21 março, 2009

Aristóteles, Marx, Durkheim e o economista

Querido Blog:
Dizque Émile Durkhein (15/abr/1858-15/nov/1917) ditou o seguinte, o que foi entendido por um comentador (mui distinto) deste blog como contendo "[...] elogios [...] à classe dos economistas, em seu "Curso de Ciências Sociais - Lição de Abertura" (1888)". A ilustração acima veio do Google Images quando pedi: "Durkheim". Achei-a simplesinha para explicar o que é um complicado modelo de equilíbrio geral de um sistema aberto.

Esse Sr. Ellahe tem cada uma... Diriam os costureiros de antanho: "É muito pano para pouca manga". Os economistas mais expostos à galhofa achamos vários pontos ("é muito nó para pouco ponto") a comentar, o que nos força (a mim e a meus digitadores) a seguir ponto-a-ponto, desde noé:

1. Diz Émile:
Os economistas foram os primeiros a proclamar que as leis sociais são tão necessárias como as leis da física e a fazer desse axioma a base de uma ciência. Para eles, é tão impossível que a concorrência, pouco a pouco, não nivele os preços e o valor das mercadorias não aumente quando a população cresce, como os corpos não caírem na vertical, os raios luminosos não se refractarem quando atravessam meios de desidade desigual.
2. Diz DdAB:
O sobrenome Durkheim para um francês parece-me elegante vingança para o uso do sobrenome Laspeyres por alemães, para não falar dos prenomes aculturados e importados (ver Étienne Laspeyres, 28/nov/1834-4/ago/1913, o velhinho dos somatórios de p0q0). Dito isto, tentarei dizer algo mais inspirado.
Se o mundo se divide mesmo, como quereria Teeteto, entre necessidades e contingências, e -ainda mais- se as leis da física são necessárias, então as leis da economia também o são, pois ambas são ciências empíricas. Se os fenômenos que a ciência física e a ciênica econômica buscam entender são igualmente contingentes (um universo com apenas 14 bilhões de anos, uma curva de demanda negativamente inclinada), então estamos no mesmo barco.
Se falamos em "se", se...remos forçados a falar em Friedman, Milton. Disse-nos ele: não interessam as premissas, mas apenas as explicações e previsões, pois o modelo funciona "como se" elas -premissas- fossem verdadeiras. Mas não falemos em "verdade". A soma dos ângulos internos de um triângulo tem 180 graus só porque eu quero, o ângulo ferve a 90 graus só porque eu quero, o círculo gira a um binômio cheiro-cor de 360 graus só porque eu quero, e assim por diante. Alguns desses desejos são mais relevantes para algum fim relevante do que outros.
Constatarmos que o universo tem apenas 14 bilhões de anos é uma conquista importante do intelecto humano e -claro- poderia ser diferente. Constarmos que os bens "bem-comportados" têm curvas de demanda negativamente inclinadas é outra, que também poderia ser diferente. Creio que os limites para ambas as proposições residem na mesma lei da física, se bem enumero, a terceira lei da termodinâmica.
Teria havido, depois da necessidade de expansão de um pontinho chamado de "Big Bang", ou sei lá de quê, parece que algumas outras manifestações de necessidades, encordoadas -diriam os integrantes da fieira de carangueijos- a partir dele -Big Bang. Claro que os macacos têm cinco dedos em cada mão e pé por pura contingência, mas tendo-os -nas mão e nos pé- lá eles, nós, seus diletos descendentes temos -necessariamente- essa quantida de digitadores. Falei de Friedman, falta falar de Darwin e da turminha da economia evolucionária, inclusive o sacrossanto Mr. Samuel Bowles, a mais preciosa pérola da evolução do cérebro humano em todos os tempos. Uma necessidade que foge às contingências que perpassam -inclusive- o próprio Big Bang. Ou seja, desconheço o tanto que Durkheim deve ao pensamento evolucionista, ou -em outros termos- desconheço a medida em que os conceitos centrais de "mudanças incrementais e sucessivas" terão influenciado seu pensamento.
Ok, neste caso, é claro que nem todos puderam pensar em tudo. Por exemplo, do parágrafo acima, destaco e analiso:

3. Diz ele:
é tão impossível que a concorrência, pouco a pouco, não nivele os preços e o valor das mercadorias não aumente quando a população cresce, como os corpos não caírem na vertical,
4. Digo eu: o velhinho está errado. Mesmo gigantes como Aristóteles marcaram suas bobeiras. Nada de errado com bobeiras. Mas Ari e Mile estão apenas parcialmente errados:
.a. de fato existe uma lei irrevogável que obriga os preços a serem nivelados (unless haja outra lei ainda mais irrevogável que o impede o nivelamento, por exemplo, o poder de monopólio)
.b. however o valor das mercadorias independe absolutamente do crescimento da população; inté podemos pensá o contrário: quando a população aumenta, o progresso tecnológico é impulsionado por -digamos- leis inexoráveis. Mais progresso tecnológico exige maior ganho de produtividade, o que -inexoravelmente- derrubará os preços. Ou seja, esta maneira de ver a ação da lei do valor e a relação entre valores e preços -que nunca foi capturada adequadamente por gigantes como Harry Stotles e Karl Henrich Marx- escapou -como o burro prá cima da lavoura de azevém- de nosso Émile. Em resumo, se houver uma peneira ou um troço destes, os corpos dos grão de feijão cessarão sua trajetória de caída com verticalização...

5. Diz ele, diz-nos ele:
Não se pode, por decreto, atribuir valor a um produto que não o tem, que não satisfaz a qualquer necessidade (...) todos os esforços dos governos para modificar a seu bel-prazer as sociedades [a economia?] são inúteis quando não são negativos; assim, é preferível que se abstenham. A sua intervenção só pode ser prejudicial; a natureza não tem necessidade deles. Ela segue sozinha seu curso, sem que seja necessário ajudá-la ou forçá-la, supondo, de resto, que isso seja impossível.
6. Digo eu:
Hoje tem uns neguinhos que sugerem que esta postura de "deixa-como-está" é característica dos evolucionistas, ao passo que a de "mexe-que-dá" é dos constitucionalistas. E ou C? A teoria do estado de alfa resolve: a realidade realmente real pode ser modelada por meio de um jogo dinâmico, inserido no capítulo dos "jogos de estratégia forte", ou seja, aqueles em que tu sequer podes escolher entre jogar ou não. Por exemplo, posso escolher respirar ar puro? Por exemplo, posso escolher não pagar imposto? Por exemplo, precisa de imposto? Epa, esta do "precisa" não tem bem o mesmo caráter. Mas não é má pergunta. Como é que Durkheim trata da questão hobbesiana do "estado da natureza"? Não sei se ele dividiria o mundo em comunidade-mercado-estado. Se tem que ter estado, então tem que ter imposto. E não haveria boas razões para imaginarmos que as distorções provocadas (onde? interessa-me falar nas que aparecem no sistema de preços menos do que -no caso- das que concernem à camada de ozônio) no sistema de preços pela tributação seja mais perniciosa ao interesse do menino de rua (digo, do cidadão) do que o poder de monopólio de que desfrutam (a ferro e fogo, em um número expressivo de casos) certas empresas, como a Petrobrás, o City Bank e Bistrot Burgeois (se é que tem um bistrô com este nome em algum lugar e se -em existindo- exerce mesmo odioso poder de monopólio sobre sua distinta clientela).

7. Disse ele:
O economista não diz: as coisas passam-se assim porque a experiência o estabeleceu; mas elas devem passar-se assim porque seria absurdo passarem-se de outro modo.A palavra 'natural' deveria ser substituída pela palavra 'racional' [...]. 8. Digo eu:
Esta é boa. Hoje em dia, dá-se um valor dos diabos às teorias axiomáticas, atribuindo-lhes -neste lamaçal de ciências empíricas que envolve da física à pedagogia- maior status do que -digamos- hoje damos à chamada "escola histórica alemã" e outros neguinhos que negavam qualquer papel à teoria na explicação deste mundinho. Ou seja, voltamos em alguma medida ao "as if" friedmaniano. Se o neguinho age como se fosse racional, então ele é obrigado por leis irrevogáveis a fazer tal ou qual escolha, sempre que exposto a tais ou quais restrições. Ou seja, matematicamente, há uma equação-objetivo (a ser maximizado ou minimizado) e restrições. Por exemplo, a empresa quer maximizar sua produção, mas o que impede o Bistrot citado a oferecer 14 bilhões de refeições por ano? Eu diria, com cautela, que é sua linha de custos, que -por seu turno- depende dos preços dos insumos usados para a produção da bóia servida no bistrô. Esse papo de agir "naturalmente" é característico de quem não passou os apertos que todos nós passamos quando estávamos confinados a um pontinho carregado de coisas, a que chamei de Big Bang, por desconhecer-lhe o nome e estar evitando usar a expressão "Aleph".

9. Disse ele: Todavia não exageremos o mérito dos economistas. [eles]... se detiveram no meio do caminho, porque estavam mal preparados para esse tipo de estudos.
10. Digo eu: Estavam mal preparados? E hoje, tu acha que melhorou? Eu acho que sim, mas apenas por uns poucos séculos (se não apenas semanas). Vão rir-se de nós (e mesmo de Samuel Bowles) como hoje rimos de gigantes como Aristóteles, Karl Marx e Émile Durkheim. Guardo em mim o desejo de rir por último, mas já vou avisando que reservo-me o direito de não fazê-lo, pois sei que mesmo os mais minúsculos anões, quando postados sobre o topo das cordilheiras do conhecimento, enxergam mais longe.
DdAB

4 comentários:

Unknown disse...

Grato(a) pelas tantas mangas com que o Sr. me brinda, em razão do meu comentários de tão poucos panos, Professor. Como ja declarei aqui neste blog, eu sempre aprendo com o Sr., embora preferisse não fazê-lo aos fins de semana, por puro direito à preguiça.

Prof Shikida disse...

sumido, heim duilio? link p vc no meu blog...abraço

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

O tchê: quem é Cláudio? Machado? Carneiro? Einloft? Eckhard? Shikida? Adalberto? Outro autor de ficção?
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Se é o Shikida, notou que meu dedo indicador da mão direita aponta para a esquerda? ou tudo agora está ao contrário?
DdAB