07 abril, 2010

despretenciosa escassez

querido blog:
estivesse eu num ambiente como o acima talvez, despretenciosamente, pudesse estar fazendo precisamente esta postagem. não li em Zero Hora o tema, ouvi-o na Rádio Pampa ou outra de ondas médias. um orador com sotaque não integralmente gaúcho. falou muitas coisas dignas de olvido e, inadvertidamente, ouvi-o dizer que a tragédia que hoje abate o Rio de Janeiro era inevitável.

ora, eu admito que haja ocorrência de desastres naturais que não requerem autorização humana ou sua obstaculização. todavia tenho dois óbices, para ilustrar minha postagem de hoje. o primeiro, vim a entender, não é bem-vindo por muita gente: há gente demais no planeta. obviamente não quero dizer que haja cérebros demais, pois ainda falta muito para a humanidade declarar-se realmente conhecedora de diversos mecanismos basais do funcionamento do universo e, muito mais banal, do próprio planeta Terra, not to speak of o conhecimento do corpo humano, inclusive -o que é mais diabólico...- o cérebro.

é impossível produzir cérebros caprichados quando em montões de cantões do planeta sequer se pode alimentar a barriga. se falta comida, faltará educação, faltará esporte e faltará arte. quer dizer, não será por meio da universidade das ruas que saberemos, afinal, se temos 10 bilhões ou 100 bilhões de neurônios. ou seja, para produzir melhores cérebros, o bom mesmo é que não haja tanta barriga para encher, se me faço expressar adequadamente.

em segundo lugar, há algo mais na teoria de incriminar a vítima. pela própria natureza da escassez relativa do planeta, há gente morando nos mais escalafobéticos locais, desde a calota polar do norte até beiras de abismos e topo de vulcões. mas pior ainda é a mania humana de comer seus parentes, os mamíferos e, de maneira mais radical, todos os demais bichos. claro que, no futuro decente, quando os cérebros puderem trabalhar adequadamente, deixaremos o planeta para os animais curtirem seus próprios ditames da cadeia alimentar. abandonaremos nossa condição de reis dos animais, no sentido de mastigá-los, inclusive aos leões.

concluindo este segundo item, parece que a catástrofe do Rio de Janeiro poderia ter sido amenizada. claro que se lá houvesse urbanização decente, bom trabalho nas margens dos rios e tudo o mais, teríamos enxurradas menos devastadoras. claro que o vilão não é o pessoal do Pasquim que tomou a governança do estado, claro que não são os traficantes de drogas. claro que é um movimento coletivo de desmandos que pode ser desfeito por esses dignitários, na medida em que eles venham a organizar as preferências coletivas e, principalmente, usar o dinheirinho de que lançam mão para o bem e não para aumentar o índice de Gini local.
DdAB

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