05 setembro, 2010

Efeito Excel e Estrutura Produtiva

querido blog:
que é Efeito Excel? um conceito sobre a análise da mudança estrutural da economia, em sua área produtiva. naturalmente há ainda as áreas da distribuição e da absorção. naturalmente a produção e a absorção representam o lado real, falamos em bens e serviços de uso final ou produzidos ou consumidos. o elemento intermediário é a distribuição. ao produzir a economia gera uma distribuição que é alterada pelas transferências interinstitucionais -como as de pai para filho, de governo para político etc.- e o resultado determina a absorção na forma de consumo dos pobres, consumo dos ricos, gasto do governo (inclusive aqueles com ladroagem), investimento e exportação.

efeito excel é a convergência a zero de um número real semipositivo que vai perdendo casas decimais, que lhe vão tirando as unidades e os dígitos significativos à medida que o tempo passa (não por influência da passagem do tempo, mas da perda de importância estatística do fenômeno que está sendo mensurado), indicando percentuais de shares de algum setor no PIB. o PIB, como sabemos, é uma das três óticas de cálculo do valor adicionado (as demais são a renda e a despesa), o valor adicionado é a quantidade monetária que melhor representa o esforço produtivo despendido pela sociedade num determinado período.

nunca me pareceu ocioso repetir o contexto do qual emergiu o enunciado do Efeito Excel. constatei que, em 1949, a fração da população brasileira ocupada na agricultura foi de 70%. digamos que, em 2049, ela venha a ser de 1,10%, uma vez que hoje é de menos de 20%. e em 2050, ela caia para 1,09%, e assim sucessivamente, até chegar a 0,51% em 2099. mas segue caindo: 0,50% em 2100, passando para 0,48% em 2110, e 0,45% em 2120 e ainda 0,44% em 2222. neste caso, se estivermos fazendo nossos cálculos com uma simples casa decimal na matemática do ponto flutuante, chegaremos representar a participação do emprego agrícola no PIB como nula. ou seja, ainda que sigamos dando flores a nossos/as amados/as e comendo bifes de boi lascado, a importância relativa do emprego agrícola na ocupação total da mão-de-obra do ano expresso em 2222 será irrelevante para explicar o emprego. esta perda de importância refletirá a mudança estrutural para a geração do valor adicionado em outros setores produtivos.

na verdade, falar em consumo de flores e matança de vacas não quer dizer que é a florista que planta flores nem que é o restaurante que apunhala a boa vaquinha. ocorre que as sucessivas camadas de valor que vão sendo adicionadas sobre a semente de flor e o sêmem de bovino (e as que vieram sendo adicionadas sobre outros insumos antes da semente e da avó do touro) não são alocadas ao setor agrícola, mas essencialmente aos serviços. em NyLon, isto é, em New York ou em Londres, torna-se claro que são os serviços que mais adicionam valor no bife que acompanha o buquê de flores que acompanha o casalzinho.

afinal, nem morte o boi encontrará na agricultura, pois há muitos anos, o coitadinho é assassinado na câmara de sacrifício postada no setor industrial. (será que em 2222 ainda haverá brasileiros carnívoros? ainda haverá brasileiros? ainda haverá Brasil?).

o zero de participação do setor agrícola no emprego não impedirá que um computador operando plantação e colheita de flores, embalagem e remessa ao restaurante tribecano. e a produção do computador seguirá sendo fruto do setor industrial e do emprego correspondente, ocorrendo o mesmo fenômeno Excel, ou seja, ele -emprego- chegará a 1% e depois cairá até desaparecer. em 2222, tudo será possível. o setor serviços deixará de assim chamar-se, pois se tudo é serviços não há relevância em assim "distingui-lo" ("de quê?").

ao mesmo tempo, devemos pensar que, se não haverá emprego significativo nem para as embalagens nem para a refrigeração dos bifes, nem para a pilotagem dos trens (correias de montagem) que levam a flor do "meio rural" ao restaurante do Soho, então haverá emprego em outro "local". a questão da mudança estrutural é identificarmos qual será este "local", este "ambiente" de geração de valor. este ambiente por meio do qual o dinheiro ingressará no circuito da produção social e ordenará compras de bens de consumo final, que ordenarão produção de flores, computadores ou serviços médicos.

o ponto do Efeito Excel é que, além da agricultura e da indústria, na sociedade do futuro, no ano de 2222, veremos a participação dos serviços de comércio, armazenagem, transportes, de bens, comunicações locais, governo, vivenda e outros cairem a zero. a educação vai resistir, os serviços médicos e de hospedagem devem crescer. no ano de 3333, a dominância absoluta será do setor de intermediação financeira que, por isto mesmo, será subdividido em atividades que hoje nem somos capazes de conceber a existência. para não dar exemplos que não me ocorreriam nem amarrado, falo apenas em bancos, imobiliárias, mas principalmente seguros.

o seguro generalizado de Arrow poderá mesmo induzir o ganho de prêmios extraordinários a levar minha empresa seguradora a desenvolver a pesquisa genética, sei lá, e tornar meu horizonte de vida tão amplo que lhe maximize os ganhos intertemporais. ela venderá (a minha revelia?) um título de minha imortalidade, dos úteis de satisfação (utilidade) que algumas pessoas derivarão de minha existência (netinhos? bisnetinhos???).

ou seja, da panóplia de mercadorias levadas a seu zênite pelo capitalismo (inclusive a honra...) vai acabar ficando apenas uma: o risco. e a maneira medieval de lidar com ele é o seguro. teremos seguro contra picada de mosquito, seguro contra dor de cotovelo, seguro contra resultado atropelado de palpite na loto, seguro sobre derivativos de palpites sobre palpites sobre palpites etc.? claro que teremos. tanto é que Borjalo, ou Millôr Fernandes, ou um daqueles humoristas nos anos 1950s ou 1960s, já esclareceu a milenar recorrência: um cientista, preocupado e promotor da corrida armamentista bolara o anti-anti-anti-foguete (termo agora grafado sem hífem, por desígnios dos funcionários da ABL e de acionistas de gráficas que vendem livros ao setor público).

claro que esta cornucópia de aplicações gera derivativos dos quais emergem, como mushroms, de restaurantes sohonitas, outros derivativos, assim por diante, ad nauseam. e seguros contra a náusea. dentro de poucos séculos, teremos seguros contra tudo. todo o emprego vai localizar-se no setor "seguros".

fui claro? a imagem que selecionei hoje foi editada por mim mesmo (tirei do clic) e representa a imersão do barato no caro. é tecnologicamente sofisticado fazer barracões cobertos de plástico, possivelmente de estrutura metálica. mas isto não se compara com o edíficio postado ao fundo, mistura de ferro, plástico, vidro, madeira, algodão, e por aí vai. orçar o custo de cada peça e agregá-las é tarefa divina!
DdAB

4 comentários:

Anônimo disse...

Ola, acabei de ler o artigo que sugeriu lá no blog. No início do texto, lembrei-me das aulas de microeconomia dos livros de Varian. Mas de repente percebi uma guinada nas conclusões, principalmente com respeito ao tema principal do fluxo de renda. Achei os argumentos interessanttes e fácil de acompanhar. Pretendo retornar aos estudos para poder debater melhor essas questões. por enquanto fico no plano metafisico, mas espero voltar em breve. parabens a voce e aos parceiros do artigo, ficou deveras interessante.


P.S. Devo manter o artigo salvo, pois percebi a necessidade de releitura, pois alguns pontos fugiram do meu raciocínio.


Abraços

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

aí, Daniel:
os pontos ininteligíveis são inteligentíssimos testes para a atenção do leitor... e algo parecido vai aparecer daqui a algumas semanas no livro de contabilidade social que estou organizando. espero que, no devido tempo, aceites um exemplar como prova de meu apreço por teu envolvimento com a ciência econômica.
DdAB

Anônimo disse...

Opa, ficaria honrado. Mas lerei mais uma vez, para poder absorver toda a informação possível. Abraços.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Para a história do mundo: o livro foi lançado mesmo em tipo abril/2011 e fiz uma sessão de autógrafos reversos no final de junho daquele longínquo ano. E por aquela época consegui o endereço de Daniel Simões Coelho e lhe enviei um exemplar do livro.
DdAB