29 agosto, 2009

CPMF é o fim! Mas antes tem a CNSP...

Querido Blog:
Recomendo que todos os brasileiros e brasileiras, ou seja, todos, façamos com a maior urgência:
.a. curso de português (patrocinado pelo MFP - Movimento Me Faz Próclise, Te Chamo de Castelhano).
.b. curso de teoria da escolha pública.

A pessoa que calorosamente ilustra esta postagem é o Deputado Luiz Roberto Ponte, não confundir com o Deputado Raul Pont, já objeto de benévolos comentários em passado recente. Ponte -não confundir com Pont, nem Dupont com Dupond- tomou a iniciativa, quando era deputado, que não é mais, de ciar a CPMF - contribuição para as movimentações financeiras, UIDDMV - um imposto distorcivo dos mais vulgares. Ele, Ponte, nunca ouviu falar em curso de teoria da escolha pública, not to speak of Portuguese. Acho inconcebível que gente do porte dele, de terno e gravata, so to say, entre para a política, eleja-se, reeleja-se, faça milagres e nunca estude seriamente os fundamentos científicos da atividade de formulação das políticas públicas. Seja como for, ele deixou discípulos qualificados.

Na p.16 de Zero Hora de hoje, vemos:

O ano que vem será pior do que este ano para o SUS em termos de orçamento. A saúde não é prioridade da área econômica, e a criação da CSS [Contribuição Social para a Saúde, o novo CPMF] é um mal necessário.

Diz isto, diz ela, o Depudado Federal Darcísio Perondi, presidente da Frente Parlamentar da Saúde. Trancafiá-lo num curso de teoria da escolha pública é o mínimo. Que quer dizer que o orçameanto do SUS enfrentará o pior ano? Que o deputado é incapaz de melhorar a dotação orçamentária para estes fins no orçamento geral do governo, não é isto? Que é "área econômica"? Esta é a retórica do momento para dizer que é sei lá quem, alguém que modifica as prioridades da lei do orçamento? Saberá o deputado Perondi, como sabê-lo-ia in due time o Ponte e, by the way, o Pont que existe uma lei do orçamento, na qual a sociedade organizada deveria expressar suas prioridades?

E basta isto? Não, claro que não. Por participar do Conselho de Justiça e Segurança (que rejeitou minha proposta de sugerir o cumprimento da lei 10.835/2004) do bairro Menino Deus, vim a saber o que diz uma proposta da Conferência Nacional de Segurança Pública, que também tem por ambição criar uma rede comunitária tão forte quanto a que ampara o SUS, ditou:

Diminuir a desigualdade social por meio da geração de emprego e renda, com melhoria do salário mínimo e da habitação. Incrementar políticas de formação profissional; garantir o acesso às políticas públicas de inserção social; incentivar a economia solidária; promover a instalação de centros profissionalizantes; reduzir impostos para as empresas que contratem adolescentes aprendizes; dar incentivos fiscais as indústrias e empresas para proporcionar oportunidades aos jovens através de capacitação e estágios.

Acho que aqui o uso da língua portuguesa foi mais avaro, num sentido mais cruel. Os rapazes que redigiram este troço nunca ouviram falar em "renda básica universal". Não sabem que salário mínimo é inimigo do emprego, a menos que definamos salário mínimo em outro sentido alheio ao convencional. No longo prazo, é difícil de imaginarmos que uma sociedade altamente capitalizada (racionamento do trabalho por alto salário) terá muito emprego, com jornada de 60 horas semanais, essas coisas. Economia solidária? Nos tempos em que fiz a difícil disciplina de "Trabalhos Manuais", no conturbado ano de 1960, tornei-me especialista em tessitura de sacolas de feira. Até hoje penso que isto poderia ter sediado a "economia solidária": trabalhos manuais e feiras de artesanato. Ora, meu chapa, cá entre nós! E tem mais: adolescentes aprendizes em empresas? O que é isto? Lugar de adolescente é na sala de aula ou na prática de esportes ou no consumo ou produção de obras de arte (inclusive inspirando-se na espantosa criatividade que expressei em minhas sacolas), ou algum ociozinho, por assim dizer. Nunca trabalhando, nunca com trabalho remunerado. São loucos? Outro mundo é possível, sem esta macacada. Acabou? Não, claro, pois ainda tem esta tolice dos incentivos fiscais. Eles ainda rezam pela cartilha de que o mercado de trabalho tem alguma chance de resolver os problemas da vida social brasileira. É a realpolitik em sua versão vulgar, é o jeito que a filosofia econômica do século XIX chega às mentes despreparadas do Brasil contemporâneo.

Faltar-lhes-á português? Saber escrever e saber ler? Vejamos o que diz o Secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul. Na p.63, tá escritinho: "Na última quarta-feira, ao ler sua prestigiada coluna, observei que mencionaste [...]." Ricardo Englert. Substituiu Aod Cunha, ora estudando -entre outras coisas- inglês, nos Estados Unidos da América. Pensei: não pode ser "prestigiada", tem que ser "prestidigitada", ou se "tu" rima com "tutu", então "seu" rima com "romeu". Neste caso, concluí triunfante que "sua prestigiada coluna" não pode ser a do colunista que a "mencionaste". Português, para quem já sabe escolha pública. Escolha pública para quem já sabe português. E revisões sistemáticas e periódicas de ambos para ambos, em qualquer caso.

A nova CPMF e os erros de português são o pior de hoje no mundo jornalístico? Não, claro que não: esse troço de meter crianças nas fábricas é o máximo! Acho que pior que isto só mesmo se a temperatura, como anunciado, subir a 360 graus.
DdAB

2 comentários:

Anônimo disse...

Afora seus brilhantes comentários, so posso acrescentar que há muitas coisas ditas aqui sobre a mesma coisa.

hahahaha

Nao sou um bom consumidor da ortografia, muito menos conheço todos os remendos da escolha publica, mas sigo no caminho de entender este confusao

hahaha

abraços

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Aê, Daniel: num país que mudou a ortografia três ou quatro vezes em menos de um século, não é fácil mantermo-nos a par com as mudanças. Tanto o provam os milhões de erros de português em tudo o que se escreve no Brasil. Isto não deve desencorajar-nos de escrever "corretamente". Eu penso que, de tanto ler textos que usem as novas regras, hei de incorporá-las. A relativamente fraca divulgação da teoria da escolha pública é um sério defeito tanto dos livros-texto de microeconomia quanto, principalmente, dos responsáveis pela montagem de currículos de cursos de graduação no Brasil. Ainda assim, a gente se diverte, hahaha.
DdAB