30 setembro, 2009

Os Burros e a Lei: pastando maria-vai-com-as-outras

Querido Blog:
Estas são "marias vai-com-as-outras". Escolhi-as para ilustrar o absurdo que voltou a ocorrer no Rio Grande do Sul, conforme a capa e as p.4 e 5 da you-know-who. O Sr. Oséas Cardoso, o Português, de 58 anos -apontado pela Polícia Federal como mentor intelectual de um roubinho de R$ 30 milhões do Banespa, ou seja, o banco de todos os larápios e integrante do Primeiro Comando da Capital-PCC- já andou sendo preso com "armas de guerra" e já fugiu duas vezes do "semiaberto" e acaba de fazê-lo novamente (ou esta é apenas sua segunda evasão?).

Ou seja, voltou a cair no regime semi-aberto e de lá voltou a derrancar-se ("dar o fora", no dizer de Noel Rosa). O doutor Luciano Losekann, juiz de execuções criminais disse: "O preso que cumpre parte da pena tem direito à progressão de regime. É o caso do Oséas." Intimidades à parte, não estou muito seguro do acerto da crase atribuída por Zero Hora ao magistrado: "à progressão", não seria apenas "direito a progressão", sem artigo definido? Mas a própria lei tem um desses casos de crase que parece mais atestado de incapacidade redacional do que propriamente questão de direito.

Seja como for, depois de ler que -diria Lourdette- Papagaio bateu asas diversas vezes de seu regime "semiaberto" e agora o Oséas fez o mesmo -foi no Adamastor para Portugal?-, entendi que poderia beneficiar-me de uma googlada no mundo, chegando a:
http://www.susepe.rs.gov.br/susepe/portal/arquivos/leis/lei_execucao_penal.html,
onde encontraremos a

LEI N.º 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.
Institui a Lei de Execução Penal.

E disque já revogaram e substituíram partes dela. Mas vejamos com o texto original. Os derivativos, claro, pode ser que tenham ampliado os direitos dos bandidos e, claro, dos juízes de direito, forçando-os a receberem R$ 27.000 mensais a partir de "em breve".
Eu nunca me sentira suficientemente motivado a investigar esses troços. Hoje, minha amada Zero Hora deu sua dica sobre como campear o site. É o que acima disponibilizo. Na condição de leigo dado às letras, deitei-me sobre elas e até suspeita de erro de colocação de crase alevantarei (in due time). Há divergência de opiniões. Por exemplo, o delegado de polícia Ranolfo Vieira Júnior acha que é preciso mudar a lei, ao passo que eu -myself- acho que precisamos é mudar o poder judiciário, pois não pode ser que o Luciano, mesmo ameaçado de passar a ganhar R$ 27.000 mensais, não tenha lido a referida lei. Já lá vão artigos selecionados da lei:

Art. 1º - A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

Art. 2º - A jurisdição penal dos juízes ou tribunais da justiça ordinária, em todo o território nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal.

Parágrafo único - Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária.

Art. 4º - O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança.

Art. 5º - Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.

Art. 6º - A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador e acompanhará a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões.

Art. 7º - A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa da liberdade. [Lá encima havia duas crases que não me doeram; mas esta parece-me perfeitamente errada, aquele troço do artigo definido definindo o que já está adequadamente definido com a pena privativa da liberdade; pena, se me não engano, é mesmo coisa privativa de papagaio.. .]

Parágrafo único - Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será integrada por fiscais do Serviço Social.

Art. 8º - O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.

Parágrafo único - Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.

Art. 9º - A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou informações do processo, poderá:

I - entrevistar pessoas;

II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito do condenado;

III - realizar outras diligências e exames necessários.

O Art. 45 diz em seu segundo parágrafo:

§ 2º - É vedado o emprego de cela escura.

Art. 50 - Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

II - fugir;

III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem;

IV - provocar acidente de trabalho;

V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 desta Lei.

Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

Art. 53 - Constituem sanções disciplinares:

I - advertência verbal;

II - repreensão;

III - suspensão ou restrição de direitos (art. 41, parágrafo único);

IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no art. 88 desta Lei.

Art. 58 - O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a 30 (trinta) dias.

Art. 66 - Compete ao juiz da execução:

III - decidir sobre:
b) progressão ou regressão nos regimes; [...].

E a lei segue altaneira por quilômetros e quilômetros, tendo-me tirado -como disse eu que diria Lourdette- fora da estrada... Se tiveres a paciência que -em certa medida não me faltou- e vires os artigos que selecionei também perceberás que deixei margem para a concessão horizontal (e abusiva) da liberalidade da lei. Claro que, quando eu disse acima, que o problema é com o entendimento dos juízes, em particular do doutor Luciano, não quis falar muito sério, pois claro que o delegado Ranolfo está coberto de razão. Refiro-me ao artigo 58, que tem uma redação que me nocauteia. Afinal, é obrigatório liberar o Papagaio e o Oséas ou apenas uma idiossincrasia do doutor Luciano e sua adesão a princípios de filosofia política, filosofia moral e filosofia das crases -digamos assim- inovadores.

E é claro que esta lei ainda estar em vigor -ela que clama por participação comunitária para o tratamento da questão criminal no Brasil- apenas comprova do descompasso absoluto entre o estado e a comunidade. No wonder haja milhões de brasileiros de porte intelectual de um Oséas, Osíris, Usuras etc., que anseiam pela pena de morte. Eu já disse: a cada 1.000 execuções em testes bicaudais será imolado um inocente. Mas -ao forçar-me a pensar sobre o roubo de madeira, digo, sobre a criminalidade e as doenças mentais que -most of the time- as acompanham, vim a entender que a prisão perpétua é um imperativo para a comunidade e não apenas para os psiquiatras que desejam impedir que uma fração da negadinha possa desfrutar de prisão per tutta la vita.
DdAB
p.s: tu sabe muito bem que troço é este de roubo de madeira, né? se bem sei, era uns troços que o Marx teve que escrever about na Nova Gazeta Renana.

28 setembro, 2009

Estatística e Probabilidade

Querido Blog:
Se todos fôssemos obrigados a plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, a vida seria insuportável. E quem nos obrigaria? Um candidato forte seria o "autoritarismo estatal", que me levou a esta cândida foto de plantação de árvores. Enquanto nossa população não for deslocada para naves espaciais, deixando o planeta viver sua trajetória natural sem a espécie humana, precisamos de árvores, de micos-pretos e tudo o mais, tratando de protegê-los. O que não está óbvio é que o estado pode fazê-lo com exação. Talvez até possa consertar os problemas de escolha coletiva que destroem, por exemplo, o meio-ambiente.

Tu sabe de onde veio o substantivo "estatística", tchó? O Prof. Webster (em papel) associa esta palavra a statisticus, statista, status, tudo cheirando a latim. O CD de outra edição do Webster diz:

2. (used with a pl. v.) the data themselves. [1780-90; orig., a branch of political science dealing with the collection of data relevant to a state <>

Ou seja, viajamos do latim ao grego. E torna-se claro que estamos falando dados relevantes ao estado, este monstrinho que ainda há de querer que plantemos árvores, escrevamos livros e tenhamos filhos...

E a primeira acepção tem:

1. (used with a sing. v.) the science that deals with the collection, analysis, and interpretation of numerical data, often using probability theory.

No meu Dicionário Etimológico Nova Fronteira (de Antônio Geraldo da Cunha), temos, para estatística, a entrada na língua portuguesa em 1815, originário do francês e, antes dele, do alemão, como statistik. Este era o folclore que eu conhecia, talvez de ouvir em alguma dessas aulas a que me submeti durante anos e anos sem conta... Nesta linha de desenvolvimento lógico das idéias esfigmonanométricas, peguei este mesmo "Nova Fronteira" e vi "probabilidade" adentrou a língua de Dom Pedro I em 1813 (e "probabilismo", em 1795).

E como será que se escreve "probabilidade" em alemão? Pois diz Robert Skidelsky, na p.178 do v.1 da biografia de John Maynard Keynes que este reclamou: "I wish the German word for Probability hadn't 27 letters", e dá-nos -Skidelsky- o original em alemão:
Wahrscheinlichkeitsrechnung,
significando "cálculo de probabilidade". (Com alta probabilidade de que ele ou eu tenhamos cometido algum erro de ortografia...)

Por outro lado, tu sabe que eu recebi um bilhetinho dizendo que o senador Paulo Paim fugiu mesmo foi do livro de Jorge Vianna Monteiro, intitulado "Como funciona o governo; escolhas públicas na democracia representativa". Une vraie horreur, teria dito o combativo sindicalista. E exemplificou com -para mim- a seguinte e inarredável evidência de clareza elevada na potência menos um. Na p. 44, podemos ler (quem aguentar...): "[...] os partidos operam como superagentes no jogo de políticas [...]". Claro que um neguinho educado nas cartilhas que me empurraram na tenra infância iria indagar: que são partidos, que é operar etc., e que são superagentes. Pois meses depois de ter escrito esta frase, diz Monteiro: "[...] intermediação de outros agentes se sobrpondo à delegação original entre eleitor e político. Daí o termo superagente atribuído a essas instâncias decisórias adicionais." Se fosse apenas este deslize de intermediação entre o próprio texto e o próprio texto, o leitor ficaria, digamos assim, desconfiado de que não entendeu bem, e juraria que iria ler mais um pouco e voltar. Aliás foi o que fizemos e chegamos à conclusão de que a definição de superagente seria dada linhas depois. Ou seja, o Monteiro é brabo. Eu, que muito sofri lendo alguns dos livros anteriores dele, Monteiro, achei que era hora de meter a boca! Espero que o senador não queira que eu o indenize se ele seguiu meu conselho e comprou o citado livro da Fundação Getúlio Vargas (se bem lembro, uns R$ 45,00).

Em outras palavras, se me não foge o foco, parece que falta um bom livro de introdução à teoria da escolha pública na língua de Dom João VI, ou o que dela sobrou. Mas não seria muito construtivo, de minha parte, acabar esta postagem de "Escritos" com nota tão lúgubre sobre os desatinos da indústria editorial e gráfica pós-Juscelino. Neste caso, passo a comemorar os 15 anos de Carta Capital, revista com quem mantenho relação de tapas e beijos. Na parte dos beijos, vi -no exemplar desta quarta-feira depois de amanhã- o envelope com este "selo" comemorativo. E vibrei, pois acho que é melhor existir a Carta dos Carta do que nada. Neo-colonialista que sou, sentir-me-ia mais feliz se tivéssemos algo como a Dissent para falar de politica e cultura brasileiras. By the way, o deputado Antônio Delfim Netto faz a maior propaganda das conquistas do Governo Lula. Também apoio Lula, o homem que comprou o PMDB e fez o primeiro arremedo realmente de larga escala da renda básica universal. Em resumo, viva a imprensa independente, ou seja, nasça!
DdAB

p.s.: tu sabe que o texto abaixo é maravilhoso como introdutório à teoria da escolha pública?
http://pascal.iseg.utl.pt/~ppereira/docs/analsoc6.pdf.

outro p.s.: esqueci de dizer que devia também ter falado na frase "the quick brown fox jumps over the lazy dog". claro que ela tem mais de 27 letras, mas -ainda assim, mesmo com duplicações- contempla todas as 26 letras do alfabeto do inglês. no capítulo "Língua Portuguesa" de https://sites.google.com/site/19ganges47/vida-pessoal, você verá reflexões sobre a frase que já serviu para ilustrar o efeito das diferentes fontes sobre o visual do editor Word.

27 setembro, 2009

Todo Monstro Tem seu Lado Político

Querido Blog:
Nem todo monstro é tão feio quanto os que predam a política brasileira na atual quadratura dos nove (ou 11?) planetas. No caso dos monstros acima, a agência de propaganda que cuida de sua imagem fê-los (parece que este "fê-los" agora veio de minhas recentes leituras de Érico Veríssimo que -em 1935- não era arcaico). A divulgação dos políticos sul-riograndenses contemporâneos é que não lhes livra as fuças tão desfaçatadamente, como podemos constatar a partir de trechos isolados que retirei as p.13 e 16 de Zero Hora do domingo cinzento:

.a. na p.13: "Apesar de lacunas, a Assembléia Legislativa gaúcha ainda é uma das mais transparentes do país". Lembrei-me de imediato do velho escândalo dos selos, com farta dose de dinheiro roubado. E agora, que dizem que os deputados ganham diárias para visitarem os municípios em que residem. E um deputado declarou: "Estou indignado." Só que não era com a fraude, mas com o fato de que o obrigam a viajar 300km para ouvir seus eleitores. A indignação, presumo, é com o sistema de voto-peneira. Defenderá ele o voto distrital?

.b. na p.16, vem o senador Paulo Paim, que teria fugido da escola e gazeteado as principais aulas do curso de teoria da escolha pública ministrado pela Editora GangeS. Como sabemos, ele pensa que
.b.1. aposentado ganha salário mínimo (e seus múltiplos e submúltiplos), ou seja, ele pensa que a matriz de contabilidade social é focinho de porco, ou seja, tomada elétrica
.b.2. salário mínimo é a medida invariável de valor tanto procurada pelos economistas clássicos. Neste caso, li-o: "A história mostra com clareza que a Previdência Social sempre foi alvo de desmonte por parte de governos, à custa dos direitos, das conqui9stas e do suor de todos os trabalhadores." Naturalmente, pensei num modelo dinâmico em que -tal qual Prometeu acorrentado- vai lá um abutre e extrai-lhe o fígado. Não fosse uma monstruosa maldição, o fígado não cresceria novamente e o abutre não mais o predaria. No caso do INPS, não sabemos como foi esse troço de desmonte, pois -aparentemente- também há desmontes sucessivos. Qual o mecanismo mostruoso que o faz renascer?
DdAB

26 setembro, 2009

Equilíbrio no Modelo Aberto

Querido Blog:
Nem sempre o Google Images está para brincadeiras. Hoje, por exemplo, solicitei-lhe imagens com "equilíbrio" e "modelo aberto" e ele deu-me este lindo par de scarpins. Eu queria algo mais técnico, pois tenho em mente a moldura geral do modelo de Leontief:
x = Bf
onde x é o vetor da produção de n setores, B é a inversa de Leontief e f é o vetor da demanda final dos n setores.

No ambiente ainda mais amplo da matriz de contabilidade social, tenho dito (eu e milhares de outros) que, quando conhecemos as matrizes A (cujo inverso do complementar à unidade é B) e uma certa matriz D (equivalente de B, registrando requisitos diretos e indiretos de transações interinstuticionais), então cada vetor f gera um nível de equilíbrio geral no sistema. Ao mesmo tempo, se elevamos as transferências interinstitucionais, por exemplo, por meio do pagamento da renda básica universal, poderemos aumentar um ou mais elementos do vetor f e, como tal, teremos um nível de equilíbrio da renda maior do que o inicial.

Quem determina quanto é adequado? Claro que o nível do produto potencial da economia. Não pode forçar a barra em uma economia que se encontra em pleno emprego. Mas -se não há pleno emprego- então pode-se dar uma forçadinha de barra, o que fará as engrenagens econômicas se movimentar, elevando a renda de equilíbrio.

Claro que estamos falando no modelo aberto, como o dos scarpins. O importante é que, com esta modelagem, estamos livres para associar diferentes níveis de renda básica universal com diferentes níveis de demanda final f e de PIB total de equilíbrio. Imagina que fixamos a renda básica universal em R$ 1,00. Isto significará R$ 80 milhões de reais anuais para a população. Claro que isto não afetará equilíbrio nenhum, a economia mantendo -digamos- sua trajetória natural de crescimento, como se nada tivesse acontecido. Mas, se assim procedermos, ou seja, se deixarmos nossa imaginação chegar até este ponto, então poderemos mudar esses R$ 1,00 para, digamos R$ 10 ou R$ 100 ou R$ 1.000 ou R$ 3.141,6 etc.. A renda básica de R$ 100 mensais para 80 milhões de brasileiros em idade economicamente ativa representa:
R$ 100 x 12 x 80.000.000 = R$ 96 bilhões
anualmente. Uma pechincha, pois mal chegam a 4% do PIB.

Se a capacidade instalada não está amplamente utilizada, e se o presidente do banco central for cauteloso, isto pode representar simples aumento do PIB. Se um político (ergo, ladrão) quiser imediatamente jogar a renda básica universal em R$ 1.000, provavelmente a economia vai esbarrar em limitações físicas para a absorção da nova demanda. Ou seja, haverá inflação.

Seja como for, temos duas vitórias neste início de tarde de sábado:
.a. o conceito de equilíbrio permite pensarmos no que acontece ao sistema se o levarmos a evadir-se de sua zona de conforto
.b. haverá um número adequado para o montante da renda básica que poderá contribuir para a elevação do PIB.
DdAB

25 setembro, 2009

Anti-Futebol no Direito

Querido Blog:
Ontem referi que havia montes de tópicos interessantes ("baixo astral") a comentar. Decidira, durante o dia, afastar a preguiça e fazer uma análise word-by-word to artigo da p.23, cujo título é "O (des)necessário ato de punir", de autoria de Antonio Marcelo Pacheco, professor de direito constitucional. Na medida em que me declaro professor de economia política, também poderia ter-me declaro professor de economia constitucional, ou -o que é a mesma coisa- teoria da escolha pública. Invocando esta condição é que eu iria confrontar o insight que me capturou com a profunda crença na profissão da verdade verídica que tanto o autor citado como myself -aparentemente- acalentamos. Estávamos frente ao caso do aluno que pichou sei-lá-o-quê numa parede da escola e a professora mandou-o restabelecer o status quo ante.

Então já começa: o diabo do ato de punir é necessário, desnecessário ou (des)necessário, categoria gramatical que não encontrei no Aurelião. Lapidar parece-me a frase do articulista: "Em nome da mesma cidadania que a professora buscou defender, ela acabou por agredir a cidadania do outro." A única referência que posso fazer a isto é que acabo de agredir a cidadania deste teclado de computador ao digitar o acento agudo sobre a letra "u" de "única", a segunda é que devo estar agredindo a cidadania da outra, lá a professora, a cidadania do outro, o aluno, o outro, o articulista o outro (myself) e todos os demais outros.

Não sei se o direito constitucional contempla altaneiro -como o faço- a frase de Bertrand Russel que volta e meia inspira minhas reflexões e genuflexões: "Todo ser vivo é uma espécie de imperialista, procurando apropriar-se da maior parte possível do meio-ambiente." Para lidar com este "clube de baixarias" implantado debaixo do Sol, surgiram o direito constuticional, a economia constitucional, a sociologia constitucional, a gravura em metal constitucional, a borracharia de pneus de caminhões constitucional o giz constitucional, o quadro negro constitucional, e por aí vai. Isto não deve impedir-nos de ver que
.a. não pode escrever nas paredes do colégio (exceto as do banheiro?)
.b. quem escreve nas paredes do colégio infringiu uma proibição comunitária não tão séria quanto a do tabu do incesto, mas ainda assim preocupante.
Achei que o Prof. Pacheco estava era meio um tanto quanto sem assunto.

Não contente com isto, a mesma p.23 da mesma Zero Hora, só que de hoje, tem o artigo "A desconstrução moral do Rio Grande", de Vanderlei Deolindo, vice-presidente da Ajuris. Se bem julgo, Deolindo é advogado e a Ajuris é a associação dos juízes locais. Pensei: ainda bem que Quércia, Inocêncio, Prisco, Jader não são gaúchos, logo este troço de desconstrução moral do Rio Grande não é tão velho assim. Claro que aí lembrei-me do Dr. João Luiz Vargas, que acaba de reninciar à presidência do tribunal de contas, pois suspeitam que ele andou levando bijuja de tudo o que é lado. Então seria Vargas, não o velho Vargas, a desconstruir moralmente o Rio Grande. Mas não é apenas ele, pois cinco páginas antes de Deolindo, diz ZH que o Sr. Eliseo Padilha, deputado de quem suspeitou-se este troço de "desconstrução moral", tanto é que o STF (supremo tribunal federal) determinou que Padilha seja ouvido, mas o deputado diz nada falou porque ainda não fora convidado a fazê-lo.

Determinação ou convite? Does it matter? Tanto é assim que a Sra. Maria Dolores Fraga, mulher de Chico Fraga (também envolvidíssimo na desconstrução moral que se abateu sobre a Ulbra), foi acusada de desempenhar atividades "no escritório político de Padilha no estado." Segundo o MPF [Ministério Público Federal], ela era funcionária fantasma do gabinete do deputado", condição que lhe permitia receber R$ 55.000 anuais dos cofres públicos. O Deputado Eliseo disse: "A Maria Dolores nunca foi servidora fantasma. Ela trabalhava na minha base eleitoral, mais especificamente em Canoas." Canoas, a terra dos escândalos da Ulbra, do poder do Secretário Chico Fraga, marido d'"a Maria Dolores". Canoas, futurista município próximo ao não menos Sapucaia ou Sapiranga, nunca lembro, em que as merendas das criancinhas foram roubadas por um pessoal acusado de ser amigo de Chico e Padilha.

Também lembrei que os juízes vão ganhar R$ 27.000 por mês, quase o dobro do que a Sra. Fraga recebeu para representar o Deputado Padilha em Canoas. Fosse o voto distrital, ele representaria Canoas ou o Litoral do estado, nunca ambos os dois. Uma vez eu ia pedir para o General Castelo Branco nomear-me seu representante no Bairro Azenha (que eu ia lá mesmo para estudar no "Julinho") e me dissuadiram. Disseram que o afamado marechal não era de brincadeiras, tanto é que -ao ser promovido- assumiu a presidência da república em, se não me engano, 1964.

Esses R$ 27.000 e os atrasados de que fala o cronista da desconstrução -um dinheirinho concernente à reconversão da moeda nacional de cruzeiro real para urv ou de urv para real ou o que seja, em 1994, deveria ser pago à vista a alguém que não fica bem claro quem no artigo, mas que são os juízes. Pois "O Rio Grande do Sul pode continuar se orgulhando de seus valores e de seu Judiciário, sempre altivo para dizer o direito para todos e contra quem quer que seja, realizando justiça em favor da sociedade." Not to speak daquele pronome átono solto naquele ambiente milionário.

Três páginas antes do primeiro artigo de que falei, ou seja, à p.20 do noticioso jornal, vemos que o Deputado José Otávio Germano, filho do Deputado Otávio Germano, representante do Rio Grande do Sul na cidade de Cachoeira do Sul, se houvesse voto distrital, que -como sabemos- não há nem haverá. José Otávio Germano foi presidente do Grêmio Foot-ball Portoalegrense, um clube do Bairro Azenha que me acolheu como sócio durante um período conturbado (como todos os demais) de minha vida pré-adulta. José Otávio foi presidente do Grêmio, havendo alguma relação com o número 70 ou 71, casualmente a mesma quantia monetária (em reais pós URV de 1994), a preços de 2007 ou 2008, quando ouviram-se gravações sobre os afamados escândalos que ajudaram a desconstruir a imagem das montanhas de coisas riograndenses.

Pois bem: neste instante ouço novamente o seguinte site:
http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=76750&channel=232&forceWmEmbed=true
É avassalador. O deputado foi investigado ilegalmente por três anos - alega na gravação. E seu advogado, diz a p.20 de ZH, acha que a juíza de Santa Maria que julga as roubalheiras do Detran não julgaria imparcialmente a questão. Ele, deputado, não quer que se fale no assunto até ser julgado. A suspeita do advogado sobre a suspeição da juíza atrasarão o julgamento. O jornalista disse: "O senhor será absolvido, deputado; o senhor será reeleito". O jornal tinha na manchete: "Recurso de José Otávio trava ação".

O deputado José Otávio Germano beneficiar-se-ia de um curso de economia constitucional que ontem ofereci. E o carinha que largou aquele pronome átono solto no meio de uma mega-locução verbal, de um de colocação de pronomes. E eu, de um de calar a boca.
DdAB

24 setembro, 2009

Voto Distrital e o Véu de Ignorância

Querido Blog:
Esta ilustração de hoje retirei-a (e editei-a) de: Blog do Grupo de Análise de Conjuntura Política do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da UFPR, Brasil. Artigos, entrevistas, pesquisas e informações sobre a conjuntura política nacional e estadual. Endereço:
http://gac-nusp-conjuntura.blogspot.com/2007/06/opinio-voto-distrital-e-lista-fechada.html.

Fi-lo (filo, sô? fia-te!) porque hoje vi tanta notícia "baixo astral" no jornal Zero Hora que nem posso brincar com o afetivo apelido que lhe desferi. Algumas delas nem precisam ser faladas, que já o fiz amplamente, por exemplo, os ministros do tribunal de justiça (que devia ser fechado) vão ganhar um aumento que cachoeirará sobre deputados federais, deputados estaduais (que deveriam ter sua câmara fechada), e por aí vai. nem duvido que ainda venhamos a beneficiar-nos todos desse esbanjamento, que também tenho algumas de minhas patas fincadas num keynesianismo meio vulgar. Mas então, por que fi-lo?

Eu o fiz, recupero-me, porque na p.16 não são bem novidades o que vejo, mas uma oportunidade de ganhar dinheiro também de modo desonesto. Pensei que poderia dar aulas particulares de teoria da escolha pública para os novos integrantes dos partidos políticos do Brasil, que precisariam filiar-se precisamente para concorrer a cargos que acenam com aposentadorias já nas próximas eleições. Claro que, em se elegendo, eles poderiam contratar-me para consultorias e aí sim eu ficaria rico. Vejamos:
Romário: ingressou no PSB
Edmundo: PP
Popó: PRB
Danrlei: PTB
Gaúcho da Fronteira: PTB
Sérgio Reis (cantor de "Panela Velha"): PR
Parece que nem todos destes listados já entraram, mas podem fazê-lo. E também podem fazê-lo, cogita o jornal, first, Clemer, goleiro campeão do mundo, prosélito do PDT e Fernando Carvalho, dirigente do Inter também por este edificante partido.

O que eu gavo, como um menino de rua de Jaguari costumava expressar-se, é a cara de pau dos dirigentes partidários que convidam qualquer um. Ou seja, obviamente, Romário, Edmundo, Popó, Danrlei, Gaúcho, Sérgio, Clemer e Fernando não são qualquer um. Eles são muitos, são celebridades, terão lá sua componente de altruísmo muito maior do que o político médio hoje atuante no indigitado país. Mas ainda assim: tu acha que -digamos- o Edmundo se elegeria no distrito lá dele? Cara, prá essa macacada dirigente só mesmo o voto distrital. Primeiro, voto voluntário, segundo, distrital, terceiro, parlamentarismo, quarto, compromisso umbilical com o orçamento universal. E por aí vai.
DdAB

23 setembro, 2009

Véu de Ignorância e o MAL*

Querido Blog:
se congestinamento de trânsito em foto colorida é brabo, então só imagina o preto-e-branco. dito isto, posso indagar-te: se tiveres certeza absoluta de que, ao escolheres meter o teu carro no trajeto A, ficarás retido num congestionamento por 25min, então considerarias a hipótese de seguir pela trajetória B? nota bene: não perguntei se irias, pois para responderes, precisas de algumas outras informações que não estou passando. o de que perguntei (diria a Dep. Stela Farias) é se considerarias. língua portuguesa, alguns não a dominam plenamente, eu dando-me nota 95,25 sobre o coeficiente de domínio, que varia entre zero e 100. ou seja, há um coeficiente de ignorância de 5,25% (se minha matemática não falha, como terá falhado a do Sr. Lair). se falássemos em véu de ignorância, estaríamos voltando a pular no colo, ou melhor, no livro de John Rawls, editado pela Universidade de Brasília há longa data.

ou seja, se houver um véu de ignorância encobrindo meu processo decisório, adotarei medidas de que posso arrepender-me. ou não. o fato é que -já que não posso evitar- envolvo-me por esse desagradável véu mesmo sem saber o desfecho a que serei levado.

[acabo de receber um telefonema da Desentupidora Dinâmica, que parece não ter um coeficiente de língua portuguesa muito mais elevado do que o meu. por estas e por outras é que vejo com desconfiança os modelos econômicos cujo adjetivo mais interessante é serem "dinamicos". e Cornelius Castoriadis lembrou que a dinâmica é um capítulo da mecânica, ao passo que nós, os sabidinhos, trabalhamos com modelos dialético-interativos. epa!, alonguei-me.]

dizia eu que o véu de ignorância rawlsiano sugere que estudemos a sociedade futura em que iremos situar-nos, pensemos que nela poderemos usar qualquer posição, de rico ou de pobre, e -mesmo não sabendo se nos caberá ser rico ou pobre- decidimos votar por ela. Serra ou Dilma? Tercius? Marina? Mariana? Ana Tércia?

dito isto, preciso começar a concluir (se fosse apenas "concluir", estaríamos na estática ou na dinâmica; como falei em começar a concluir, o que equivale a concluir o começo, ou vice-versa, estaria na dialética-escalafobética, não era isto?) associando a este assunto racionalizações adicionais sobre a ata de fundação do MAL*, como sabemos o Movimento pela Anistia aos Ladroes Qualificados. não é qualquer ladrão que, desejamos, seja anistiado. só rico, pois pobre roubando é cadeia e rico roubando é Disneyworld. antes eu dissera, inspirado no dilema dos prisioneiros e sua solução interativa empalmada pela estratégia Tit-for-Tat, que podemos dilatar o horizonte de planejamento do decisor, o que fará com que a sombra do futuro não o apoquente tanto. ou seja, se daqui a 50 anos requerermos honestidade do político, é possível que amanhã ele vote em nossa proposta.

além deiste tipo de argumento, a idéia do véu de ignorânica rawlsiano aponta no mesmo sentido: se fizermos um projeto interessante o suficiente e mostrarmos que todos vão melhorar, ainda que alguns melhorem mais do que outros (ótimo de Pareto), num modelo sem inveja, com racionalidade instrumental, não há dúvida de que o MAL* marcará seu tento. ou seja, at last, teremos honestidade dentro de meio século. não está mal (sem trocadilho), pois eu -em 62 anos de jubilosa existência- poderia ter recebido daquela macacada que reuniu-se em assembléia e redigiu a constituição da república dos Estados Unidos do Brasil -era 1946?-, já mudou tantas vezes- poderia ter-me criado um futuro luzidio, isto é, sem sombras, seu véus, sem requebros, sem getúlios nem castelos, sem mortes por causas matadas ou morridas, sem Petrobrás e sem tribunal de contas. ou seja, mesmo egoístas racionais que jogam Tit-for-Tat topariam a sagração do MAL*. como lembramos, o carinha que rege-se por Tit-for-Tat sabe perdoar, não é invejoso, é cooperativo, e por aí vai.

o pobrema é que Tit-for-Tat não é evolucionariamente estável, ou seja, se tivéssemos feito um partido como o PT e este fosse invadido por caroneiros desonestos, ele -PT- estaria liquidado ele -Vavá, Pelé, Didi, Zagalo ou Garrincha estariam milionários. a sarvação é que a estratégia (Bowles) denominada de "Reciprocidade Forte" diria que, aliados aos egoístas racionais que jogam Tit-for-Tat, haverá outros votantes no MAL* investidos de puro altruismo, uns 40%, como argumentei nos tempos em que este blog era pago ao UOL.
DdAB

22 setembro, 2009

Sociedade Justa e Good Society

Querido Blog:
Se entendi sutilezas, ao procurar simplesmente "good society" no Google Images, isto é uma marca de jeans. Por outro lado, é o título do livro de John Kenneth Galbraith que estou lendo -every once in a while- desde 6 de agosto. No outro dia, fiquei furioso, porque li no começo do capítulo da p.67: "A sociedade justa não almeja a igualdade na distribuição da renda." Pensei que aquela dupla que vivo citando (John Rawls e David Harvey) estar-me-ia enganando... Em particular, entendo que o seguinte poema resolve todas as questões:

a sociedade igualitária,
usando ou não avental,
e buscando o nivelamento
dos níveis de consumo per capita
de tudo quanto é jumento
é o canal.
ou seja, sem nivelamento tal,
não haverá paz social,
nem por um momento.
ergo a necessidade vital
da solução rápida.

Por que não termino logo de ler o Galbraith para ver se há algo de mais interessante? Não posso, pois sou muito dispersivo. Se o fizesse, deixaria de ser dispersivo, o que criaria problema para os milhares de tema de que me ocupo atualmente. Não tenho tempo para nada, vivo cansado e inconsolável, pois aposentados não têm direito a férias!

Seja como for, acabo de ler o Boletim da APUFSC de que falei ontem, estupefato. Hoje li um artigo de uma coroa (p.3) totalmente antagônico a meu ódio à Andes, onde achei uma pérola interessante:

[...] condensação do tempo único que habita, segundo Santo Agostinho, no mais íntimo do espírito humano: o presente do passado, que é memória; o presente do presente que é visão atenta; o presente do futuro, que é expectativa, esperança.
Considerando que estou lendo também Marx, Engels etc., Keynes, Skidelsky etc., além de milhares de outros ensaios, romances, biografias, histórias da arte, manuais de etiqueta e livros de culinária indiana, pensei que esse troço de Keynes ter inventado as expectativas não estava tão bem contado assim... Seja como for, isto rima com o ódio que o keynesiano Galbraith instilou contra seu intelectual daddy:

É esse [basicamente, a crença na possibilidade de mudarmos o mundo, que tá na frase anterior da p.159] otimismo que sustenta o trabalho árduo do pensamento e da autoria; assim se demonstra o derradeiro poder das idéias que John Maynard Keynes, em seu enunciado mais famoso, afirmou que governavam um mundo governado por poucas outras coisas.

Aí surgiu a primeira tríade de que quero falar, voltando a Galbraith, uma vez que sou dispersivo, mas não sou muito burro. Se é verdade que Marx enrolou-se no conceito de trabalho produtivo e improdutivo e endeuzou a produção (por contraste à alocação, ou seja, o funcionamento do mercado de fatores de produção, então somos forçados a vê-lo colocar o proletariado em primeiro lugar. Já escabreado com o comunismo soviético, Cornelius Castoriadis começou a identificar uma classe trabalhadora, muito mais ampla do que apenas o proletariado: neguinho que trabalha numa agência de propaganda não é proletário, mas é trabalhador. Por fim, volto a Galbraith. Para ele, a grande divisão contemporânea é feita entre pobres e ricos. Ele deu coro, avant la lettre (ou seja, antes da carta que lhe poderia -mas não o fiz- ter enviado) a minha legenda num paper que fiz sob encomenda da revista "Economia" da UFSC: precisamos substituir a luta entre classes pela luta entre instituições.

Acho isto importante e, desde que estudei inglês, comecei a ver que essa macacada fala mais em upper class e lower class do que productive worker e leisure class. Também entendo que a questão é distribuir a riqueza, sem precisamos indagar como ela foi produzida. Mas Galbraith até dá a resposta que citei ontem, de certa forma:
.a. nada inspira tanto o esforço socialmente útil quanto a perspectiva de recompensa financeira (p.5) e, seguindo-se à frase da p.67 que citei acima:
.b. A igualdade não é compatível quer com a natureza humana ou com o caráter e a motivação do sistema econômico moderno. Como todos sabem, as pessoas diferem radicalmente no empenho em ganhar dinheiro, bem como na competência em fazê-lo.

Claro que esse item .b. lá desse neguinho merece todo o scorn, com que ontem tratei a ministra Dilma. Vejamos:
.a. "natureza humana" é um blim-blim-blim que ainda não está adequadamente definido, logo o melhor é pensarmos que não existe such a thing; se o homem pertence à natureza, a natureza -o que quer que ela seja- humana também pertence à natureza; só que o homem, ao transformar a natureza, transforma sua própria natureza, ou seja, a natureza transforma-se, porque o homem que é parte dela transforma ela, logo transforma ele himself (e a mulherada também...);
.b. tirando este desastre desnecessário, a frase fica: "a igualdade não é compatível com a motivação do sistema econômico". este é o erro de Marx, de certa forma, no sentido de pensar que o sistema econômico é puramente mercado, luta de classes, oferta e procura de bens regulares, de mérito e de demérito. eu disse ontem ou anteontem que o mercado é o mais potente provedor de incentivos para levar a negadinha ao trabalho, mais potente -até- do que as vergastadas que a rapaziada do Dr. Inocêncio de Oliveira andou levando de seus feitores.
.c. uma vez que não sou infenso a contradições, permito-me afirmar: a natureza humana adora a equalização do consumo per capita (refraseamento da motivação dos conceitos de aversão à desigualdade e inveja);
.c. tem o outro veinho, Mino Carta que diria que até os paralelepípedos da Av. Paulista sabem que as pessoas diferem das criaturas humanas, uns querendo ganhar dinheiro, uns podendo fazê-lo e todos, todos, todinhos, sem uma única exceção (descontado o caso das crianças, criminosos e loucos, querem equalizar seu consumo com o dos mais beneficiados pelas regras distributivas vigentes. e -feito isto- querem ultrapassá-los.

Nestes casos, somos forçados a deslocar o foco de nossa atenção para a política, eis que estamos numa postagem de "economia política". Em outras palavras, como é que se resolve o problema de escolha coletiva suscitado por estas contradições. Claro que com uma síntese, que afirme e negue essas parcialidades por meio de uma categorização mais nobre, mais elevada (você notou que estou citando Carlos Roberto Cirne-Lima, não é mesmo?).

Galbraith não fala diretamente do binômio estado-comunidade como encaminhamento do problema de escolha coletiva assim surgido. Mas ele talvez esteja pensando nestes termos. Seja como for, ele diz apenas que o neo-liberalismo consagrado nas eleições americanas de 1994 (das quais -queixa-se- os conservadores venceram com votos de cerca de um quarto da população, por omissão dos pobres) tentou destruir ou transformar:
.a. o estado do bem-estar social (basicamente, o seguro desemprego; agora acrescento que é a renda básica, pois criança, criminoso, louco, velho etc., também têm direito à vida e à liberdade)
.b. o aparato regulador (do governo)
.c. o papel do governo.

Uma vez, em Barcelona (epa, detalhes pessoais no marcador "economia política"), dei-me conta de que o papel do governo é três (epa!):
.a. prover informação
.b. prover fiscalização
.c. prover bens públicos e bens meritórios.
Eu disse: "prover" e não necessariamente "produzir"; até acho que "produzir" me jogaria no colo -por assim dizer- da ministra Dilma.

Na verdade, nem quero dizer bem (naquele tempo eu não poderia dizer isto) que é papel do "governo". Pode ser papel da avó do Badanha, dos marcianinhos verdes e altruístas, sei lá de quem. O problema é como é que consenting adults iriam degustar as alternativas à ação governamental (cobrar impostos, por exemplo) e comunitárias (dar gelo em delator, por exemplo). Desde a débacle do PT, mas até antes, eu penso que precisamos criar o governo paralelo que se expressaria por meio de um novo partido político (certamente não estou falando do Partido Verde e da Senadora Marina, que nasceu para abespinhar a vida da vereadora -não é isto?- Heloísa Helena).

Mas o assunto de Galbraith, ainda que assemelhado a minhas considerações do parágrafo acima, encaminha-me para outro extremo. Entendo que o voto não pode ser obrigatório como -menciona ele- a Áustria e a Bélgica, um é depositário das valsas dos bosques de Viena e o outro é uma monarquia. Ainda assim, ele mesmo diz na p.164, em seus "finalmente" que o voto compulsório é uma droga (que deve ser declarada ilegal...): "[...] direitos soberanos e inalienáveis do cidadão norte-americano poder boicotar o processo eleitoral."

Ao mesmo tempo, entendo que a falsa consciência ou o que seja que não leva os pobres a votarem no doutor Olívio tanto quanto este gostaria (ver postagem de ontem) pode ter uma resposta diferente. Fora da esfera política -no sentido atual do termo-, com seu estadinho-nação, sua representatividade por meio de partidos, coalizões partidárias, essas coisas. Se eu quero o fim do estado-nação, só imagina o que penso sobre a política. O que preciso pedir aos homenzinhos verdes é:
.a. renda básica universal e seu corolário, a Brigada Ambiental Mundial
.b. a ser financiada com dinheiro do Banco Central Mundial
.c. que cobraria o Imposto de Tobin e, além disto, uma fração a definir (provisoriamente pelos homenzinhos altruístas e depois veremos) do world GDP.
DdAB

little p.s.: ontem fui acusado de já estar falando 40% de inglês a maior parte do tempo.

baita p.s.: olha o que que minha amada Zero Hora publicou hoje na p.17:
22 de setembro de 2009 | N° 16102
Façam suas apostas!
Themis Groisman Lopes*

Em meio a tantas controvérsias a respeito da legalização dos bingos e das máquinas caça-níqueis no país, não entrarei no mérito da polêmica. Gostaria de abordar o assunto sob outra forma, ou seja, estabelecer uma conceituação capaz de diferenciar o jogo motivado pelo prazer do jogo patológico.

A primeira situação é referente àquelas pessoas que consideram o jogo uma diversão apenas. São indivíduos sadios, que jogam por derivativo, como uma forma de satisfação pessoal. Encaram o jogo como qualquer outro hobby: um esporte, uma academia, uma aula de música, uma corrida, e tantos outros que todos conhecem. A atividade, no caso o jogo, permite que interajam com outras pessoas, ocupando-se e sentindo-se participativos. Outras vezes, encontramos pessoas que, solitárias ou mesmo desencantadas com o convívio familiar, procuram fora deste sentir-se mais valorizadas socialmente. Existem grupos de jogos de carta, que se reúnem uma vez por semana, na casa de cada um, fazendo um rodízio semanal. Estes encontros são úteis para trocarem ideias, fazerem confidências, ou até mesmo para sentirem que têm um compromisso, sendo este também um objetivo. Nesses casos, não há, geralmente, nenhum envolvimento financeiro. Se houver, será apenas simbólico. Muitos frequentam bingos e cassinos separando determinada quantia para apostar, nunca a ultrapassam. Têm absoluto controle sobre o que gastam. Nos defrontamos ainda com situações vivenciadas com muita tristeza, como mulheres que ficaram viúvas ou que perderam um filho. Nestes casos, o jogo controlado é um atenuante aos seus corações aflitos.

Agora, passaremos a abordar a segunda situação, ou seja: o jogo compulsivo. Este só passou a ser reconhecido como doença, pela Organização Mundial de Saúde, a partir de 1992, passando a denominar-se jogo patológico. Sua principal característica é incapacidade total de controlar o hábito do jogo, mesmo sabendo de todos os malefícios que possa acarretar para suas vidas: tanto financeiro quanto familiar e mesmo profissional. O jogador compulsivo tem comprometimento em sua personalidade, como todos aqueles portadores de transtorno impulsivo-compulsivo, ou seja, a tendência natural para a compulsão e impulsividade. O jogador doente dificilmente aceita sua doença, por isso não procura ajuda psicológica. Diz que o jogo é apenas um divertimento e para quando lhe aprouver. Não aceita perder. Em função disto, joga cada vez mais, na tentativa de recuperar o perdido. Fantasia que a sorte vai mudar, não consegue prever o óbvio das desvantagens de suas atitudes. Apresenta um pensamento mágico, não percebendo o que aposta e quanto gasta. Muitos autores referem-se à sensação de euforia que os dependentes têm, semelhantes aos das drogas e do álcool. Vários perdem imóveis, carros, casamento, amigos, desesperando-se e indo até o suicídio. No mínimo, diante de todo o descalabro, entram em depressão severa. O jogo patológico é uma entidade mórbida, não diferente de outras compulsões como: compras compulsivas, trabalho compulsivo, amor compulsivo, emagrecimento compulsivo. Essas pessoas devem ser observadas com carinho, pelos familiares e amigos, que podem auxiliá-los, insistindo no tratamento médico. O mais eficiente meio de tratamento é realizado, com resultados bastante satisfatórios, pelo Grupo dos Jogadores Anônimos, que os acolhe, tornando-se continente a toda problemática apresentada e principalmente objetivando que o jogador reconheça ser doente e apresente o desejo efetivo de tratar-se. Se assim ocorrer, o jogador deve compreender que, nem mesmo por “brincadeira”, poderá sentar-se numa mesa de jogo, pois o risco de recaída será muito grande.

Isto eu aposto.
*Psiquiatra

ultra mini-p.s.: Eba!

21 setembro, 2009

Dilma, Glyn e o Internacionalismo Proletário

Querido Blog:
Tempinhos atrás, referi -por aqui- que, interessado em coisinhas de economia monetária, comecei a olhar "O Capital" de um lado e de outro. Interessava-me dar um passo além no entendimento do problema da transformação de valores em preços. Aprendi que a transformação ocorre no preciso instante em que surge a forma preço do valor. Isto levou-me a ficar pulando entre o primeiro volume e o terceiro. Edição Penguin, com belas introduções de Ernest Mandel e esmerada tradução (alemão-inglês) de Ben Fowkes (primeiro) David Fernbach (terceiro).

Que estará fazendo nesta postagem um fragmento da capa de meu amado orientador Andrew Glyn, falecido no final de 2008? Ele escreveu e deu-me de presente (autografado) o livro "Capitalismo sem Peias", se é que os surfistas trduziriam "unleashed" por esta palavra um tanto arcaica. Ele estava muito feliz, quando o vi pela última vez, com seu "small book". E eu também fiquei, ao vê-lo, ao vê-los, ao lê-lo. Um dia ainda falo mais sobre ambos, o livro e o autor.

Ocorre que eu decidira fazer uma postagem dizendo que -entre os obituários que li- um deles referia, en passant, que ele -Andrew- brincava que era citado por Marx. Não era bem isto, mas -ainda assim- ele nunca me falou nisto e eu tampouco notei, ainda que tenha jurado que li o terceiro volume inteirinho no primeiro ano de minha estada em Oxford. Pois agora, ao olhar essas coisas monetárias, encontrei a referência à p.1047. Está no Suplemento e Adendo escritos por Engels, uma seção curtinha intitulada "2. The Stock Exchange", o que -talvez- explique que eu não chegara a ela, passagem, naqueles tempos:

The same [concentração, como nos demais ramos industriais citados desde a página anterior] for banks and other credit institutions, even in England. Immense number of new institutions, all limited liability. Even old banks such as Glyns, etc. transformed into limited companies with seven private shareholders.

Dito isto, chego a Dilma Rousseff, nossa candidata à presidência da república (nossa, mas não minha, meu chapa, pois eu estou em desobediência civil e não voto em ninguém). Segundo a p.18 de Zero Hora de hoje, ela diz:

Acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins.

Isto dá uma postagem on its own. Mas não vou fazê-lo. Deixo registrado o recurso retórico. De minha parte, acho que ela acha que "quem defendia que o mercado solucionava tudo" não era interlocutor sério. Como tenho dito relativamente a, especificamente, alguns empresários e -talvez- outros de seus acólitos. Então vejamos:
.a. tá na cara que o mercado não soluciona tudo: externalidades, bens públicos, poder de monopólio etc.
.b. tá na cara que o mercado provê, inclusive crack a uns rapazes que andei ouvindo dizer terem matado a mãe, o pai, o vizinho, o filho dos ricos. Acrescento, no caso, que nem tudo que é provido pelo mercado será socialmente desejável, como penso serem os bingos, a cachaça etc.. Ocorre que, além de prover, o mercado tem a função de racionar. E um mercado bem regulamentado pode contribuir para desprover os criminosos que viciaram aquela velhinha em crack (ou era apenas seu filho 'inútil'?) de uma condição de "monopolistas" absolutamente anti-social.
.c. tou com ela, no sentido de que o mercado não é capaz de legislar, mas
.d. já discordo de que o mercado não garante. Ele garante a estrutura de incentivos mais compatíveis com as previsões que hoje fazemos sobre comportamentos humanos: recompensas materiais
.e. agora, a tese do estado mínimo, precisamos examinar com cuidado. tem gente que acha que o absurdo não é o estado prover educação, mas produzir gasolina.
.f. precisamos saber exatamente que tese faliu sobre a desejabilidade de existir um estado mínimo, inclusive definindo o que quer dizer "mínimo"; estado, já sabemos, é o instrumento de opressão de uma classe sobre outra, o que nos leva a querer substituir o governo dos homens pela administração das coisas. Quando um político do porte do Doutor Prisco Vianna preside a Petrobrás, está tudo perdido.
.g. por fim, não creio que, entre os tupiniquins -antes de serem exterminados-, houvesse "estado mínimo".
DdAB

p.s.: decidi fazer este peésse para registrar a seguinte frase:

fortalecer a luta por uma sociedade socialista e redicalmente democrática, cuja construção requer a derrota do imperialismo, por meio da unidade internacional dos trabalhadores, visando à independência nacional dos povos oprimidos e à expropriação do capital pelos trabalhadores.

ela refere-se a um dos 400 objetivos da Andes (não lembro o que quer dizer, mas é um troço que virou sindicato que me representou/representa (?) como professor associado aposentado da APUFSC). seja como for, pago a APUFSC mensalmente e esta era filiada à Andes. não conheço bem os meandros do descontentamento crescente das associações de docentes com os fortalecedores da luta pela sociedade socialista. o fato é que a UFSC desfiliou-se da Andes e já chegou tarde, pois há milhares de universidades federais que já procederam ao rompimento. a única salvação da Andes é que isto foi citado enviesadamente pelos autores do artigo de onde tirei a cita: Almir Quites e Paulo C. Philippi, intitulados (o artigo, não ele, claro, o "s" é que sobrou) "Por que um sindicado e não uma seção sindical?", no Boletim da Apufsc n.691, do dia 14 pretérito. eu acho mesmo que apenas um datilógrafo bêbado poderia transformar de tal maneira as notas do secretário da assembléia em que os 400 (ou eram apenas 4 ou 4 x 10^64?) objetivos foram alinhados. ou vice-versa, isto é, o datilógrafo pediu demissão, pois o secretário pediu-lhe para digitar aquele troço mesmo. o que mais me doi é que os dirigentes do clube de apoio ao socialismo que me federou (eu, membro da APUFSC; ela, federada pela Andes) é nacionalista, como o foi o Sr. José Stálin. unidade internacional buscando a independência nacional? pensavam na África dos anos 1950? são loucos? e o internacionalismo proletário não seria o que disse o Sr. John Lennon? digo o que ele disse: "imagine there's no countries, ..., [imagine] a brotherhood of men, ..., imagine all the people living life in peace." refeito, só posso dizer que amei esta da independência nacional, um projeto da burguesia que construiu o estado-nação. no outro dia, eu falei que vou criar uma federação do pessoal que luta para o erguimento da Organização dos Povos Unidos!

20 setembro, 2009

O Mundo no dia 20 de Setembro: sirvam-se

Querido Blog: Eu ia fazer uma postagem contra este ufanismo gauchesco que fala em seu hino (tão citado recentemente por humoristas de alto calibre), em ordem direta: "[Que] nossas façanhas [s]irvam de modelo a toda a Terra". Toda a Terra lembra-me a Organização das Nações Unidas (não é a organização dos "estados unidos"), ainda que minha amiga argentina (meio artesã, meio astróloga e meio anarquista) diga propugnar pela criação da Organização dos Povos Unidos. Este troço de "modelo a toda a Terra" não se referia aos escândalos que temos visto correntemente no solo demarcado como do Rio Grande do Sul. 

Por exemplo, um carinha que roubou milhões de reais vendendo selos para a Assembléia Legislativa, outro que tomou conta do Tribunal de -você pode adivinhar- de Contas, outro que roubou merendas dos escolares de Sapiranga, ou Sapucaia, ou mesmo Sapucaí, sei lá, outro que roubou o departamento de trânsito, e não lembro se as façanhas modernas pararam neste caso. Queriam fazer o impeachment de minha professora e depois colega, a Econ. Yeda Rorato Crusius, e tiraram do governo o César Buzatto, meu colega de diretório acadêmico e também o Econ. Delson Martini, meu aluno dileto. cheguei a pensar que também iria acabar preso... ainda assim, embora não me sinta premido por chantagens de ninguém, lancei o MAL*, o Movimento de Anistia aos Ladrões Estrela. quero dizer: começar a faxina logo com a Iedinha? e esquecer o Quércia, o Collor, o Vavá, o Fábio, o Prisco Vianna, o Inocêncio de Oliveira, o Jader, os juízes de direito, o aposentado do tribunal superior que abriu um escritório especializado na defesa de traficantes de drogas ilegais, essa macacada toda? 

o melhor mesmo seria começar vida nova, atrevi-me a sugerir, daqui a 20 ou 50 anos, quando os políticos atuais, ao descontarem seus pay-offs, estarão propensos à honestidade. ou seja, estes malfeitores poderiam legar-nos pelo menos a estrutura institucional adequada a salvar as gerações futuras. façanhas? países? toda a terra? só bebendo! seja como for, além disto, nada mais falarei sobre o glorioso 20 de setembro, exceto: 

.a. que há bom tempo em Porto Alegre e 
.b. que mostrarei a edição de um e-mail em processo de redação e remessa a meu colega Jesiel de Marco Gomes . em outras palavras, seguirei falando deste troço de modelos a toda a terra. será uma postagem longuíssima. dane-se! primeiro, Jesiel enviou a seus amigos dois endereços, muito esclarecedores:
FILME 1
FILME 2

então eu disse prá ele um troço assim, oh!: oi, adorado irmão: esta é uma "resposta interativa" a teu e-mail dos dois filmes. dá uma olhada em http://19duilio47.blogspot.com/2009/09/o-mundo-no-dia-20-de-setembro-sirvam-se.html onde verás o e-mail abaixo reeditado. ou seja, comecei aqui, fui para lá, postei este conteúdo e voltei para cá para despachar-te o e-mail. e voltarei para lá, a fim de editar o que poderás ler abaixo. dito isto por lá, digo agora: estou aqui, entendeu? The Who? o segundo filme -não tinha presente, se é que algum dia tive- a semelhança do 11 de setembro chileno (Milton Friedman) e americano (George Winston Bush). é marcante. 

comove-me e me retém preocupado com a estupidez humana, que comporta-se de acordo com modelos que se aplicam perfeitamente à descrição do comportamento animal disputando territórios. jamais vou esquecer o dia -que hoje é claramente o 11 de setembro-, quando esperava minha mulher (eu dentro de nossa 'brasília' e ela saindo do Palácio Piratini, onde ela trabalhava) e ouvia a Rádio Gaúcha, o noticiário do dia (ou -talvez- do dia anterior, deixando claro que a ferocidade do golpe não deixava dúvida sobre quem venceria, ou até que Allende já estava morto). não sei se era um protesto político dos radialistas que não podiam manifestar sua estupefação ante o ocorrido, por causa da ditadura local, uma ironia daquele jornal que sempre foi de direita, ou pura casualidade, mas o fato é que a vinheta de encerramento do programa noticioso emendou-se com a trilha sonora do filme cujo título, se não me engano, é "c'e era una volta la rivoluzione", um daqueles westerns de Sérgio Leone (creio que no velho oeste). 

não posso garantir que chorei, não lembro mais. se bem lembro, o herói do filme era o ator James Coburn o.s.l.t., um imigrante irlandês, anarquista. claro que isto me evoca, a respeito do segundo filme outro tipo de canção: Engenheiros do Hawaii e a "toda forma de poder", que diz que "eu começo a achar normal que algum boçar atire bomba na embaixada". apenas alguns anos depois é que fui começar a achar anormal. e mais: "toda forma de poder é uma forma de morrer por nada". eu tenho a esperança de que, vencida a escassez dentro de poucos séculos, vamos ingressar numa era de mais harmonia, neste sentido vulgar de uns animais predarem os outros em busca de território ou excedente econômico. 

tenho em mente o mel e o urso, o que não é "excedente" da abelha, por definição. a abelha e o urso, ao produzirem e consumirem mel, apropriam-se da natureza. não é legítimo falarmos na "distribuição do mel" entre bichos. pelo menos não para um rapaz de meu porte, que se declara "economista político". as ciências sociais -que abrigam a ciência específica que pratico mais quantitativamente do que a média dos bichos- garantem à espécie humana a condição de envolver-se em processos produtivos que geram "valor da produção". ou seja, estamos falando de economias monetárias em que vigora a "lei do valor". ao se gerar valor da produção, gera-se -se tudo correr bem- valor adicionado (desastres naturais, por exemplo, podem fazer valor adicionado negativo). ao mensurarmos o valor adicionado, fazemo-lo por meio da ótica do produto (que é gerado), da renda (quando o produto é apropriado) e da despesa (momento em que a renda é absorvida). 

Marx, by the way, disse que tudo começa na produção. eu não sei se entendi mal, mas achei que ele queria dizer que tudo começa é na alocação. minhas reflexões sobre o segundo filme talvez não tragam os mesmos esclarecimentos que te trouxeram (disse eu no e-mail ao Jesiel, lançando-lhe uma odiosa provocação...). andei postando algumas coisas em meu blog sobre o que -muito rubinianamente- chamei de pressal. eu acho que a chave é o que fazemos com a categorização mercado-estado-comunidade para enquadrar a organização econômica da vida societária. se o golpe do Chile marcou-me como um tijolaço na cabeça, começar a estudar a teoria da escolha pública colheu-me como outro tipo de tijolaço. acho que foi nosso amado Eugênio Cánepa que começou a doutrinação, ainda nos anos pré-constituinte. o primeiro ponto é a diferença entre produção e provisão. [by the way, sempre fui contrário à constituinte, ao plebiscito sobre monarquia e ao referendum sobre porte de armas: apenas maneiras de dar dinheiro a sinecuristas que imprimem títulos eleitorais, cédulas, programas de computador, tráfico de influência, corrupção, essas coisas] [[by the way, nunca pensar que o MAL* pode ter-se originado em minha antipatia contra essas campanhas de voltar a reviver 'as taras da ditadura' e voltar a processar a milicada anistiada]. dizem uns que quem esquece o passado não tem futuro. 

eu não discordo, acrescentando que esse troço de brincar de pegar milico no século XXI por crimes do século XX é contemplar a história que se descortinou como tragédia e revivê-la como comédia! já temos uma indústria da anistia: pensões milionárias, muita entrevista na imprensa, eleição de políticos engajados no eleitorado dos descendentes das vítimas, livros com denúncias cada vez mais escabrosas, chantagem emocional prá cima da Ministra Dilma, grupos de interesse, uma tragédia. mas, mesmo sem a teoria da escolha pública, eu já intuía que havia algo de podre no estilo brasileiro, cujo estado criara "uma rede de distribuição de gasolina", quando o que deveria ter feito era criar "uma rede de distribuição de refeições". digo que intuía, pois estas duas frases eu as usei precisamente no ano de 1982, quando voltei (pela primeira vez, que na segunda voltei em agosto de 1998) de Floripa e lecionava (pela primeira vez) Introdução à Economia (antes ensinara apenas Microeconomia e Economia Industrial). 

era uma frase dita para os alunos. tento, neste momento, recoletar o que pode ter-me levado à intuição que as instila. não muito tempo depois, escrevi um artigo para uma das revistas da FEE (tempos em que convivíamos, tu e eu, mais proximamente, já em meu apartamento da Demétrio, e discutíamos, por exemplo, o significado de política de estoques reguladores e estoques mínimos, pensando precisamente nesta coisa de acabar com a fome) em resposta a uma diatribe do então senador Carlos Chiarelli contra a existente União Soviética. cara, em -digamos- 1985 ou 1986 - eu simplesmente defendia o comunismo! seja como for, achava estranho este tipo de hierarquização de prioridades no Brasil. e, especificamente, sobre estoques reguladores, bem naquele período, não esquecerei de que vi uma notícia no jornal denunciando um político do Brasil Central que era dono de silos alugados ao governo (em Goiás ou o que seja) e que pressionou as autoridades para mobilizarem os grãos de outro local para algum desses programas benemerentes, de sorte a manter o recebimento dos aluguéis dos grãos que zelosamente guardava. fora os prédios catarinenses da elite (política) local, todos alugadinhos para o governo estadual. e será apenas lá na Bela e Santa Catarina ou também all over Brazil

 ou seja, a teoria da escolha pública tinha em mim um converso potencial. esse troço de grupos de interesse, apontando para as falhas de governo (que as falhas de mercado eu já conhecia desde o mestrado no IEPE, em 1975), com a formação de grupos de interesse constitui o segundo tijolaço a que me referi. mais estupefato ainda fiquei ao identificar que as comunidades também têm falhas, como é o desagradável caso dos linchamentos, além da infibulação, do achatamento do pé das chinesinhas, e por aí vai. por um lado, tudo isto leva-me a crer que a saída está na bebida! mas haverá outras saídas, outro lado, tema em que até até hoje busco pensar. acho que estes caras do "um outro mundo é possível" são uns idiotas, e que muito mais sábio é nosso colega Gerônimo Wanderley Machado, quando diz que queremos "reformas democráticas que conduzam ao socialismo". ou seja, não queremos socialismo, pois nem sabemos bem que é isto. bastar-nos-ão, por alguns anos, as reformas democráticas que conduzam a ele. acho que, quanto menos estado, melhor. 

Estou com Marx: substituir o governo dos homens pela administração das coisas. também acho que, quanto menos mercado, melhor (o mercado provê assassinatos, crack etc.). finalmente, também acho que, quanto menos comunidade, melhor (desagrada-me ser linchado ou apenas levar um "gelo"). para mim, o primeiro princípio absoluto é o da liberdade humana (e até já andei criticando quem falava da falta da liberdade na CCCP, pois dizia que tínhamos, no Brasil, liberdade de morrer de fome. hoje acho isto um disparate, inclusive pensando no que ocorre na China: 8 mil executados por sentença de morte impingida pelo estado chinês anualmente; em teste bicaudal, juro por tudo o que conheço, que haverá pelo menos um culpado condenado "legitimamente" e um inocente executado por puro azar).

Sempre achei uma bela problematização discutir os limites da liberdade humana. claro que o crack faz mais mal para a saúde do que pega-varetas. mas mesmo jogos banais já destruíram indivíduos e famílias. Claro que, ao falarmos dos limites da liberdade humana que (como quer John Rawls) deve ser a maior possível, compatível com a dos demais). isto nos leva a aceitar o conceito de "drogas recreativas" e, como tal, jogos. viciado não usa "droga recreativa", nem "bingo recreativo". viciado é "louco", o que o associa às crianças e criminosos como um trio que não deve receber autonomia decisória (da família, comunidade ou governo). redução de consumo do que quer que seja (digamos, bens de demérito) se consegue [mais eficientemente], via mercado, com a cobrança de impostos, o que eleva o preço. 

com o mesmo imposto do cigarro, provavelmente o crack não teria matado ninguém... por falar em reticências, uma vez que sou divulgador da teoria da escolha pública, eu as teria acrescentado a tua frase: "teríamos que acabar com quase todas as atividades, sem falar do próprio governo (essa até não seria má idéia) [reticências...]." ou seja, acabar com o governo não é má idéia apenas como ironia. democratizar o governo é que é a questão que -creio- fugiu do futuro imediato do Brasil com -agora é claro- um dos apaniguados da ditadura militar, o Partido dos Trabalhadores e seus principais fundadores. comunidade, mercado e estado -talvez nesta ordem ["genético-histórica"] de criação- são bons mas passíveis de predação por "caroneiros" e, mesmo sem estes, são passíveis de falhas. ainda assim, um outro mundo é possível! [epa!, na postagem, eu disse esse troço de "um outro mundo é possível"? uma legenda de idiotas contrários à globalização e favoráveis à participação do governo dos homens como indutor do desenvolvimento econômico que gerou um índice de Gini que já chegou a 0,65 no Brasil; por amor de Deus, ou como diria Karl Heinrich Marx, num daqueles pubs do Soho, "for God's sake!"]. 

DdAB
Vamos com calma nestes negócios de roubar merendas de crianças e de meter o governo a pagar geólogos e ascensoristas para extrair petróleo e pagar 50% dos lucros ao governo federal. no caso das merendas, a solução é comprar duas para cada aluno, uma para ser roubada e outra para consumo do próprio aluno, mas isto apenas por 50 anos, quando todos passaríamos a comportar-nos honestamente. no caso dos lucros do pressal, não vejo razão para o governo escolher dirigentes da petrobrás, petrossal, petroquisa, petrocultura, petromicopreto, banco do brasil, banco do brasil no exterior, banco do rio grande do sul (envolvido, segundo Zero Herra) na corrupção do governo de minha colega, mais bancos, mais empresas, mais empresas, mais ladrões, mais ladrões. 

uma solução social-democrata é, digamos, o governo criar uma empresa pública de propriedade comunitária e dar a cada brasileiro no dia de seu nascimento (não transferível) uma ação desta empresa que geraria dividendos (a partir dos lucros tributados aos permissionários da exploração do petróleo, do dinheiro do povo, das construções de estradas, das produções de merendas, uniformes, transportes escolares, e por aí vai). ainda mais radical não é nem pensar neste troço de distribuir apenas o lucro do pressal, mas criar o mecanismo da renda básica universal. abração do .d. [end of file] 

DdAB pe-ésses: já que esta postagem não acaba nunca, vão dois: .a. o Doutor Paulo Brossard (ex secretário de segurança pública do governo Ildo Meneghetti oslt, senador da república e ministro da justiça do governo José Sarney oslt) deitou e rolou sobre o diagnóstico recitado pelo Presidente Lula (ex deputado federal) relativo à "marolinha" em que o Brasil (e seu administrador, o FMI, acrescento) iria transformar a crise internacional. pois no outro dia postei algo na linha da Carta Capital. hoje, Zero Herra cita o L'Humanité (ou era o Canard Enchanté?). 

Na p.19, o jornal gaúcho diz: "Le Monde - Na quinta-feira, o jornal francês afirmou que o presidente Lula teve uma visão 'bastante correta' ao dizer, no ano passado, que a crise no Brasil provocaria apenas uma 'marolinha'. O diário argumenta que a recessão no Brasil durou apenas um semestre." .b. na p.30, ZH cita o neto de um caudilho da zona da pobreza da "metade norte" do estado. diz o neto: "Os vencedores da guerra descrevem a história e esquecem as mágoas. Os perdedores, não." 

Acho que isto rima com outra frase de ZH, desta vez, do cronista David Coimbra e que contribuiu para inspirar-me a criar o MAL*: no país da tolerância, tornamo-nos intolerantes. sou de opinião que os perdedores precisam de tratamento psiquiátrico especializado, de sorte a superarem a derrota. e que seus descendentes deveriam zelar por sua memória, mesmo que à custa de tratamentos psiquiátricos. A mágoa é prima-irmã da vingança e não faz sentido um rapaz, em 2012, vigar-se do bisneto de um coronel que perseguiu a Coluna Prestes, na tentativa de punir o perdedor.

19 setembro, 2009

A Greve dos Correios

Querido Blog:
todos sabemos que o modo obsoleto de atuação sindical no Brasil Contemporâneo é a greve. eu mesmo sempre nutri enorme desprezos pelo que chamávamos de "fura-greve", um rapaz cujo vetor de comportamento era dissonante ao comportamento do líder que exigia que todos os demais entrassem em greve. eu mesmo achei oportuno, in due time, que todo mundo cria juízo, abjurar esse troço de comunismo. já falei no outro dia, a primeira denúncia que vi contra o fim-do-mundo via MELS (Marx-Engles-Lênin-Stálin, o que quer dizer "rússia") foi postada no livro "O Grupo" da americana Mary McCarty (sobrenome que, anos depois, ilustrou ao planeta que o autoritarismo é um atributo planetário, não apenas da terra das noites brancas).

demorei, demorei, mas caiu a ficha. em Santa Catarina, comecei a -como dirá a gente da paz- dar-a-cara-a-tapa. no caso, fui a pelo menos uma assembléia do Centro Sóci0-Econômico (ou o que seja que lá o designava) em que, trêmulo e desarticulado, defendi a sabotagem (já te falei que "sabot" é a origem e que a decisão de sabotar ocorria aos trabalhadores desempregados aglutinados na Praia des Grèves, à Paris?). ou melhor defendi que elegêssemos representantes de nosso Centro juntamente à assembléia geral de todos os centros que argumentasse contra aquela forma de greve que eu via descortinar-se há 20 anos (já se vão mais 10).

eu sugeria que deveríamos encaminhar uma proposta revolucionária, que mostrasse à cidade quem manda, que greve não é espaço de construção de consciência revolucionária, doutrinação, aquelas coisas de porta-de-fábrica e porta-de-centro-acadêmico. que greve é espaço para o enfrentamento, para nós -a classe trabalhadora- enfiarmos a mão nas fuças da classe capitalista. no caso, eu sugeria que todo o entorno do Campus Trindade fosse tomado por nós, professores e o adminstrássemos em benefício da classe trabalhadora e do mundo acadêmico. e mais. que lançássemos um aríete sobre a esquina "killer" da Ilha da Magia (a que seguia da rua fulano de tal para o morro da Lagoa da Conceição e a perpendicular que traria nossas tropas revolucionárias da UFSC para o mar), também fulano (ou sicrano) da mesma família "tal") que a encontrava em ângulo reto. lá, da calada da noite para os esplendores do dia, fincaríamos o primeiro canteiro de obras do povo armado (de pás, picaretas e colheres de pedreiro, fora umas taquaras) e
.a. criaríamos uma rótula que obrigaria os rapazes a reduzirem a velocidade de seus carros para circular ordenadamente
.b. avançaríamos sobre a propriedade privada ou o que seja do outro lado da rua fulano de tal e começaríamos a cavar um túnel daquele espaço geométrico no rumo da Lagoa da Conceição, o que evitaria que milhares de veículos subissem e descessem um morro mais sinuoso do que meu pensamento político, quando a geração futura herdaria dos grevistas uma via de passagem para o mundo moderno.

minha proposta foi colocada em votação no momento em que eu me afastara, para comer um toblerone, que era dado a estes hábitos extravagantes naqueles áureos tempos. derrotado o toblerone, percebi que minha proposta não apenas fora votada como também fora derrotada por unanimidade. não me agastei com os colegas, nem prometi retaliação, apenas jurei-lhes que iria à Assembléia Geral. e o fiz. só que lá -não sou tão burro quanto a Profa. Abigahil achava- não fiz proposta nenhuma, apenas dediquei-me a derrubar um pacote de balas azedinhas, dois toblerones e um cachorro quente com mostarda e quetechupe. desnecessário dizer que saí enojado, pois a greve foi aprovada com um ou dois votos em contra.

agora, que o Departamento de Correios e Telégrafos -ou que diabos de nome o tenha tragado- está declarado em greve, decidi manifestar meu ódio ao líder que induziu uma plêiade de altruístas a lutarem por sua fair share distributiva, iludindo-os e levando-os a uma posição de pleonexia. ou seja, a plebe rude, no dizer de Billy Blanco, ou Billy Waughan, ou Billy, the Kid, um desses billies muito sabidos, está sendo levada a uma postura de falsa consciência, não pelos atropelos do mundo, mas pelo líder que ganhará viagens a Brasília ou vice-versa, hospedagens em hotéis de luxo, carro oficial e tudo o mais para negociar -adivinhe o quê- o fim da greve.

meses atrás, quando houve outra dessas greves -ou do próprio correio ou da avó do badanha- meus gastos com o cartão de crédito (que tanto prezo) não foram pagos, pois a conta não chegou. fui reclamar e disseram que eu poderia cancelar o cartão, mas não iriam perdoar os juros pelos dias de atraso. semanas atrás aconteceu algo parecido com a Unimed: parece que caiu uma ponte entre o Oiapoque e o Chuí e meu aviso de pagamento não chegou. fui saber onde era o furo da bala e disseram que a remessa do "extrato" é uma cortesia, que minha obrigação contratual é ir à internet e baixar o "doc".

eu, que sou chegado nesse troço de teoria da escolha pública, de jogos de estratégia, de problemas de coordenação da ação dos agentes, esse troço todo, pensei: o líder não terá estudado os livros de teoria da escolha pública e nunca terá ouvido falar em meu livrinho introdutório sobre a teoria dos jogos. se ele fosse, digamos, mais educado, já teria entendido que "o capital", diria lá ele, sem os dotes literários e críticos de Mr.X, criara novas e malevas formas de reprimir "o trabalho".

de fato, "o capital" já há anos faz com que muitas contas sejam debitadas no banco, o que ajudou a destruir o Departamento dos Correios e Telégrafos. a incompetência deles, a intervenção manu militari dos militares durante muitos anos, a visão de que greve é obrigatoriamente o que os trabalhadores da tal Praia das Pedras faziam, ou seja, jogavam tamancos nas engrenagens das fábricas que os desempregavam, ajudaram a destruir o movimento sindical. organizar pela base era a palavra de ordem, que nunca foi cumprida, tanto é que o PT, ao tomar o poder, aparelhou a administração pública por ande andou, manu militari, ou seja, tirou o o pessoal do PDS, da Arena e jogou o pessoal do PT.

por que o líder grevista não revoluciona a cidade exigindo que, ao invés de entregar cartas, os rapazes integrem-se à campanha de obediência às faixas de segurança? ou que os brasileiros de todos os recantos dirijam-se à Escola de Formação de Líderes Sindicais do Dieese em Floripa, encham de desaforos os educadores que não sabem teoria da escolha pública e, ato contínuo comecem a cavar o Túnel Itacorubi-Lagoa no local em que tanta gente já perdeu a vida?
DdAB

.p.s.: dias atrás, andrei deblaterando contra uma postagem do blog "Academia Econômica"(clicar ao lado) sobre a questão dos impostos: diretos indiretos, digo mais, progressivos ou regressivos, incidentes sobre os produtores ou os locatários dos fatores de produção ou sobre as instituições, essas tecnicalidades que deixam qualquer cachorro de orelha em pé. Não é que a chave da discussão é, lá naquele ambiente capixaba, a diferença entre "tributo" e "imposto"? E não é que o jornal Zero Herra, na capa do Caderno Vida deste sábado, faz uma chamada para a principal matéria com "Mulheres antes taxadas de frias talvez precisem apenas de mais atenção." Eu ia escrever "capichaba", mas acho que fui compensado, pois eles não escreveram "tachar", o que pareceria mais adequado ao espírito da matéria, se é que espírito existe...

..p..s..:: No poema "O Mapa", Mário Quintana escreveu: "(E há uma rua encantada que nem em sonhos sonhei)" [sic]. eu fiquei a indagar-me se já sonhei algo mais interessante do que esta idéia um tanto rortiana de que o bom é pensarmos tudo, principalmente -disse lá ele- o impensável.

18 setembro, 2009

Getting Better

Querido Blog:
Todos sabemos o respeito que sempre dediquei ao prefeito de Porto Alegre, a quem ainda convidarei para integrar a campanha "Odeio Lixo Seco" e que já posou para meu marcador "Lixo Urbano". No outro dia, integrei-me à campanha do "respeite o novo sinal de trânsito", a mãozinha. Integrei-me, eu disse, apenas em certo sentido, pois escrevi uma cartinha por e-mail, muito do bem redigida e a resposta não veio, talvez por não falarem a língua que usei para expressar meu júbilo e encaminhar uma sugestãozinha para melhorar o serviço.

Vou falar muito mais sobre isto, pois acho que -marcador Economia Política- estamos enfrentando um momento interessante em que a aliança entre a comunidade e o governo pode fazer mudanças substanciais, como as que -sabemos- ocorreram com o "foot binding" na China e a infibulação na África. Aqui, estou certo, a questão é tão séria quanto... Estamos falando da felicidade da geração presente e das futuras. Os meninos de rua acabarão sendo reciclados por nosso combativo prefeito. O começo poderia estar em qualquer lugar, mas ele escolheu a mãozinha.

Sugestão de hoje: esclarecer o povo sobre o significado das faixas do jeito que estão pintadas na silaneira entre as ruas Fernando Machado e Marechal Floriano. Eu, ontem, quase meti -por ódio- o carro por cima de uma velhinha que atravessava a faixa zebrada enquanto que minha potente Land Rover cruzava, em alta velocidade, a faixa contínua, pois o sinal me dava a licence to kill de que nos falavam James Bond e Madonna. Tudo poderia mudar se:
.a. esta campanha tivesse sido prevista no orçamento público
.b. ao invés de terem roubado o dinheiro do povo, os políticos o usassem para repintar adequadamente as faixas zebras e contínuas
.c. colocassem placas com a mãozinha nas faixas zebradas em que o motorista não tem direito legal de matar pedestres.
.d. depois falarei em outras 3,1416 x 10^64 sugestões.

Todo político é ladrão e vice versa. Vejamos o que o prefeito fará desta sugestão que lhe estou dando, de boa fé!
DdAB

17 setembro, 2009

Equilíbrio: conceito relevante

Querido Blog:
Busquei esta foto no Deserto do Sahara, digo, busquei-a no Google Images, com a entrada "equilíbrio pessoal". Tenho refletido muito sobre as tautologias econômicas, a maior das quais é que as vendas são iguais às compras. Parece-me que foi o Mr.X que disse tratar-se da dualidade básica da economia política, das duas metamorfoses da mercadoria.

Em boa medida, algumas identidades não servem para muito mais do que asseverar a obviedade: se a venda é igual à compra, a compra também será igual à venda... Mas, por exemplo, ao sabermos que os estoques reduziram-se, o que é uma identidade que alguns dizem derivar-se da "equação de Leibnitz" (o que vem no fim é igual ao que veio no começo mais o que vem no meio), somos forçados a concluir, ou melhor, permitimo-nos pensar que a produção vai elevar-se. Ainda assim, a produção aumentará mesmo if and only iff quisermos repor o tal nível que, neste caso, seria declarado crítico.

Mais relevante é o conceito de "equilíbrio pessoal". Este conceito foi-me ditado por um acaso absolutamente extraordinário. Eu estava fazendo um "batido de iogurte com gelatina" e caiu dentro do liquidificador uma receita de salmão (com maracujá). Pois não é que, ao coar o mingau, o papelzinho (liquidificado...) tomou outra forma e pude ler com espantosa nitidez: ao tirar-me da vida dos outros, também tiro-os da minha própria vida. Pensei que, não fora o detalhe da expressão "da minha", esta frase poderia ser minha. Eu não gosto de usar artigos antes de pronomes, especialmente os pronomes pessoais, e também no caso do conceito de equilíbrio pessoal.

Resumindo: se entendeste o suco (Lourdette) desta mensagem, então estarás mais up to date com meu blog do que myself, que não entendi nada... Ainda assim, não posso negar que
1 x 1 = 1; 1 x 2 = 2 e 2 x 1 = 2, o que nos leva a entender que 2 = 2 e, dividindo ambos os membros da identidade por 1, chegamos a 1 = 1.
DdAB