20 janeiro, 2009

Solstício de Janeiro + DeLong 2bis

Querido Blog:
Que te deu que escreveste em azul? Tenho três temas, por hoje. Primeiro, hoje é um grande dia para a humanidade: renovam-se as esperanças de avanço na sociedade mundial, uma vez que toma posse como presidente dos Estados Unidos o Sr. Barack Obama, muito festejado como um novo Kennedy, um novo Roosevelt. Sempre respeitei ambos, os três podem bem mudar o mundo, cada um à sua maneira.

Segundo: fui enviado, como vemos no comentário de Sílvio e Ana à postagem de ontem, ao site http://astro.if.ufrgs.br/dia.htm, de onde retirei a figura acima. Claro que ela não prova que o dia tem 24 horas, nem que a noite mais longa ocorre em 19 de janeiro, com 20h26min do horário brasileiro de verão. Mas é certo que a figura selecionada ilustra que o dia mais longo não é outro que o do solstício de verão. Vemos, desde seu very beginning -diria o Sr. MdR- que janeiro tem os dias descrecentes até o solstício de inverno, a ocorrer no previsível mês de junho/2009 et per secula seculorum. Que terá dito o jornal Zero Herra sobre isto na papelada de hoje? Vejamos: na p.34, diz-que o poente rolou (cf. hora da postagem) às 20h25min.

Dito isto, digo mais. Digo que, antes de falar no terceiro elemento do novo consenso macroeconômico de Bradford DeLong, preciso dizer uma coisinha sobre o segundo ponto dele. Ou seja, meu terceiro assunto é uma continuação ao segundo ponto. Repito: Bancos centrais devem tentar manter a economia perto do pleno emprego provocando o aumento dos ativos quando ela começa a ameaçar o aumento do desemprego. É precisamente esta tecnicalidade que pretendo comentar, para benefício do leitor não lá muito enfronhado nas coisas da macroeconomia intermediárias lá do livro dele DeLong.

Pleno emprego bem sabemos o que é: todo o mundo que quer trabalhar encontra colocação. O Prof. Milton Friedman, desalmado por morte, mas também um tanto ironicamente desalmado enquanto vivo, dizia que "there is no such a thing as unemployment", pois -se o salário baixasse o suficiente- algumas pessoas desistiriam de procurar trabalho, e o desemprego cairia. Ou seja, desalmado... Ou seja, sabemos que, no Brasil, não se pode falar em pleno emprego nunca de núncaras, pois há 22 milhões de cidadãos detentores de puro desemprego ou emprego precário. Enquanto houver um papeleiro, não poderemos falar em emprego, pois o emprego precário do papeleiro é, naturalmente, desemprego!

Ok, dito isto, vejamos oque quer dizer que o preço dos ativos provoca o desemprego. Este era o ponto que eu queria mencionar, antes de ir para o terceiro item do consenso. O mercado monetário é irmão siamês do mercado de títulos. No mercado monetário, como em qualquer mercado, as forças da oferta (monetária) e da procura (monetária) interagem e determinam o preço (no caso, a taxa juros) do bem nele transacionado, nomeadamente, o dinheiro. Por isto ele se chama de mercado monetário, não é? E dinheiro tem preço? Claro, a taxa de juros, como acabo de -sutilmente- sugerir. Como sei que é assim? Imagina que tens R$ 100 para aplicar. Se eu te peço este dinheiro emprestado e prometo pagar R$ 99 daqui a um ano, dificilmente acederás a meu pedido. Se, ao contrário, ofereço R$ 101 ou mais, estarei pagando o preço de 1% de juros ou mais, o que pode levar-te a aceder ao convite. Ou seja, dás-me 100 e devolvo-te 101, ou seja, paguei R$ 1 de juros, ou seja, 1%.

Imagina agora que eu peguei teus R$ 100 e deixei-te com um título (este é o nome do troço, um pedaço de papel, chamado por alguns simplesmente de "papel" mesmo e por outros de "ativo") no valor de R$ 101 a vencer daqui a, digamos, um ano. Se tu perceberes que não podes viver sem teus R$ 100 durante um ano, o que podes fazer é vender o título de R$ 101 que te dei, circunstância que te levará a receber R$ 100, ou seja, o preço do título. Agora, esqueçamos que te dei o título de R$ 101 em troca de R$ 100 em dinheiro. Imaginemos, ao contrário que o Dr. Meirelles, presidente do Banco Central decidiu elevar os juros para 10%. Neste caso, eu tenho em minhas mãos um título de R$ 101 que posso vender no mercado por 101/1,1 ou seja, uma quantia que, multiplicada por 1,1 gere os 101 daqui a um ano. Ou seja, agora o novo preço do título não é mais de R$ 100, mas sim de R$ 91,82. Em outras palavras, se a taxa de juros sobe, o preço dos ativos (não era "dos títulos"? era, claro, o que é sinônimo) cai. Ergo quando o governo acha que a taxa de juros está ameaçando o emprego, ele reduz a taxa de juros, elevando -ipso facto- o preço dos títulos. Assim, como é que ele -governo- vai aumentar os preços dos ativos? Ele -governo- deverá baixar a taxa de juros.

Só que, se a taxa de juros descer mais baixo do que a cola de um burro, apenas burrinhos não sabem que ingressaremos no que o Mister John Maynard Keynes chamou de "armadilha da liquidez", ou seja, os preços dos títulos estão fortemente elevados que ninguém os quer, esperando para comprá-los que seus preços baixem. Caso típico da inutilidade da política monetária (ou seja, do mercado monetário) e hora de gastar no mercado de bens (por exemplo, implantação do Programa de Criação da Brigada Ambiental Mundial, Seção Brasileira, com empregos para os 22 milhões de precários, if you know what i mean:
.a. três horas de ginástica
.b. três horas de aula (empreendedorismo)
.c. três horas de trabalho comunitário.
Com estes $$$ ingressantes na economia, haverá mais demanda (real, ou seja, bens ou serviços) por sorvetes, cachaça, viagens à Disneilândia, aulas de balé, chiclé balão, e por aí vai. Com isto, a negadinha que estava empregada na indústria de alimentos (chiclés, acredita?) manterá seus empregos e o empresário poderá, descansadamente, pensar em elevar a produtividade botando-os para a rua, do mesmo jeito. Quer um pedacinho de chiclé?
Pois pega aí a matéria-prima da "goma de mascar" e faz um para ti, sô.
DdAB

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