01 agosto, 2009

Os do Lado de Cima e o Mal-Entendido

Querido Blog:Não li todo o artigo de Econ. Apl. vol.11 no.3 Ribeirão Preto July/Sept. 2007, intitulado "Keynes and economic development", de A. P. Thirlwall. O que pensei é que "o hábito do cachimbo entorta a boca, ou arranca os dentes, ou ambos". Somewhere, ele-artigo diz na p.450-1:

In his Essays in Persuasion (1931), Keynes described unemployment as unjust and inflation as inexpedient, but 'it is worse in an impoverished world to provoke unemployment than to disappoint the rentier'. In practice, there is no scientific evidence that price stability is a precondition for faster growth (see later), but, in any case, inflation is not the inevitable result of monetary expansion if an economy is growing, and the demand to hold money per unit of income is increasing as monetisation of an economy takes place. The simple quantity theory of money (based on the equation of exchange) tells us that if an economy is growing at 3 percent p.a., and the demand to hold money per unit of income is growing at, say, 5 percent p.a., the supply of money can grow at 8 percent p.a. without prices rising. This can be appropriated by governments for investment purposes.

E é isto que desejo comentar. Faço-o porque vejo muita gente sugerindo que alguma inflação é razoável e até benévolo para o crescimento econômico. Meu argumento do grau de benevolência da inflação, ou seja, o club da maldade desencadeado por ela, é que -ao destruir preços relativos etc.- ela destroi principalmente o orçamento público e as propridades sociais nele estabelecidas. No Brazil, a indústria das emendas é um dos maiores nichos de alojamento da corrupção e da fixação das relações espúrias entre os poderes executivo e legislativo. O judiciário terá lá suas ladroagens por outros motivos...

Bem, neste caso, a frase "there is no scientific evidence that price stability is a precondition for faster growth" é um amontoado de sandices. Quais são as condições de contorno dos países de inflação alta e sua performance quantitativa? Os preços relativos não variam com a inflação? Eles não seriam bons indicadores dos rumos das indústrias crescentes? Ou o autor fala apenas em crescimento agregado? Recolhi vastíssima evidência científica oposta à citada em inglês. Invertendo o raciocínio, deveremos indagar com muita seriedade: "is there a simple tiny little iota of evidence that price convulsion is necessary for growth?" Esse pessoal do hemisfério lá de cima...

Ok, resolvido o problema do "os de cima" do título da postagem abrilhantada pela Sra. Maynard e seu cachimbo. Passemos agora ao "mal-entendido". Até o hífem não está lá muito bem digerido... Vejamos o que diz ele-autor: "[...] it is worse in an impoverished world to provoke unemployment than to disappoint the rentier". Por que seria selecionado o rentista e não o aposentado, como é meu caso, por exemplo? Será que Keynes, que induziu Richard Stone e James Meade a trabalharem na contabilidade social, não saberia lá que esta frase é válida apenas para a economia fechada e sem governo, ou combinações equivalentes?

Por fim, haverá elogios. Ligar os problemas do desenvolvimento econômico com a identidade da "equation of exchange" é aceitar plenamente o problema da transformação dos valores em preços, o qual foi resolvido por Marx no final do capítulo 1 de sua Opus Magnum. Ou seja, o valor das mercadorias é precisamente o quanto podemos apurar ao mensurarmos a quantidade monetária produzida no período. Como M x V depende de M e ainda M x V = P x Q na "equation of exchange", segue-se logicamente que -se M aumenta- então ou P ou Q ou ambos aumentarão.

(Ou ainda, caso levantado pelo Gato Félix numa revistinha que li ainda no tempo de Campo Grande, ou era outro gato?, M pode aumentar, Q pode cair extraordinariamente e P pode manter manter precisamente o nível desejado pelo consagrado autor do artigo da revista de Ribeirão Preto.)
DdAB

Nenhum comentário: