto, terá que perdoar antecipadamente aos outros. Senão como poderíamos explicar que o remorso seja um sentimento que mesmo os incrédulos experimentam?

basta? não vou comentar, mas resenhar o livro desde o comecinho. então a primeira coisa que escrevi no livro, depois de ter lido partes, é o seguinte. eu creio que o pensamento é o maior elogio da evolução. eu creio que o pensamento é uma transformação e que também deve transformar-se em algo. eu creio que devemos organizar-nos para permitir que nossos pensamentos transcendam o tempo, livrem-se das condicionantes da matéria-energia-espaço-tempo e passem a flutuar no espaço multidimensional. ou melhor, apenas os bons e os melhores. não os repugnantes ou malvados. basta? parece que isto entrará numa novela de ficção científica que a Editora GangeS está tentando comprar-me.

na p.13, Umberto Eco -UE- começa o debate:

[...] não creio que devamos nos empenhar em questões de imediata atualidade -talvez aquelas sobre as quais posições demasiado divergentes poderiam delinear-se mais imediatamente. Melhor olhar mais longe e tocar em um argumento que é, sim, de atualidade, mas mergulha suas raízes bem longe e foi motivo de fascínio, temor e esperança para todos aqueles que pertencem à família humana, no curso dos dois últimos milênios.

e diz ser “o Apocalipse”, com este A maiúscilo, e eu reluto em escrever Universo, Deus, Natureza com maiúsculas... e que “[...] o pensamento do fim dos tempos é, hoje, mais típico do mundo laico do que do mundo cristão.” ele mesmo dissera, caricaturando estas posições, e eu volta e meia transcrevo “não espereis demasiado do fim-do-mundo”. eu sempre achei que este troço de Big-Bang e de Buraco Negro tem cura. basta termos paciência e aplicação. creio nisto! e estou com Gramsci, que -diz ele- diz que “se fala de pessimismo da razão e otimismo da vontade.” e agora (já na p.18, a última do primeiro ensaio) vem uma grande pergunta que -acho- terá lá sua resposta. lá, dele, Eco: “Há uma noção de esperança (e de responsabilidade em relação ao amanhã) que pode ser comum a crentes e não-crentes?”

no ensaio seguinte, o cardeal Carlo Maria Martini -CMM- ajudou-me a formatar a visão que tenho hoje da História -embora ele fale em história: “É assim [.] que a história foi vista, sempre mais claramente, como um caminho em direção a uma meta exterior, não imanente a ela.” claro que há gente que pensa que há uma “finalidade” na História, mas eu penso que não há intrinsecamente, penso que podemos dar-lhe este significado que, certamente, faltava -digamos- aos primos do macaco que ilustra esta postagem. e, claro, tudo pode acabar, em virtude da ação de milhares de causas, na linha das milhões de maneiras de perdermos a vida. claro que isto leva ao conceito de “esperança”, talvez da tríade fé-esperança-caridade (as virtudes teologais). seja como for, diz CMM: “[...] é possível ver crentes e não-crentes vivendo o presente, dando-lhe sentido e empenhando-se com responsabilidade.” claro que penso na finalidade, em alguma finalidade. para onde vamos? claro que tenho respondido: vamos para a pavimentação da estrada a ser percorrida pelos que vão nascer. diz ele por mim: “sem nenhuma retribuição visível”. ou seja, imbuídos de altruísmo. por que eu quero ter filhos e netos e bisnetos? para aproveitar a estrada que estou pavimentando para eles, afinal.

e dou um pulo para a p.74 e encontro uma frase interessante, de CMM, que obviamente não está solta do presente contexto: “E como fazer para decidir com certeza, nos casos concretos, o que é altruísmo e o que não é?” neste tipo de problematização, fui treinado para pular ao pragmatismo: vamos criar sistemas de incentivos (mais para Caça o Cervo e menos para Dilema de Prisioneiros) que impeçam as pessoas de agir de forma diversa do que atribuiríamos a um altruísta. ou seja, criemos tentações para as pessoas fazerem o bem, criemos penalizações para as que fariam o mal. é possível que um sistema bem azeitado evite 100% do mal. e aí não saberemos se as pessoas agiram “de bem” porque foi o sistema de incentivos ou porque foi seu sentimento de altruísmo. e o ponto pragmático é que não interessa. o bom resultado decorrente do fato de que um egoísta racional me trata bem é que eu fui bem tratado. e se ele é altruísta e também me trata bem, também me sinto bem...

mas ele, na página seguinte, filosofa:

Tenho dificuldades em enxergar como uma existência inspirada nestas normas (altruísmo, sinceridade, justiça, solidariedade, perdão) pode sustentar-se a longo prazo e em qualquer circunstância se o valor absoluto da norma moral não está fundado em princípios metafísicos [itálico no original] ou em um Deus pessoal.

que posso dizer? pelo menos para os 60% de altruístas, não tenho dificuldade nenhuma. os etologistas explicam isto bem direitinho. ainda que não lembre, volta e meia leio coisas sobre as sociedades das formigas e fico boquiaberto com as analogias entre suas ações e comportamentos altruístas do ser humano. ou seja, alguns dos que não crêem crêem em comportamentos altruístas. sob o ponto de vista da argumentação de um egoísta racional, busquei a metáfora da construção de uma estrada a ser trilhada pelos que vão nascer. mas isto também pode ser egoísmo, não é? posso pensar que existe mesmo alma ou algo parecido e que apenas com tecnologias mais refinadas do que as que hoje vemos disponíveis a minha será resgatada em algum momento pós-Big Bang e pré ou pós o Amagedon (olha o A maiúsculo, sô). um menino de rua falou em “exumação”. isto seria egoísmo racional e poderia ser confundido com altruísmo. quero ser resgatado para poder fazer massa crítica para impulsionar a felicidade dos outros, para que os outros sintam-se melhor naqueles cafundós que nem podemos descrever!

já falei antes que o cerne está no ensaio de UE das p.79-90, cujo título é “Quando o Outro entra em Cena Nasce a Ética”. e acho que nasce também a História, o que não é a mesma coisa. ética é “bom” e qualquer coisa é “sei lá, entende?”. e UE começa a falar nos “universals”. ele diz que, em sua opinião, o mais característico de todas as culturas humanas encontra-se entre as noções sobre “as posições de nosso corpo no espaço”. e acho que devemos pensar no quarteto matéria-energia-espaço-tempo. também somos “prisioneiros do tempo”, a menos que haja aquele negócio que chamei de exumação.

começo com uma curiosidadezinha de que já ouvira falar: “[...] os jesuítas responderiam sempre a uma pergunta com outra pergunta.” mas o que interessa é que chegamos a um ponto interessante, um petitio principii de UE. ele mostra-se como ele próprio pode pensar e expor da mais cativante forma:

[...] Certos problemas éticos tornam-se mais claros para mim ao refletir sobre alguns problemas semânticos - e não se preocupe se alguns dizem que falamos difícil: eles poderiam ter sido encorajados a pensar fácil demais pela ‘revelação’ da mídia, previsível por definição. Que aprendam a pensar difícil, pois nem o mistério, nem a evidência são fáceis.

   Meu prolema era se existem ‘universais semânticos’, ou seja, noções elementares comuns a toda a espécie humana que podem ser expressas por todas as línguas. Problema não tão óbvio, no momento em que sabemos que muitas culturas não reconhecem noções que para nós parecem evidentes: por exemplo, a da substância a que pertencem certas propriedades (como quando dizemos ‘a maçã é vermelha’) ou de identidade a = a). Estou, no entanto, convencido de que certamente existem noções comuns a todas as culturas, e que todas elas referem-se às posições de nosso corpo no espaço.

   Somos animais de postura ereta, por isto é cansativo permanecer muito tempo de cabeça para baixo e, portanto, temos uma noção comum de alto e baixo, tendendo a privilegiar o primeiro sobre o segundo. Igualmente, temos noções de direita e esquerda, do estar parado e do caminhar, do estar em pé ou deitado, do arrastar-se e do saltar, da vigília e do sono. Como todos temos membros, sabemos o que significa bater em uma matéria resistente, penetrara em uma substância mole ou líquida, esmagar, tamborilar, amassar, chutar, talvez até dançar. A lista poderia continuar indefinidamente e compreender o ver, o ouvir,  comer ou beber, ingurgitar ou expelir. E certamente todo homem tem noção do que significa perceber, recordar, sentir desejo, medo, tristeza ou alívio, prazer ou dor e emitir sons que exprimam estes sentimentos. Portanto (e já entramos na esfera do direito), temos concepções universais acerca do constrangimento: não desejamos que alguém nos impeça de falar, ver, ouvir, dormir, engolir ou expelir, ir aonde quisermos; sofremos se alguém nos amarra ou mantém segregados, nos bate, fere ou mata, nos sujeita a torturas físicas ou psíquicas que diminuam ou anulem nossa capacidade de pensar.

   Notemos que até agora coloquei em cena apenas uma espécie de Adão bestial e solitário, que ainda não sabe o que seja a relação sexual, o prazer do diálogo, o amor pelos filhos, a dor da perda de uma pessoa amada; mas nessa fase, pelo menos para nós (se não pare ele ou ela), esta semântica já se transformou em base de uma ética: devemos, antes de tudo, respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e de pensar.[...]

   Mas como é que, mesmo elaborando de imediato seu repertório instintivo de noções universais, o/a besta -toda estupor e ferocidade- poderia chegar a compreender que deseja fazer certas coisas e que não deseja que lhe façam outras, e também que não deveria fazer aos outros o que não quer que façam a si mesmo? Porque, felizmente, o Éden populou-se rapidamente. A dimensão ética começa quando entra em cena o outro. [...]

e:

[...] é o outro, é seu olhar, que nos define e nos forma.” E liga genialmente: “Como então houve ou há culturas que aprovam o massacre, o canibalismo, a humilhação do corpo de outrem? Simplesmente porque estas culturas restringem o conceito de ‘outros’ à comunidade tribal (ou à etnia) e consideram os ‘bárbaros’ como seres desumanos [...].” e daqui ele segue para o que já falei acima. fala de duas anedotas, das quais referi a do amigo comunista, o significado da História (que, naturalmente, o meu difere do dele/s) e a consciência de que tenho/tive ancestrais e tenho/terei sucessores que poderão exumar-me. outros, outros, outros. e segue-se outro elemento fundamental da religião e, por que não?, alheio a ela: a capacidade de perdoar. repito o que ele diz: “[...] como poderíamos explicar que o remorso seja um sentimento que mesmo os incrédulos experimentam?

vai mais uma citação monstra, agora das p.87-88-89:

   Não gostaria que se instaurasse uma oposição seca entre quem acredita em Deus transcendente e quem não crê em nenhum princípio supra-individual. Gostaria de recordar que era dedicado justamente à Ética, o grande livro de Spinoza que começa com uma definição de Deus como causa de si mesmo. Salvo que esta divindade spinozana, bem o sabemos, não é nem transcendente nem pessoal: mesmo assim, também da visão de uma grande e única substância cósmica, na qual um dia seremos todos reabsorvidos, pode emergir uma visão da tolerância e da benevolência, exatamente porque é no equilíbrio e na harmonia da substância única que estamos todos interessados. [...] poderíamos recolocar o problema de alguma vida depois da morte. Hoje o universo eletrônico nos sugere que podem existir sequências de mensagens que se transferem de um suporte físico a outro sem perder suas características inimitáveis, e parecem sobreviver como puro imaterial algoritmo no instante em que, abandonado o suporte, ainda não estão impressas em um outro. E quem sabe a morte, mais do que implosão, não é explosão e selo, em algum lugar entre os vórtices do universo, do software (que outros chamam de ‘alma’) que elaboramos vivendo, feito também de recordações e remorsos pessoais e, portanto, de sofrimento insanável ou senso de paz pelo dever cumprido, e amor.

[...] Este homem, para encontrar coragem para esperar a morte, tornou-se forçosamente um animal religioso, aspirando construir narrativas capazes de fornecer-lhe uma explicação e um modelo, uma imagem exemplar. [...] Se eu fosse um viajante proveniente de galáxias distantes e me visse diante de uma espécie que soube propor tal modelo, admiraria, subjugado, tanta energia teogônica e julgaria redimida esta espécie miserável e infame, que tantos horrores cometeu, apenas pelo fato de que conseguiu desejar e acreditar que tal seja a verdade.

e eu penso: faz-me tanto bem ler esta coisa das imaterialidades dos softwares e associá-las à possibilidade que terei de transferir-me deste corpo e, mais ainda, deste Universo a outro/s que me interessem, ou que permitam a meus sucessores realizarem a operação de resgate. e também que fui marcado pela noção crua e nauseante de que o marimbondo que imobiliza a aranha para depositar-lhe os ovos nas entranhas não “quer o mal” da aranha, não sabe de que cor são suas vísceras nem se ela tem ilusões sobre a perfunctoriedade do imediato pós-Big Bang.

a p.91 do livro anuncia um “Coro”, ensaios de outros pensadores italianos contemporâneos, associando-se a CMM e UE. o primeiro sustenta que não é evidente que devamos “respeitar os direitos da corporalidade do outro” e, como tal, não é ditame absoluto o “não faças aos outros o que não queres que te façam”. eu pensei: epa, adotar posturas de dominar o outro envolve jogos que não são detentores de estratégias dominantes. não posso ser feliz sob a perspectiva de acabar sendo escravo, ou de poder vir a sê-lo. ao mesmo tempo. considero que um indivíduo que faça sua felicidade depender de minha escravidão precisa de uma boa reciclagem em sua auto-estima. se é condenável escravizar um animal, só imagina o mal-estar que me provoca a possibilidade de ser torturado por um governante ou traficante. talvez novamente a chamada ao pragmatismo é que seja o antídoto para este tipo de -assim chamarei- niilismo. trata-se de Emanuele Severino.

o próximo ensaio, de Manlio Sgalambro, tem por título “O bem não pode basear-se em um Deus homicida” (p.105-108). interessantíssimo, pois volta à questão do reconhecimento do sujeito pelo reconhecimento enquanto sujeito pelo outro. olha esta:

“O senhor [i.e., CMM] certamente não sabe, mas eu sustento que o bem só se pode pensar, não fazer. O que o senhor diria se eu acrescentasse que, sendo ‘pensamento’, não pode ‘ser’? Acrescento também que para mim a impiedade é sede inexausta de bem e fico indignado que isso seja ligado a Deus, cuja ideia, volto a dizer, o rejeita totalmente.

   Ao eleger um homem para próximo, irmão, contesta-se o Absoluto que nos joga juntos na morte. Pois para nós mortais querer o bem de alguém é querer que este alguém não morra.

   Eleger um homem par próximo é elegê-lo para a vida. Como se pode então fundar este a to em um Deus ‘que nos chama a ele’? Ille omicida erat ab initio: no próprio princípio ontológico está contida a nossa morte. O ato do bem no momento em que elege um ‘outro’ como próximo, diz: tu não deves morrer. O resto é uma subespécie do útil. No bem há aflição e dor pelo fato de que se morre. O bem é uma luta contra a mortalidade do outro, contra ‘o ser’ que o suga e o mata [...]. Entendido desta maneira o bem é impraticável e é apenas ‘pensamento’. Mas como se poderia, de resto, sustentar uma visão que não fosse a da impraticabilidade do bem? Querer o bem do outro é querer que ele não morra, eis tudo. (Como se pode ligar, repito, a ideia do bem a Deus, que é a própria morte? Creio, ao contrário, que a ideia de Deus e a ideia de morte estejam a tal ponto associadas que podemos adotar tanto um nome, quanto o outro). O resto é Justiz und Polizei.

e eu que, candidamente, falara em sinônimos como Deus, Universo, Natureza, até com deus, universo e natureza. mas esta agora de associar com morte ou até Morte é dose. e eu, que não sei latim nem alemão (embora tenha morado em Pescara e Berlim) traduzi: “Deus, desde o início, é homicida” e “Justiça e Polícia”. gosto desta última, considero que o sistema judiciário precisa montar um complexo de incentivos que impeça a violência contra o outro. como altruísta, claro, diria que não faço mal a uma mosca; como egoísta, solidarizo-me com os que garantem minha integridade.

na p.111, ele faz uma afirmação que me parece destoante de crenças e informações que eu mesmo acalento: “[... a ciência destronava o homem e, com ele, seu criador.” claro que a questão de quem criou o homem permanece, mas a proposição de que a ciência destronou o homem é antropocêntrica, num sentido irônico. claro que a ciência não destrona ninguém, pois ela é pensamento, como aprendi a consolidar com o próprio livro. ademais, a ciência é fruto do cérebro humano, ela é um elogio do poder da abstração do cérebro humano e de nenhum outro ser vivo (particularmente, se definirmos como ser vivo apenas o clube da macacada do Planeta Terra). há anos aprendi a classificação dos órgãos endo-somáticos e exo-somáticos e acho que a ciência é claramente (mais claramente ainda, os manuais de ciência) um órgão exo-somático, ou seja, algo usado pelo homem e que originalmente lhe era alheio ao corpo. um martelo, um copo, uma pílula anti-vermífuga. mas ele segue:

   No momento mesmo em que a necessidade e o acaso tomavam o lugar da causalidade e do destino, a pretensão de remontar, com a razão, do efeito final à Causa Primeira tornou-se insustentável e, de fato, nenhuma mente madura recorre mais a tais argumentos.

no próximo parágrafo, ele entrou em considerações que me lembraram a hierarquia das necessidades humanas, conforme expressas por Abraham Maslow:

[...] o homem não é dominado apelas pelo próprio egoísmo, mas também por um anseio de virtude, de conhecimento, de bem e de justiça e [...] estes sentimentos são, em larga medida, conflitivos em relação ao puro e simples amor de si [...].

eu não posso furtar-me de pensar que estamos falando de coisas que transcendem o vencimento da escassez, claro, mas que boa parte destas virtudes serão alcançadas precisamente numa sociedade em que a distância entre a mão e a boca torne-se praticamente nula a qualquer momento da existência do indivíduo. e tem mais:

[...] Os animais, as plantas, as rochas, as galáxias, em suma, a natureza sai do domínio do divino e assim desaparece também a imagem apocalíptica do Deus das batalhas, das tentações e das punições terríveis e cósmicas. Verdade, bondade, justiça, mas sobretudo amor: esta é a representação cristã que emerge da cultura católica mais cauta e avançada no início do século XXI.

[...] Quando a reflexão modifica sua ótica e seus objetivos, isso sempre acontece sob o impulso das necessidades dos homens, os quais, evidentemente, estão hoje muito mais empenhados nos problemas da convivência do que naqueles da transcendência.

eu acho que, vencida a barreira das necessidades, passaremos a pensar nos dois: arte e esporte, buscando entender melhor a transcendência a partir da convivência... depois de falar de erros e até crimes da Igreja Católica, ele prossegue:

   Repito: não estou desenterrando erros e até crimes que hoje -mas só hoje - a Igreja já admitiu e repudiou; estou simplesmente afirmando que a moral cristã, eminentíssimo cardeal, ligada ao Absoluto que emana do Deus transcendente, efetivamente não impediu uma interpretação relativizante da própria moral. Jesus impediu que a adúltera fosse lapidada e sobre isso edificou uma moral baseada no amor, mas a Igreja fundada por ele, mesmo sem negar esta moral, interpretou-a de uma maneira que levou a verdadeiros massacres e a uma cadela de delitos contra o amor. [...] Concluo sobre este ponto: não existe ligação com o Absoluto, não importa o que se queira entender por esta palavras, que evite a mutação da moral segundo os tempos, os lugares e os contextos históricos nos quais uma vivência humana se desenvolve.

   Qual é, portanto, o fundamento da moral no qual todos, crentes e não-crentes, podemos nos reconhecer?

  Pessoalmente sustento que ele reside na pertinência biológica dos homens a uma espécie. Sustento que na pessoa se defrontam e convivem dois instintos essenciais: o da sobrevivência do indivíduo e o da sobrevivência da espécie. O primeiro dá lugar ao egoísmo, necessário e positivo desde que não supere um limite além do qual se torna devastador para a comunidade; o segundo produz o sentimento da moralidade, isto é, a necessidade de responder pelo sofrimento do outro e pelo bem comum.

   Cada indivíduo elabora estes dois instintos profundos e biológicos com a própria inteligência e a própria mente. As normas da moral mudam e devem mudar, pois muda a realidade à qual são aplicadas. Mas em um ponto são imutáveis por definição: normas e c comportamentos só podem ser definidos morais na medida em que superarem de algum modo o horizonte individual e agirem para realizar o bem do próximo.

   Este bem será sempre fruto de uma elaboração autônoma e, portanto, relativa, mas esta elaboração não poderá jamais prescindir da compreensão e do amor pelos outros, pois este é o instinto biológico que está na base do agir moral.

não pude deixar de pensar novamente nas questões que a literatura que me é mais familiar chama de altruísmo (cooperação) x egoísmo (rivalidade). da mesma forma, entendo que estas preocupações com o outro levam-nos a pensar em sua sobrevivência como um elemento que garanta que alguém conte nossa história aos pósteros.

mais adiante, na p.129, Indro Montanelli, dá um maravilhoso resumo do programa iluminista:

Os iluministas perseguem um objetivo político com as armas da crítica intelectual; um grau certo de maior liberdade, maior tolerância das opiniões e dos direitos de todos, reformas econômicas e jurídicas, escrúpulos, eficiência, justiça.

isto me lembrou meus também amados Hargreaves-Heap e Varouvakis, de quem cito de segunda ou terceira mão o seguinte: “[...] all those overarching systems originating in the Enlightnment -from the belief in rationality, science and causality to the faith in human emancipation, proress and class struggle.” pois, porque, porquanto confronto o que penso serem valores supremos, como no conceito de sociedade justa de John Rawls e a supremacia absoluta da liberdade, mas não apenas isto, pois também a ideia de relativismo cultural entra em pane ao considerarmos este ambiente. claro que não posso aceitar que a sociedade asteca estava coberta de razão ao infligir enormes suplícios a seus efebos, na busca de seleção da coragem!

passo à conclusão. que está lá pelo começo da postagem. em que crêem os que não crêem? creio que cremos na necessidade de montar arranjos sociais que transcendam nossas próprias preferências ao lidarmos com questões delicadas. por exemplo, devemos desincentivar que se faça justiça com as próprias mãos. creio que devemos crer na liberdade. creio que devemos punir quem se aproveita dos bons sentimentos de outros, creio que devemos lutar para debelar a escassez, creio na redenção da matéria, na redenção do trabalho burocrático, na redenção pelo trabalho sofisticado, na redenção pelo uso dos órgãos exo-somáticos, na máquina, na inteligência artificial, no futuro luzidio, na fuga ao colapso do Sol. no futuro, no futuro, nos descendentes, na exumação.

DdAB

2 comentários:

Tania Giesta disse...

Caro Duilio: ao ler "Ética e Estética: em que crêem os que não crêm" recordei o mito da caverna, no qual Platão faz toda uma caracterização de uma sociedade que se fundamenta nas suas aparentes verdades para justificar e organizar a parir desses princípios os pressupostos básicos que definem a forma de ser de toda uma conjuntura social.Os individuos dessa sociedade passam a nao qustionar o modelo diante do qual se deparam. A verdade é um processo de busca e de incessante aprimoramento.
Platão representa na alegoria da caverna os homens presos a grilhões, são individuos condicionados pelo mundo das aparências....para mim remonta aos modelos educacionais vigentes ainda hoje. Cabe aqui refletir sobre a postura pessoal de EU educador. Assim como os personagens do mito da caverna estão presos e acorrentados na caverna, por vezes as estruturas educacionais são a representação dos alunos ou dos professores presos aos seus modelos educacionais dogmáticos e ultrapassados. A sala de aula não pode ser a caverna que aprisiona, e sim o espaço onde o feixe de luz da esperança se aprimora!

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

ééé Tânia:
belíssimo isto! e faz-me pensar em minhas próprias contradições, ao examinar as contradições de outros. por exemplo, na antepenúltima frase do capítulo final de minha tese de doutorado, escrevi: Like Plato's prisoners, the inhabitants of the poorest households sub-economy see their own world as if it were the world of shadows. (estou falando, claro, do Brasil, daquele que existiu entre 1970 e 1980). esclareço. quando dizes "A verdade é um processo de busca e de incessante aprimoramento", penso no programa de pesquisa popperiano, mas a ideia te foi cedida por Platão. zehr interessant!
seja como for, inquieto-me em indagar: "já existem os modelos educacionais não-dogmáticos e atualizados?". ainda ontem, vi um filme contemporâneo em que uma criança americana de sete anos explica à babá filipina o que é Big Bang. a serviçal disse que quem criou as estrelas foi Deus e a garota respondeu: "foi o Big Bang. isto é científico." mas concedeu: "claro que foi Deus quem criou o Big Bang". minha postagem compartilha desta ontologia e cosmologia, pois alguém teria que ensinar algo às crianças. e não deveria ser o criacionismo de G.W. Bush, não é mesmo?
DdAB