09 dezembro, 2009

Tigre, tigre, tigre

Querido Blog:
Procurei "tigre, tigre, tigre, marcadinho de ponta a ponta". Nada achei, mas ele mesmo -os tubos e conexões Tigre- diz-se "como Tigre só tem Tigre". Eu pensei em três tigres: "Tigre, Tigre, Tigre." Etc..

Mas são até mais de três. Nem contara antes, conto-o agora, o livro de Gabriel Cabrera-Infante tem por título "Três Tristes Tigres". Um dia destes, acabo de ler. Se bem lembro, comecei a fazê-lo há mais de 20 ou 30. Em, talvez, mais 20 ou 30 ou 20x30=600, termine-o, ou me termine, sei lá.

Começando com a continuação dos tigres. Falarei agora nos três que me ocorreram ao ler a notícia de que o "PIB gaúcho cresce menos do que o brasileiro", que é uma chamada de notíciazinha na p.24 de Zero Herra. Erra? Ela erra? A Zero? Supondo que o PIB brasileiro cresça 08,% em 2009 (ainda não cresceu, pois o ano não acabou, não é mesmo?), não teremos mais do que uma "marolinha". Eu previra, no mundo, crescimento zero, inflação e desemprego. No Brasil, não há desemprego, de acordo com os cadastros da RAIS. Para mim, este é um dos maiores mistérios, apenas tornado menos fantasmagórico pelos desígnios da aprovação sideral do Governo Lula pelas amostras unânimes dos institutos de pesquisa nacionais. Voltarei ao ponto, depois de falar dos outros dois tigres, pois o crescimento do PIB é o primeiro. Supondo que o PIB brasileiro cresça 0,8% e o PIB gaúcho cresça 1% negativos, o PIB gaúcho cresce menos, claro, pois decresce. Má manchete. Mau jornal. Má visão de mundo: quem desconhece conceitos pouco poderá falar sobre eles.

Segundo tigre: uma pilha deles, são os Tigres Asiáticos, com crescimento do PIB mirabolante, aos quais pudemos acrescentar -não sem certa preocupação- a economia chinesa. La Chinoise, como veio no título do filme de Jean-Luc Ponty (ou era Jean-Michel Jarrê, como se pronuncia em Albardão?), ou nada disso? Apenas eu é que estaria misturando Paulette Goddard com Robert Goddard, les américains. Bebendo no "Pedrini", sugeri há anos que deveríamos designar a todos os dominados pelo crescimento chinês, os asiáticos, de Nova Ásia, o que incluiria a Índia. Ou seja, elogio da hegemonia americana. Quero ver se alta renda cria democracia na China, como fêz na Coréia. Quero ver se a North Korea vira gente. Em 20 ou 30 anos.

O terceiro tigre é o Mr. Mao Zedong, de maldosa e malfadada fama, politicamente correto (adotou o marxismo como religião para revolucionar a China) e politicamente corrupto e corruptor. Distante da alegria que tive, digamos que em 1962, ao constatar que, além do gigante soviético, também havia entre as potências do futuro, a República Popular da China. Daí, foi um passo para ler "A Longa Marcha", livro de Simone de Beauvoir. Só lembro que, para construir o comunismo, eles pensavam em alcançar a fonetização do mandarim. Hoje, está na cara que o comunismo -se vier a ser alcançado na linha stalinista-maoísta- dever-se-á ao desenvolvimento do capitalismo de estado, tão a gosto dos desenvolvimentistas de todos os portes.

Pois bem, o primeiro tigre é o Mr. Paulo Tigre -Paulo Bastos Tigre, se me não falham Machado e a memória-, presidente da FIERGS, a combativa federação das associações industriais do RGS, ou seja, o RS, ou melhor, o Rio Grande do Sul, combalido e combativo estado. Conformamo-nos com a sina de crescer para baixo menos do que o Brasil. Conformamo-nos com façanhas que nos mantêm com uma renda per capita oito vezes menor do que a dos americanos do norte. Conformamo-nos com uma produtividade de fazer rir aos estudantes de engenharia de nível de jardim da infância na Coréia e Japão. Conformamo-nos em não dar pelota para o modelo chinês, que -com todas suas perversidades- acabou com a fome e vem acabando com as misérias. However, tem 8.000 assassinatos estatais por ano, só ganhando do Irã, um primor de democracia em que a mulher tem o direito de não poder estudar Direito.

Nunca fui capaz de encontrar uma publicação que descreva a metodologia usada pela FIERGS para calcular o valor ex post de algo que ainda não encerrou seu período contábil. Ou melhor, esta frase manifesta minha má vontade, pois tá na cara que estes 1% projetados de crescimento negativo ("rabo de cavalo", remember?) são projetados. Mas não sei como eles fazem para confiar nas projeções. Usam as estimativas do IPEA? As da FEE?

Este negócio de crescer como rabo de cavalo, ou seja, a manchete de Zero Hora e o fenômeno dos -1% gaúchos, para mim, tem tudo a ver com o mote de minha postagem de hoje. Encontrei-o no parágrafo final da notícia que nos une. Vejamo-lo na p.24:


Para Tigre, a reação só virá com a manutenção do equilíbrio fiscal, permitindo ao Estado investir em infraestrutura para melhorar a competitividade das empresas gaúchas. O dirigente prega ainda a necessidade de aproveitar as oportunidades que surgem com o que chama de nova economia, setores em florescimento no Rio Grande do Sul, como o polo naval, lácteos, etanol e microeletrônica.


Buscando inspiração no Jumento da peça "Os Saltimbancos", só posso dizer: "Aí, eu parei." Dedicar-me-ei agora -já que sei fazer mesóclises- a analisar o que disse Tigre. Vejamo-la.

Primeiro, que a reação só virá com o equilíbrio fiscal. Reação a quê? À derrota inflingida pelo Governo Lula que fez o Brasil (o PIB do Brasil, né?) crescer 0,8%, por contraste ao decréscimo de 1% projetado para o Governo Yeda Rorato Crusius? Ou à derrota que nos inflinge diariamente o observador irresponsável que pensa que precisamos pensar no eclipse a que nos submete o México e, principalmente, na renda per capita mais alta do mundo, apenas oito vezes maiores do que a nossa/brasileiros/goianos/gaúchos? Uma vez que o denominador do cálculo da produtividade é o trabalhador, claro que podemos incriminá-lo por não elevar o numerador a números compatíveis com sua existência física. Houvesse mais PIB, não precisaríamos deste "recalque" contra os "fornidos irmãos do norte", de endemia de obesidade, comme nous. Houvesse menos trabalhadores, a produtividade -ceteris paribus- subiria. Mas não queremos alta produtividade, penso eu, baseado nos estudos de contabilidade social que fiz, ao invés de ler o Cabrera-Infante, nos últimos 40 anos (ou seja, praticamente desde que fugi da escola, aquela fraude chamada de "ensino superior" que me diplomou em 1972). O que queremos é alta renda, o homem odeia trabalho, ama lazer. Trabalha só a relho. Com lazer, veleja com "lasers", trocadilho reverenciando Lourdette, sumida da página3 de ZH.

Segundo. Agora é que vem o chumbo grosso da artilharia farrapa! Voltamos à zurrapa. Voltamos a ver a ignorância dos responsáveis pela formação de Paulo Tigre. Ele foi doutrinado a pensar que equilíbrio fiscal é bom. Eu -que fui doutrinado ao contrário- consegui romper com este lixo. Ou seja, estou com o Paulo: equilíbrio fiscal é bom, especialmente na terra que não tem orçamento universal, na terra em que todo político é ladrão, na terra em que somos pigmeus da produtividade, por culpa da classe trabalhadora, que eleva um denominador que força uma fração (o PIB lá em cima) a cair!

Mas aí entra o fosso -diria Lourdette- que me mantém distanciado dos tigres, milhares deles, inclusive os maoístas, de papel, e tudo o mais. Quero botar tudo a baixo! Quero que um indivíduo que pensa que o dever do estado (gaúcho, hegeliano, sei lá) é "investir em infraestrutura para melhorar a competitividade das empresas gaúchas" seja declarado empresário. Ou seja, que ele seja declarado um incompetente, a julgar pelos padrões internacionais, que arrancam oito vezes mais produto por unidade de trabalhador.

Este segundo ponto de análise da mesóclise -ou o que seja- deve fazer-nos pensar. Aprendi com Sérgio Jockyman, quando a direção do Sport Club Internacional requeria que torcida levasse alegria ao time, que o time é que deve levar alegria à torcida. Aprendi, desde que fugi da escola, que toda aquela xurumela (gauchês não aurelianizável?) de bens públicos e semi-públicos, problemas de coordenação na ação dos agentes, e por aí vai, que o diabo do denominador do conceito hegeliano de produtividade só poderá elevar-se mesmo será com incorporação de capital humano, isto é, basically, educação. Tigre entenderá "infra-estrutura" como educação, segurança pública, esses bens semipúblicos, públicos, e por aí vai?

DdAB

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