28 setembro, 2009

Estatística e Probabilidade

Querido Blog:
Se todos fôssemos obrigados a plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, a vida seria insuportável. E quem nos obrigaria? Um candidato forte seria o "autoritarismo estatal", que me levou a esta cândida foto de plantação de árvores. Enquanto nossa população não for deslocada para naves espaciais, deixando o planeta viver sua trajetória natural sem a espécie humana, precisamos de árvores, de micos-pretos e tudo o mais, tratando de protegê-los. O que não está óbvio é que o estado pode fazê-lo com exação. Talvez até possa consertar os problemas de escolha coletiva que destroem, por exemplo, o meio-ambiente.

Tu sabe de onde veio o substantivo "estatística", tchó? O Prof. Webster (em papel) associa esta palavra a statisticus, statista, status, tudo cheirando a latim. O CD de outra edição do Webster diz:

2. (used with a pl. v.) the data themselves. [1780-90; orig., a branch of political science dealing with the collection of data relevant to a state <>

Ou seja, viajamos do latim ao grego. E torna-se claro que estamos falando dados relevantes ao estado, este monstrinho que ainda há de querer que plantemos árvores, escrevamos livros e tenhamos filhos...

E a primeira acepção tem:

1. (used with a sing. v.) the science that deals with the collection, analysis, and interpretation of numerical data, often using probability theory.

No meu Dicionário Etimológico Nova Fronteira (de Antônio Geraldo da Cunha), temos, para estatística, a entrada na língua portuguesa em 1815, originário do francês e, antes dele, do alemão, como statistik. Este era o folclore que eu conhecia, talvez de ouvir em alguma dessas aulas a que me submeti durante anos e anos sem conta... Nesta linha de desenvolvimento lógico das idéias esfigmonanométricas, peguei este mesmo "Nova Fronteira" e vi "probabilidade" adentrou a língua de Dom Pedro I em 1813 (e "probabilismo", em 1795).

E como será que se escreve "probabilidade" em alemão? Pois diz Robert Skidelsky, na p.178 do v.1 da biografia de John Maynard Keynes que este reclamou: "I wish the German word for Probability hadn't 27 letters", e dá-nos -Skidelsky- o original em alemão:
Wahrscheinlichkeitsrechnung,
significando "cálculo de probabilidade". (Com alta probabilidade de que ele ou eu tenhamos cometido algum erro de ortografia...)

Por outro lado, tu sabe que eu recebi um bilhetinho dizendo que o senador Paulo Paim fugiu mesmo foi do livro de Jorge Vianna Monteiro, intitulado "Como funciona o governo; escolhas públicas na democracia representativa". Une vraie horreur, teria dito o combativo sindicalista. E exemplificou com -para mim- a seguinte e inarredável evidência de clareza elevada na potência menos um. Na p. 44, podemos ler (quem aguentar...): "[...] os partidos operam como superagentes no jogo de políticas [...]". Claro que um neguinho educado nas cartilhas que me empurraram na tenra infância iria indagar: que são partidos, que é operar etc., e que são superagentes. Pois meses depois de ter escrito esta frase, diz Monteiro: "[...] intermediação de outros agentes se sobrpondo à delegação original entre eleitor e político. Daí o termo superagente atribuído a essas instâncias decisórias adicionais." Se fosse apenas este deslize de intermediação entre o próprio texto e o próprio texto, o leitor ficaria, digamos assim, desconfiado de que não entendeu bem, e juraria que iria ler mais um pouco e voltar. Aliás foi o que fizemos e chegamos à conclusão de que a definição de superagente seria dada linhas depois. Ou seja, o Monteiro é brabo. Eu, que muito sofri lendo alguns dos livros anteriores dele, Monteiro, achei que era hora de meter a boca! Espero que o senador não queira que eu o indenize se ele seguiu meu conselho e comprou o citado livro da Fundação Getúlio Vargas (se bem lembro, uns R$ 45,00).

Em outras palavras, se me não foge o foco, parece que falta um bom livro de introdução à teoria da escolha pública na língua de Dom João VI, ou o que dela sobrou. Mas não seria muito construtivo, de minha parte, acabar esta postagem de "Escritos" com nota tão lúgubre sobre os desatinos da indústria editorial e gráfica pós-Juscelino. Neste caso, passo a comemorar os 15 anos de Carta Capital, revista com quem mantenho relação de tapas e beijos. Na parte dos beijos, vi -no exemplar desta quarta-feira depois de amanhã- o envelope com este "selo" comemorativo. E vibrei, pois acho que é melhor existir a Carta dos Carta do que nada. Neo-colonialista que sou, sentir-me-ia mais feliz se tivéssemos algo como a Dissent para falar de politica e cultura brasileiras. By the way, o deputado Antônio Delfim Netto faz a maior propaganda das conquistas do Governo Lula. Também apoio Lula, o homem que comprou o PMDB e fez o primeiro arremedo realmente de larga escala da renda básica universal. Em resumo, viva a imprensa independente, ou seja, nasça!
DdAB

p.s.: tu sabe que o texto abaixo é maravilhoso como introdutório à teoria da escolha pública?
http://pascal.iseg.utl.pt/~ppereira/docs/analsoc6.pdf.

outro p.s.: esqueci de dizer que devia também ter falado na frase "the quick brown fox jumps over the lazy dog". claro que ela tem mais de 27 letras, mas -ainda assim, mesmo com duplicações- contempla todas as 26 letras do alfabeto do inglês. no capítulo "Língua Portuguesa" de https://sites.google.com/site/19ganges47/vida-pessoal, você verá reflexões sobre a frase que já serviu para ilustrar o efeito das diferentes fontes sobre o visual do editor Word.

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