11 agosto, 2010

Contradições: discordo diplomaticamente

querido blog:
um tanto esgarçado este velhinho que aparenta uma contradição. diz o código de trânsito que vemos "homens trabalhando", quando vejo apenas um, se é que não é um boneco munido de uma pá. mas não era uma contradições? pode ser um homem trabalhando, mas também pode ser um higienizador removendo as contradições do espaço jornalístico. fico com esta hipótese, diplomaticamente.

costumo, como sabem as rotativas mais antigas, o prelo, os clichês, os linotipos, manifestar meu apreço pelo jornal Zero Hora, que leio diariamente (e já fiz minha tarefa de hoje) e pela revista Carta Capital (que fo-leio semanalmente, e ontem falei nela). há dias, andei uns dias lendo La Nación, da próspera cidade de Buenos Aires e seus moradores/trabalhadores de rua. e ontem comecei a ler o n.47 do Le Monde Diplomatique Brasil (ou seria Brésil?). Não demorei a constatar que o diretor e editor-chefe (p.2), Sr. Sílvio Caccia Bava, apresentou-se na p.3 como jornalista e disse: "São 25 mil assassinatos ao ano por cada 100 mil pessoas [...]". gelei. fazia tempo que eu não lia o "Diplô" doméstico. andei lendo um que outro original em meu tugúrio italiano. mas por cada? cá entre nós, faltou paciência para o editor chefe dar uma relidinha em seu texto e simplesmente eliminar o "cada", com o quê liberaríamos a porcada. ok, isto não é contraditório com regras da lógica, não é mesmo?

ok. vejamos o que diz a chamada para a entrevista que Luiz Eduardo Soares dá, adivinhem a quem?, ao próprio Sr. Sílvio, na p.4: "Quem associar pobreza a violência estará, involuntaria e inadvertidamente, justificando o procedimento do policial". li, choquei-me, pensei se não seria recurso retórico o ex-secretário nacional de segurança pública em 2003 (sic). afinal, conheço um menino de rua que alega associar pobreza e violência voluntaria e advertidamente e não lhe tiro o direito de assim pensar. mais ainda, na p.10 e duas matérias após a entrevista, vemos a chamada para a matéria "Caracas em chamas": "Os números apontam para o paradoxo que vive a capital venezualena:o índice de violência atingiu 127 homicídios por 100 mil habitantes [...]. Por outro lado, em dez anos, a taxa de pobreza baixou de 60% para 23%."

decidi entrevistar o menino de rua.

-caro abcd (nome mantido em sigilo), você vê contradição no aumento da violência e redução da pobreza?

-caro DdAB (nome escrito por extenso no frontispício deste blog), não vejo, não. o que vejo é a insofismável prova de que, em Caracas, os ricos é que são os criminosos.

decidi mudar de asssunto:

-diga-me, abcd, quanto é 3 x 5.

abcd olhou-e e disse:

-por que você não redireciona sua pergunta ao prefeito da cidade?

eu redirecionei para esta foto:
e fiquei a indagar-me o que haverá de intrinsecamente errado no trabalho da polícia? voltei a indagar ao menino de rua:

-que que tu acha do barrigão do primeiro policial?

ele disse:

-não acho nada, exceto que ele deveria ser submetido a três horas de ginástica por dia (para manter a coluna ereta), três horas de aula por dia (para manter a mente quieta) e três horas de trabalho comunitário por dia (para manter o coração tranquilo). ou, por outra, reservo-me o direito de nada mais dizer sobre o tema.

fui forçado a anuir diplomatica e também espalhafatosamente. não vi contradição alguma.
DdAB

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